terça-feira, dezembro 02, 2008

0

Brincadeira inconseqüente

Faltou luz. A igreja estava completamente no escuro. Lá fora relampejava e trovoava. O cenário parecia de filme de terror.

Ninguém estava tão apreensivo quanto meu pai. A razão? Ele teria que dar a triste notícia da morte de um dos pastores de sua equipe.

Finalmente, a esposa de Paulo Roberto Ananias chegou.

Por causa da falta de luz, meu pai a convidou a entrar em seu carro. Todos estavam atônitos, esperando sua reação. De repente, no intervalo entre um relâmpago e outro, o grito desesperado de uma jovem mulher, casada a pouco mais de dois anos, mãe de uma criança de colo.

Naquele dia, Paulinho, como era conhecido, convidou alguns amigos da igreja para um passeio em Macaé.

Paulinho foi um dos melhores seres humanos que já conheci. Brincalhão, agitado, muito estudioso, negro, inteligentíssimo. Não tinha uma bela estampa, mas pelo seu carisma conquistou uma linda mulher. Comentávamos nos bastidores que sua esposa era a mais bonita dentre as esposas de pastores. Como ele conseguiu? Brincávamos.

Pouco antes de tudo isso, foi ele quem me incentivou a assumir um cargo de liderança na juventude. Ao me dar um forte abraço, sussurrou que Deus havia me escolhido para aquilo, e que eu assumiria o cargo que ele deixaria vago: presidente estadual da juventude da igreja.

Foi profético.

Era uma tarde ensolarada, e Paulinho se divertia, jogando bola com seus amigos nas areias de uma praia de Macaé, região dos lagos do Rio de Janeiro.

De repente, a bola cai na água, e Paulinho vai buscá-la. Brincalhão como era, começou a fingir que estava se afogando. Os amigos, desesperados, mergulharam para salvá-lo. Mas foram surpreendidos com suas gargalhadas.

Minutos depois, a bola caiu novamente. Mais uma vez ele foi pegá-la, e mais uma vez fingiu estar se afogando. Desta vez, parecia tão real que seus amigos não titubearam, e mergulharam novamente para salvá-lo. Tudo não passava de encenação!

Na terceira vez que a bola caiu no mar, Paulinho saiu correndo para pegá-la. As ondas eram bravas, e ele começou a gritar: - Socorro! Socorro! Estou me afogando!

Ninguém acreditou. Para eles, tudo não passava de mais uma brincadeira de mal gosto. Desta vez, eles não cairiam como das outras.

Mas desta vez, era verdade.

Resultado: Paulinho teve sua vida ceifada na flor da idade.

Que perda! Quanto talento desperdiçado! Tudo por causa de uma brincadeira inconseqüente.

Agora, uma jovem ficara viúva. Um lindo menino de pouco mais de um ano ficou órfão. E a igreja perdeu um dos seus mais promissores pastores.

Toda mentira tem sua conseqüência, mesmo aquela que reputamos como uma brincadeira inofensiva. E quem mente, ou brinca com freqüência, quando diz a verdade, ninguém acredita. Vale a pena viver e morrer pela verdade.

Este ano faz 25 anos que o Paulinho nos deixou. Para quem o conheceu, ele jamais partiu. Não houve quem o conhecesse que não tenha sido influenciado por sua alegria contagiante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário