terça-feira, novembro 14, 2006

0

Agape & Phileo:
O Banquete da Vida
Por Hermes C. Fernandes


Não era em vão que a festa promovida semanalmente pela igreja primitiva era chamada de Agape.[1] Nesses banquetes, as dimensões Agape e Phileo se integravam, proporcionando uma extasiante comunhão entre os irmãos.

Talvez, por causa dos abusos ocorridos nessas agapes, a igreja abandonou sua vocação festeira.

O Deus da Bíblia é um Deus festeiro. Não fosse assim, Ele não teria instituído tantas festas anuais que deveriam ser celebradas por Seu povo Israel.

O próprio Jesus freqüentava festas. Foi numa festa que Ele realizou Seu primeiro milagre. E sabe por quê Ele transformou a água em vinho? Pra que a festa não terminasse cedo.

O Espírito Santo inaugurou Sua Era no dia da Festa de Pentecostes. E Paulo, outro apóstolo festeiro, não poderia dar melhor sugestão do que a dada aos Coríntios: “Pelo que celebremos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asnos da sinceridade e da verdade”.[2]

Vivemos sob uma Nova Aliança festiva. Foi numa festa que Jesus instituiu a Ceia, como memorial festivo, que comemoraria Sua vitória sobre a morte. É nessa Nova Aliança que se cumpre cabalmente a profecia de Isaías, que diz: “Um cântico haverá entre vós, como na noite em que se celebra uma festa santa; alegria de coração, como a daquele que sai ao som da flauta, para ir ao monte do Senhor, à Rocha de Israel”.[3]

Augusto Bergamini pincela: “O homem foi feito para a festa, assim como a humanidade é feita para celebrar o amor, o nascimento, o crescimento, a vida, a morte. Na festa, mais do que em outros momentos, o indivíduo relaxa e se diverte, concentra-se e eleva-se. Na festa, o homem percebe a própria dimensão existencial numa atmosfera de entusiasmo e vitalidade; volta às raízes profundas do seu ser; flui os dons da liberdade, da admiração, da integridade, da esperança, da felicidade, do canto, da música, da dança. Na festa são transfigurados tanto a vida mais humilde como o gesto mais insignificante. O homem contemporâneo, porém, precisa descobrir o sentido autêntico da festa”.[4]

Na Antiga Aliança havia dias santos, reservados para a celebração das festas instituídas por Deus em Sua Lei. Mas no contexto da Nova Aliança, já não há diferença entre dias e dias, não há um calendário fixo de festas. Nesta Aliança definitiva, a vida é a festa. Paulo diz que os dias de festa, os sábados, celebrados pelo judaísmo, eram apenas sombras. “A realidade, porém, encontra-se em Cristo”.[5] Para quem está em Cristo, a vida é uma festa que não tem hora pra acabar. Não é como o carnaval, que depois de alguns dias de folia, deixa pra trás um rastro de cinzas. Na festa de Cristo, as cinzas são removidas, e no lugar delas, é derramado óleo de alegria.

As cinzas apontam para o que sobrou daquilo que foi consumido. O homem sem Cristo, busca festejar para preencher o vazio de sua alma. Ao término da festa, só sobram cinzas. Suas energias foram consumidas, seu entusiasmo se esvaiu. Acabou a festa! É hora de dispersão. É hora de dar adeus aos amigos. Hora de voltar ao tédio do cotidiano. Mas é justamente nessa hora que Jesus Se apresenta. João diz que foi “no último dia, o grande dia da festa” que “Jesus pôs-se de pé, e clamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba”.[6] Em outras palavras: A festa não precisa terminar em cinzas. Em Cristo, nossas energias são renovadas, nossa sede é saciada, e a festa jamais acaba. O show tem que continuar! O show da vida não pode ser interrompido.

“A qualidade de uma festa não se mede pelas coisas que a compõem, pelo consumo, pelo barulho, pelas luzes, pela quantidade de diversão, pela intensidade das gargalhadas, pelo prazer dos sentidos ou pelos elogios recebidos. A festa é uma atitude humana frente à própria vida e a vida do mundo. É a expansão da al[7]ma que fraterniza com todas as coisas a mesma aventura da vida [...] A festa expressa, sobretudo o valor do ser humano, cuja dignidade lhe vem do próprio fato de ser pessoa, não pelas coisas que tem, produz ou consome [...] Através da festa as pessoas superam a tendência e os malefícios da solidão, como o tédio, o vazio, a frustração e o medo, pois a festa refaz os laços com as pessoas e com todas as criaturas”.Não são os contratempos da vida que vão prejudicar o andamento da festa. Se faltou “vinho”, Jesus sabe como dar sabor à água que restou. É a intervenção de Deus, prometida em Sua Palavra, que nos garante que a festa só está começando.

[1] Judas 12 – A expressão “festa de amor” no original é agape.
[2] 1 Coríntios 5:8
[3] Isaías 30:29
[4] Bergamini, Augusto, Cristo, festa da Igreja, p.128-129
[5] Colossenses 2:17
[6] João 7:37
[7] Conte, Hildo, Op.Cit., p.140

Nenhum comentário:

Postar um comentário