segunda-feira, fevereiro 20, 2012

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Cristo, DJ no baile das gerações


Por Hermes C. Fernandes

O que provoca o abismo entre as gerações é o contexto cultural em que elas vivem/viveram. Os filhos argumentam: Meus pais são de outra época. Eles não me entendem. Já os pais reclamam: Meus filhos não me escutam. Os tempos são outros. Antigamente, acreditava-se que o prazo de uma geração era de 40 anos. 

Hoje, verificamos que o espaço de uma década já é suficiente para que haja dificuldade de comunicação entre gerações. A distância diminui, mas o abismo se aprofunda. Cada década tem seus modismos, suas gírias, seu vocabulário próprio. As mudanças tendem a se acelerar. Não só as mudanças culturais, mas também as tecnológicas. O que para minha geração era uma novidade, para a geração dos meus filhos é algo corriqueiro.

João, o Batista, era o remanescente de um Era que já havia se encerrado. Entre a geração que ele representava, e a geração de Jesus, da qual era contemporâneo, havia um hiato de pelo menos 400 anos. Se hoje, dez anos já é tempo suficiente pra que haja uma ruptura na forma de pensar e se comunicar entre gerações, imagine o que são 400 anos! É claro que naquela época as mudanças eram mais lentas em comparação às de hoje. Poderíamos dizer que aqueles 400 anos equivaleriam a 100 anos de hoje. Como era o mundo há 100 anos? Como viviam nossos tataravôs? Quanta coisa não mudou de lá pra cá? De fato, aqueles 400 anos representavam um abismo intransponível. João Batista era uma voz profética que se levantava no mundo, depois de quatro séculos de silêncio absoluto.

Ele era o último expoente de uma espécie em extinção. Até seu modo de vestir era considerado excêntrico para sua época. João vestia-se como um homem das cavernas. Enquanto seus contemporâneos se vestiam de linho, sua roupa era feita de pele de camelo. Enquanto a dieta da população era à base de pão, peixe e cordeiro, ele se alimentava de gafanhoto e mel. Seria como alguém hoje que insistisse em usar calças boca-de-sino, costeletas à la Elvis Presley, e sapato cavalo-de-aço. Só os mais antigos sabem do que estou falando.

Já Jesus representava o novo, o inédito, o rebelde, a vanguarda. Mesmo que culturalmente contextualizado, poderíamos afirmar que Jesus vivia muito além do Seu tempo. Suas mensagens eram recheadas de conceitos que só seriam compreendidos séculos mais tarde.

Quem assistiu ao filme “De volta para o futuro”, deve lembrar-se daquela cena em que Marty McFly, vindo do futuro, sobe ao palco para tocar guitarra no baile de formatura de seus pais. Ele começa tocando “Johnny Be Good”, canção típica da época (anos 50), mas no final, ele se empolga, e faz um solo com a guitarra distorcida, bem ao estilo dos anos 80, de onde ele vinha. A platéia fica embasbacada diante de sua performance nada convencional. Após seu último acorde, ele se desculpa com todos dizendo: Seus filhos vão adorar isso!

Jesus e João, embora fossem primos, representavam duas Eras distintas. Cada um tinha seu próprio ritmo e melodia.

Denunciando aquela geração que testemunhou o ministério de ambos, Jesus deixa nítida a distinção entre eles:
“Mas, com quem compararei esta geração? É semelhante a meninos que se assentam nas praças e gritam aos seus companheiros: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes. Pois veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo de cobradores de impostos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por suas ações” (Mt.11:16-19).
Usando terminologia recente, era como se Jesus dissesse: "Pôxa, a gente tocou um blue, e ninguém chorou. Daí, a gente toca um rock, e ninguém dança?!" Aquela era uma geração que não se satisfazia com nada. Acho que não era tão diferente da nossa. Enquanto João representava o passado, e Jesus o futuro, aquela geração vivia no fosso representado por um presente desprovido de esperança. Por isso, era incapaz de chorar se lamentando pela glória do passado, e igualmente incapaz de dançar ao som da flauta que anunciava glórias infinitavamente maiores que o futuro reservava. Para eles, João não passava de um homem esquizofrênico, assombrado e possuído por demônios do passado. Enquanto Jesus era um fanfarrão, amigo de gente suspeita. Eles não percebiam que a mensagem de ambos provia uma ponte entre a glória do passado e a glória do porvir.

Embora João e Jesus fossem tão diferentes em seu estilo, eles jamais tiveram qualquer atrito. É a relação bem sucedida entre eles que deve nos servir de referência para que vivenciemos uma conversão entre a nossa geração, e a geração de nossos filhos e/ou pais.

Jamais houve um choque entre eles, ainda que tenha havido situações que poderiam ter provocado uma indisposição recíproca. Nos próximos artigos sobre o tema “Conflito entre gerações”, vamos examinar mais profundamente a relação entre o último dos profetas e o Mestre.

P.S.: Este é mais um capítulo do meu livro sobre o conflito de gerações. Conto com a opinião e sugestões de todos os meus leitores para aperfeiçoá-lo.

5 comentários:

  1. Anônimo4:23 AM

    Muito lúcido o texto. Entretanto, a tensão pertinente ao assunto é praticamente intrínseca, embora enfrentá-la com amor e moderação seja uma alternativa cristã. Vejo essa iniciativa no texto.

    No âmbito social temos uma dispersão pós torre de Babel contemporânea. No âmbito de igrejas cristãs chamadas protestantes, muitos resquícios de autoritarismos, tentendo aos distorcidos "marcos antigos" proverbiais como símbolo ascético.

    Nas relações familiares cristãs também muito se vê nesse sentido. Pregamos nos púlbitos a submissão total dos filhos (das mulheres idem), mas esquecemos que os versos seguintes de cada passagem equilibram a relação. Sem habilidade e capacitação para enfrentar o problema do conflito de gerações, o uso da força tem se mostrado um agravante.

    Uma boa maneira de começar e refletir a respeito é pelo prisma da graça, recorrendo à pluralidade que nela temos em Cristo Jesus. Que Deus seja contigo e pela graça que te foi dada escreva-nos para ser canal de pacificação nesse cabo de guerra.

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  2. Querido Hermes.
    Da uma força aí publicando a petição pública com o abaixo assinado contra a distribuição do kit gay.
    Abração.
    Paz!
    http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=PROL

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  3. O que vejo é pais pilantras, beberrões, adultéros, sem amor próprio, amante de si mesmo, filhos mal educados sem limites, Arrogântes, violentos, desobediêntes as leis e as autoridades, mães adultéras, preguiçosas só querem mordomias do marido, má dona de casa.
    E o que vemos todos os dias, pai matando filho, filho matando pai, filho estrupando a própria mãe. Pai tendo filho com a própria filha, E daí por diante.
    Que podemos esperar mais hem?
    Se o pai e a mãe não tiver o temor de DEUS, e santificar suas vidas Nele, e educar seus filhos nos caminhos do Senhor, ainda há esperaça para seus filhos.
    Se não for desta meneira, falando curto e grosso: Os seu filhos serão presas fácil e adotados por traficantes!
    Terão dois caminhos, cadeia ou morte.

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  4. Paz do Senhor meu amado irmão, bela postagem, amei muito seu blog.
    Aproveito a aoportunidade e convido voce a nbos visitar e se possivel nos seguir no http://luzevida123.blogspot.com/ Obrigado e Deus abençoe voce e sua familia.

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  5. Com esse texto lembrei de algo: quando pegamos um hino do Novo Cãntico para cantar na Igreja, o carinha do violão não curte muito, reclama e blá blá blá, quando é mais novo algo mais novo, que no caso, até eu gosto mais, a Igreja não canta, devido a faixa etária da minha Igreja, tentamos sempre dosar. Mesmo que não curta tanto alguns, gosto de cantá-los porque a Igreja participa mais e, afinal de contas, é o mento congregacional de louvor com músicas. Nas minha casa ouço o que eu quiser.

    Esse conflito de gerações é algo que precisa muito ser discutido. As pessoas vivem em extremos e ninguém quer ceder ou comprender, quiçá somar. O que importa e destruir o outro ponto de vista, ou melhor, modo de vida, por assim dizer.

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