quarta-feira, junho 04, 2014

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O Capitalismo selvagem e sua irmã siamesa, a Teologia da Prosperidade



Por Hermes C. Fernandes


“Pois eu, o Senhor, amo a justiça; odeio o roubo e a iniqüidade.” ISAÍAS 61:8A

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.” Paulo Freire


Há um grave mal-entendido sendo difundido entre os cristãos contemporâneos. A concentração de riquezas jamais foi sinal de bênção e aprovação divinas. Pelo contrário, é um sinal claro da injustiça prevalecente no mundo. Deus jamais aprovou tal modelo. Pelo contrário, Sua Palavra o denuncia freqüentemente, conclamando os homens à prática da justiça.

“A vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias. E esperou que exercessem justiça, mas viu opressão; retidão, mas ouviu clamor. Ai dos que ajuntam casa a casa, e reúnem herdade a herdade, até que não haja mais lugar, e fiquem como únicos moradores da terra (...). Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal, que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade, que põem o amargo por doce, e o doce por amargo”. ISAÍAS 5:7-8,20

Nesta passagem encontramos uma dura advertência aos que almejam acumular riquezas, e que para justificar seu monopólio, subvertem valores. Chamam “certo”, o que Deus diz ser “errado”.

Em uma sociedade capitalista, em que o capital tem supremacia sobre o trabalho, enriquecer às custas do trabalho alheio é visto como um sinal de esperteza, de sagacidade, de inteligência.

Infelizmente, assistimos à igreja sucumbindo a este espírito. Pastores bradam de seus púlpitos que o crente deve almejar ser patrão, em vez de conformar-se em ser empregado. Deve ser “cabeça” em vez de “cauda”. O problema não está em motivar as pessoas a melhorarem sua condição econômica. Não há nada de errado em querer ascender socialmente. O problema é quando esta ascensão é desejada apenas pelo glamour, pela vaidade, desprezando a responsabilidade social que ela demanda.

Ao estimular seu povo a ascender socialmente, o pregador deveria focar as oportunidades de trabalho que um empregador poderia criar, diminuindo assim o alto índice de desemprego, e conseqüentemente, a criminalidade. Mas em vez disso, enfatiza-se apenas o conforto material e social que tal ascensão poderá promover a ele e à sua família.

Testemunhos são colhidos de pessoas que usam suas conquistas materiais, como a aquisição de um carro luxuoso, ou uma cobertura de frente para a praia, como aferidor de sua fé. Ainda não vi um pastor perguntando a tais empresários emergentes, quantos foram beneficiados através de sua prosperidade.

A advertência profética diz que Deus esperava que Seu povo exercesse justiça, mas viu opressão, retidão, mas ouviu clamor. Este é o tipo de clamor que Deus jamais gostaria de ouvir. E de quem seria este clamor? Daqueles que são explorados por quem almeja concentrar riquezas. Por isso Deus adverte o Seu povo:

“Não explorarás o assalariado pobre e necessitado, seja ele teu irmão, seja ele estrangeiro que mora na tua terra e nas tuas cidades. No mesmo dia lhe pagarás o seu salário, para que o sol não se ponha sobre a dívida, pois ele é pobre, e disso depende a sua vida; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado”. DEUTERONÔMIO 24:14-15

A expressão “Ai” encontrada em algumas advertências divinas, tem como propósito ressaltar a seriedade e o rigor com que Deus trata certas injustiças.

“Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça, e os seus aposentos sem direito, que se serve do serviço do seu próximo sem paga, e não lhe dá o salário do seu trabalho”. Jeremias 22:13

Deus está sempre atento ao clamor dos injustiçados! Embora seja um clamor que Ele preferia jamais ouvir. Tiago denuncia: “Vede! O salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que por vós foi retido com fraude, está clamando. Os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor Todo-poderoso” (Tg.5:4). Entretanto, Deus se recusa a ouvir o clamor dos exploradores; daqueles que trabalham com o único intuito de concentrar bens, e que para isso, não hesitam explorar seu semelhante:

“A vós que aborreceis o bem, e amais o mal, que arrancais a pele de cima deles, e a sua carne de cima dos seus ossos, que comeis a carne do meu povo, e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis como para a panela, e como carne do meio do caldeirão. ENTÃO CLAMARÃO AO SENHOR, MAS ELE NÃO OS OUVIRÁ, antes esconderá deles a sua face naquele tempo, visto que eles fizeram mal nas suas obras.” MIQUÉIAS 3:2-4

Os ricos deste mundo precisam acordar para o fato de que todas as nossas obras são sementes, que mais cedo ou mais tarde, resultarão em colheitas. Oséias os denuncia, dizendo que “eles semeiam ventos, e colhem tormentas” (Oséias 8:7a). Toda a injustiça praticada pelas elites brasileiras, tem resultado numa escalada da violência sem precedentes na História deste país. Os mesmos que se negam a pagar um salário justo a seus empregados são obrigados a gastar fortunas em segurança, blindando seus carros, colocando sistemas de alarme caríssimos em suas residências, e contratando equipes de vigilância.

Deus está exercendo juízo sobre essa elite indiferente, que enriquece às custas da injustiça feita ao trabalhador:

“Chegar-me-ei a vós para juízo, e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o trabalhador, e pervertem o direito da viúva, e do órfão, e do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos.” MALAQUIAS 3:5

O Reino de Deus está sempre na contramão do sistema deste mundo. Por isso, podemos afirmar que a mensagem do Reino é a mais subversiva jamais pregada.

Por que há tão poucos em posse de tantas riquezas, enquanto grande parte da humanidade vive abaixo da linha da pobreza? Como poderíamos reverter isso? Através da pregação do Reino de Deus. Mas não devemos nos ater a pregar a mensagem. Precisamos encarná-la, trazê-la da teoria para a prática. Em outras palavras, precisamos semear justiça, onde até hoje só se semeou opressão e exploração.

“Semeai para vós em justiça, ceifai o fruto do constante amor, e lavrai o campo de lavoura, porque é tempo de buscar ao Senhor, até que venha e chova a justiça sobre vós.” OSÉIAS 10:12

Veja que semear em justiça é sinônimo de buscar ao Senhor. Ainda que as mudanças não ocorram com a rapidez que desejamos, não podemos nos cansar de fazer o bem, até que “chova a justiça”. Aqui vale a admoestação apostólica: “Não vos enganeis: Deus não se deixa escarnecer. Tudo que o homem semear, isso também ceifará (...). E não nos cansemos de fazer o bem, pois a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Então, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”(Gl.6:7,9-10). E o escritor de Hebreus complementa: “Não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com outros, pois com tais sacrifícios Deus se agrada” (Hb.13:16).

Cada vez que praticamos o bem, e repartimos com alguém aquilo que o Senhor nos deu, estamos semeando no Reino de Deus. Em breve, a chuva virá, e toda a Terra será renovada.

“Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Deus fará brotar a retidão e o louvor perante todas as nações.” ISAÍAS 61:11

Tudo o que Deus nos concede é com o fim de abençoar aos que nos cercam. Não temos o direito de concentrar nada em nossas mãos.

Publicado originalmente em 20/08/2009

8 comentários:

  1. Paz bispo!

    Parabéns pela excelente reflexão. Sem dúvida, a melhor que li nas últimas semanas. Sua mensagem é um alerta também anós, blogueiros zelosos pela verdade, que muitas vezes nos prendemos a uma ortodoxia, e esquecemos da ortopraxia. A boa teologia deve refletir em obras assistenciais, amor abnegado e responsabilidade social.

    Se me der permissão, gostaria de postar este texto no Púlpito Cristão amanhã.

    Um forte abraço, e que Deus o abençoe,

    Leonardo

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  2. Um texto justo que merece ser amplificado. Estarei publicando no Verbo Primitivo dando-lhe os devidos créditos.

    Abraços.

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  3. Cynthia2:45 PM

    Muito se fala em receber a vitória nas igrejas. Creio que se fizessem um levantamento sobre qual é a "vitória" que muitos estão esperando, não me surpreenderia se a maioria dissesse "um carro", "reforma na casa", "ter minha própria empresa". Seria interessante ouvir "vitória sobre o vício em álcool", "em pornografia", "vitória sobre o apego aos bens materiais" ou sobre a "prepotência".

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  4. MISSIONÁRIO LUIZ5:10 PM

    Bispo Hermes, Paz de Jesus Cristo seja com o irmão e todos os seus.
    Meu irmão amado de Cristo, dois versículos deste belo texto, gostaria de comentar o de
    Isáias 8.8,20; e Oséias 10.12. Amém?
    " AI DOS QUE..."
    Seis ais( e, declarações de julgamento) são proferidos contra seis tipos de pecados:
    1- Cobiça egoísta; leia Isaías 5.8.
    2- Embriaguês; leia Isaías 5.11,12.
    3- Zombaria de descrença no poder de Deus para julgar o pecado; leia Isáias 5.18,19.
    4- Corrupção dos padrões morais de Deus; leia Isáias 5.20.
    5- Arrogância e orgulho; leia Isáias 5.21.
    6- Perversão da justiça; os ais de Jesus Cristo contra os hipócritas da religião; leia Isáias 5. 22,23; e Mateus 23.
    " AO MAL CHAMAM BEM." Isáias 5.20.
    É comum a sociedade exaltar o pecado, chamando a deparavação de força varonil, de virtude autêntica e de liberdade elogiável.
    Ao mesmo tempo a sociedade opõe-se à retidão, tachando-a de maléfica.
    Dois exemplos conhecidos, a respeito do assunto em pauta.
    1- A perversão sexual( e, do homossexualismo e do lesbianismo), a sociedade considera um modo de vida alternativo legítimo, que deve ter aceitação pública, enquanto os que condenam tal conduta, por observarem as normas bíblicas da imoralidade sexual são chamados de intolerantes e defensores de um preconceito opressor.
    2- Os defensores do aborto, a sociedade os chamam de pessoas "sensíveis", dedicadas com afinco aos direitos da mulher, ao passo que os defensores da vida, a mesma sociedade os chamam de "extremistas" ou "fanáticos religiosos".
    Quanto ao cristão, este deve, em todo tempo, manter-se fielmente e de todo coração, dentro dos padrões divinos do bem e do mal conforme revela a Palavra de Deus escrita.
    Oséias 10.12 " LAVRAI O CAMPO DE LAVOURA."
    Trata-se do "campo de pousio", um solo tão negligenciado e endurecido que é incapaz de acolher a semente.
    Assim estava o coração do povo em relação à Palavra de Deus; veja em Oséias 10.13; O MESMO ACONTECE COM O POVO DE HOJE, UM SOLO, UM CORAÇÃO NEGLIGÊNTE E ENDURECIDO COM A PALAVRA DE DEUS.
    Precisavam ser quebrantados em seus corações e mentes para que viessem a se arrepender e a sentir tristeza pelo pecado, acolhendo plenamente a Palavra de Deus.
    Tinham de semear sementes de justiça no sentido de buscarem sinceramente a Deus, até que voltasse a experimentar seu fiel amor e misericórdia.

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  5. Anônimo1:57 PM

    Muito bom!! gosto desses textos sobre capitalismo e teologia da prosperidade.

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  6. Capitalismo selvagem!
    Teologia da Prosperidade!
    Paulo Freire!

    Esqueceu-se do Socialismo genocída.
    Da Teologia da Libertação.
    E de Jesus Cristo.


    Hermes, com todo o respeito, não tem como esconder de qual fonte você e o Danilo tem bebido.

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  7. Anônimo3:43 AM

    Conheço uma história de prosperidade!!
    O casal era discípulo e amigo de um casal de pastores (de uma denominação dessas ...), deram a própria cama, quarto e casa para a lua de mel. Assumiam despesas, combustível para levar nas igrejas, viagens, e raras vezes eram ressarcidas. Doaram-se de bolso e coração, compras de mercado, pagamento de aluguel de igreja, plano de saúde, ternos, bolsa, celular e restaurantes.
    O casal de discípulos só não deu o carro, mas fizeram muitas coisas, até que um dia o marido vira empresário pensando que poderia abençoar mais o seu pastor, recebera a palavra que iria ser grande, e realmente continuou prosperando e abençoando seu pastor inúmeras vezes sem conta. E o pastor abençoou vezes sem conta o discípulo indo orar pelo seu negócio. Chegou até aceitar as indicações do pastor, pois não poderia ir contra a palavra do profeta, então as indicações eram amigos do pastor que poderiam trabalhar com seu discípulo-empresário, e chegou até dar a sua palavra como garantia.
    Aconteceu o inesperado, os amigos do pastor deram calote no discípulo trazendo trágicas consequências financeiras, e o relacionamento começou a ficar desgastado. O pastor não cumpriu com a sua palavra e a sua garantia nem foi lembrada (por ele é claro). Quando a maldição chegou de vez e a falência completa, o pastor ainda pede o que resta da empresa para uma reforma no templo, então o discípulo não doou, vendeu. Então o discípulo experimenta a pobreza e conta com a graça de Deus, o pastor paga o que comprou, fica ofendido por isso e desiste de pastorear o discípulo e ainda o culpa de ter falido porque em algum momento não ouviu conselhos que ele deu para não abrir o negócio.
    O discípulo diante da situação de abandono pastoral, agora pobre, sem casa, sem carro, sem dinheiro, sem trabalho e dignidade, durante um período vai atrás de outra igreja e se desliga amigavelmente do seu querido pastor.
    Um ano após recebem novamente uma ligação e uma chamada para congregar em nova igreja em que o pastor estava participando. O discípulo resolveu dar mais uma chance. Mas não deu certo porque o pastor nesta ultima igreja foi demitido, e o discípulo preso na sua palavra que dera a sua família, não foi com ele.
    Meses após, depois que os ânimos acalmaram, o discípulo procurou seu amado pastor para reatar o contato e reconciliar os maus entendidos. Sem dó e piedade foi condenado pelo pastor por dar prejuízos e acusado de deslealdade, de traição por não ter acompanhado seu pastor. Sendo assim, o pastor foi questionado pela sua ausência no passado e ele se justificou: você não era minha ovelha. O pastor queria que o discípulo pedisse perdão, mas como ele não pediu , o pastor o liberou!! O discípulo mesmo sofrendo se sentiu aliviado!
    Tempos mais tarde eles se encontram e o pastor pede perdão ao discípulo por suas palavras, mas nunca mais se viram. O relacionamento morreu. O discípulo está prosperando em seu novo trabalho, mas sua família está machucada. Hoje a família do discípulo tem dificuldades de permanecer em uma igreja, é “quase” uma família desigrejada, amargurados? Não. Medrosos? Não. Só estão procurando não errar novamente nas suas escolhas, já que a culpa era deles por ter escolhido errado. Agora estão a procura de uma igreja aonde podem ser amados sem ser cobrados a prosperar , sem ser usados e abusados novamente. Será que vão encontrar esta igreja? Será?

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  8. Anônimo3:22 PM

    Bom texto!
    O modelo que devemos seguir ao pé da letra (Ipsis litteris) é modelo da igreja primitiva.
    Onde as ofertas eram entregues aos apóstolos e eles as compartilhavam com os necessitados.
    Jesus nos deixou isso claro na multiplicação dos pães e peixes. O que chegou como uma simples oferta em suas mãos, ele as deu aos seus discípulos e os mandou a compartilhar com o povo.
    Acontecendo então o milagre da multiplicação!
    Entregue a Jesus, Administrado pelos apóstolos, beneficiados todo o povo. SIMPLES ASSIM.
    Voltemos ao evangelho.

    Pr. Roberto Nascimento

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