quinta-feira, maio 19, 2011

6

A igreja e o debate entre agricultores e ecologistas


Por Claudio Moreira


"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra” (Gênesis 1:26).

Há diversos meses, a sociedade brasileira acompanha com profunda atenção os debates que se travam no Congresso Nacional, em torno do projeto do novo Código Florestal. De um lado, ecologistas defendendo que a legislação permaneça como está, alegando que alterações podem colocar em risco a preservação de nossos recursos naturais, a Amazônia em particular. De outro, produtores rurais alegam a necessidade de uma lei ambiental que possua menos restrições à atividade produtiva, pois estes limites, segundo eles, servem mais para inibir o potencial da competitiva agricultura brasileira do que propriamente proteger o meio ambiente. Trata-se, sem dúvida, de um debate tensionado por dois radicalismos, que precisam encontrar seu ponto de equilíbrio e convergência no Congresso Nacional - aliás, esta é a função fundamental do Legislativo em qualquer democracia.


Trata-se de um tema de importância crucial para o futuro do país, e que por isso mesmo, deveria chamar a atenção dos cristãos. Preservação ambiental e produção de alimentos seriam mesmo questões inconciliáveis? Como a fé cristã trata deste assunto? O que a Bíblia nos diz sobre esse assunto? Quem é mais importante, a ecologia ou a alimentação humana?

O livro do Gênesis nos apresenta um relato poético da criação que é prenhe de significados. Ao entregar a Adão o cuidado do Jardim do Éden, Deus confiou ao ser humano a missão e a responsabilidade de zelar sobre a criação. Nos tempos em que as igrejas não estavam preocupadas demais com a prosperidade financeira de seus membros e ainda se pregavam as doutrinas fundamentais da fé, era comum se falar do tema "Mordomia Cristã", o conceito de que somos "mordomos" de Deus, ou seja, gestores dos bens que Ele, na sua infinita bondade e sabedoria, nos legou. 

Todavia, é a natureza que deve estar a serviço do homem, e não o contrário, como apregoa o “biocentrismo”, corrente científica que não identifica diferenças substanciais entre o homem e os animais. Não se trata de verdadeira ciência, mas sim de uma ideologia a serviço do radicalismo ecológico. Este pensamento se tornou a metafísica mais influente no atual movimento ambiental, que parte do pressuposto que os desequilíbrios ambientais do planeta são "antropogênicos", ou seja, gerados principalmente pelo homem, o que nem de longe é consenso na comunidade científica. 

A Bíblia é profundamente ecológica. Mas não respalda o tipo de ecologia radical que vê o homem como um estorvo ao meio ambiente. Antes, pelo contrário, a fé cristã defende que a natureza pode e deve estar ao serviço do desenvolvimento da humanidade, e que por isso mesmo o uso dos recursos naturais deve ser sustentável. Ou seja, não há dicotomia entre a produção de alimentos e a preservação ambiental, como faz crer o movimento ecológico moderno. 

O tipo de ecologia alarmista que hoje se manifesta, num jogo onde se misturam interesses poderosos e inconfessáveis, tenta impor uma legislação que, na prática, confisca reservas de terra de milhões de pequenos produtores, impedindo-os de ser sinal de luz e esperança num mundo tão necessitado de alimentos. O Brasil, abençoado com uma natureza pujante e uma agricultura de ponta, pode e deve olhar para a inspiração contínua do Evangelho, sendo fonte de alimento para as gerações futuras do planeta. Há quem prefira um país engessado por uma legislação ambiental profundamente restritiva, movimentos cegados para a realidade por uma ideologia que idolatra a natureza em detrimento da dignidade humana. “Não se preocupe com eles. São cegos guiando outros cegos. Ora, se um cego guia outro cego, os dois cairão num buraco” (Mateus 15: 14). 


Deus vos abençoe abundantemente.



Claudio Moreira (Título Original: O Meio Ambiente e a Produção: o que a Bíblia diz?)


Comentário de Hermes Fernandes: Pena que a igreja atual esteja tão engajada em questões de ordem moral, que acabam perdendo de vista outras tão ou mais importantes que elas, pelo menos do ponto de vista da sobrevivência humana e sustentabilidade. Congratulo-me com o Rev. Claudio Moreira por sua lucidez e equilíbrio ao tratar deste polêmico tema. 


Creio que precisamos repensar alguns paradigmas. Enquanto a ecologia brada pela preservação, as Escrituras defendem o paradigma da conservação. Preservar é deixar como está, enquanto que conservar é desenvolver a fim de manter. Aqui nos EUA há um parque nacional que estava sendo devastado por um incêndio. Não fosse por uma estrada aberta pelo homem floresta a dentro, não teria sido possível aos bombeiros chegar a tempo para apagá-lo, e assim, conservar o meio-ambiente.


Ainda no Éden, Deus designou o homem para que lavrasse e guardasse a terra. É aqui o ponto de convergência entre os interesses dos ecologistas e dos agropecuaristas. O primeiro grupo se coloca como guardião da terra, o outro é formado por seus lavradores. Os dois grupos devem caminhar juntos, entendendo que ambas são vocações legítimas instituídas pelo próprio Criador. A luta entre eles equivaleria à perna esquerda chutando a direita, ou vice-versa.


Faço coro ao Rev. Claudio, e acredito que a igreja deve preocupar-se com tais questões, em vez de ficar alienada em seu gueto religioso. 

6 comentários:

  1. Gordom7:51 AM

    Bispo deixar como estar o que!
    O que se há de aproveitar nesta terra?
    A terra, o solo dela está toda contaminada, se não for através de agrotoxicos, e transgênicos nada produz.
    O Solo da terra está cançada.
    Alíás Deus mandou após uma colheta, deixar descançar a terra por um período, para nova plantação.
    Mas a ganância por dinheiro, estamos pagando preço das enfermidades que estão rondando por aí principalmente o cancer no estômago, esofagô intestino etc.
    Os alimentos não são nutritivos como antes, e sim destruitivo! É só presenciar o numero de cancer que está acontecendo no mundo, e muitos são por alimentação errada ou contaminada.
    Problemas de gastrites, esofagite e etc.
    Muitos cientista estão dizendo que o processo é o excesso de remédios para que um alimento se densenvolva rapidamente e ficar aparentemente saudável, que remédio é este? Para mim há outras drogas que estão ingetando nos alimentos.
    Mas no fim é destrutivo para o ser humano.
    Um pintinho cresce em torno de 15 dias e já torna enorme pesando até uns 2 Kg. Apenas em 15 dias vcs estão comendo frango crescidos com remédios, e outras pragas de drogas engetados neles.
    Para que discursão, se a terra já era!
    Vcs tem que pensar em santificar-se, suas vidas para a volta de Jesus Cristo, porque o mundo jás do maligno.
    Breve virá! Brevve virá! Breve Jesus voltará! Muito em breve!
    Lembrem-se nada vai mudar nesta terra, e sim piorar o que já está estragado pelo lixo homem!

    ResponderExcluir
  2. Bispo Hermes:

    Primeiramente, devo dizer que fiquei comovido com o privilégio que Deus me concedeu através de sua vida, com a publicação desse meu texto em meu blog. É uma bênção ter uma reflexão nossa publicada num espaço que tanto tem feito pra promover o verdadeiro Evangelho, fundamentado no Amor e na Justiça, anunciando a Verdade e denunciando o erro.

    Quanto ao comentário do irmão Gordon, devo dizer que esta visão que despreza o "mundo" em favor da "santidade", é, a meu modesto juízo, tão nociva quanto o radicalismo de certos movimentos naturalistas que acham que o homem é um estorvo à sobrevivência do planeta. Na visão que expressas, é o planeta que é um estorvo à espiritualidade do ser humano. É radicalismo do mesmo naipe, só que de sentido inverso.

    A Bíblia que leio, prezado irmão, não ampara essa posição. Você mesmo cita o texto relativo ao Ano do Jubileu da Terra, e o próprio Jesus, pra ficarmos no Novo Testamento, fala que devemos ser luz do mundo e sal da terra. Iluminar, dar sabor, curar, são tarefas inafastáveis do verdadeiro cristão.
    Cristo breve virá, com certeza, e a própria Bíblia diz que ele dará "a cada um segundo as suas obras". A fé não precisa das obras para garantir a salvação. Mas, como diz o apóstolo Tiago, as obras revelam a qualidade e o caráter da nossa fé.

    Paz seja convosco.

    ResponderExcluir
  3. Gordom12:41 PM

    Pr Cláudio Moreira, na área espiritual, o homem está pior ainda podre caído amante de se mesmo do que de Deus!
    Vou falar rasgado em vários assunto! Doa a quem doer!
    Não tem jeito mais, o planeta que se chama "terra" está contaminado mesmo!
    Vou falar um só coisa: O que adianta a igreja preocupar com a natureza, discutindo e descordando, se nem se quer, fazem sua parte de correr atrás dos seus direitos.
    O que vejo, é igrejas acomodados só falam de boca para fora só fazem barulho, mais não resolvem nada! Verdadeiros vaquinhas se presepio! Apenas marionetes do governo!
    Só blá, blá, blá, e pastores ficando milhionários.
    Vem está lei da PL 122, e outras que vão destruir a sociedade e as igrejas, quase todos os "evangélicos" estão calados aceitando tudo e dizendo temos que amar o próximo!
    Que próximo! Gays com suas sacanagens, homens destruindo a natureza que Deus deixou para ele cuidar, mendigos milhões que estão nas ruas passando fome não tendo onde morar sendo desprezados totalmente esquecidos pela esta sociedade maldita!
    Isto é amar o próximo?
    Mas lembrem-se que Satanás não ama ninguém não, nem as drogas e o pecado não ama ninguém não!
    Seus filhos podem ser a próxima ou até vcs podem ser a próxima vítima.
    Pega o primeiro que lhe der lugar!
    Sem falar dos pastores que estão deitando e rolando em cima dos trochas, fazendo seus impérios luxuosos.
    A igreja já está nas mãos da nova ordem mundial, e terão que fazer os que eles quizerem.
    Temos Senadores e Deputados evangélicos no Congresso que são mais um, ou seja ninguém! Até alguns já entraram no esquema eu aprovo a lei e me dá o meu!
    E alguns políticos estão a qualquer preço querendo e sempre adiando a votação da lei da Agricultura e etc.
    Estão querendo derrubar esta lei a qualquer custo, porque Eles Senadores e Deputados, são donos de fazendas e não querem abrir mão de perder dinheiro, para satisfazer a natureza o ser humano, porque eles não parecem humanos! São maquinas de de destruição da sociedade, tudo que é a favor da sociedade eles são contra vetam tudo! O povo que se dane!
    Falo isto porque um dia quando eu era ainda jovem, ouvi de um presidente da República João Batista Fegueiredo dizer que se ele ganhasse um salário mínimo, ele dava um tiro na sua cabeça, estas foram as palavras deste amigo do povo.
    Tem um que diz: A terra que se dane! Meu negôcio não pode parar.
    A igreja não tem nenhum poder no mundo, porque ele jás do maligno.
    O poder que a igreja tem é o que não estão fazendo ou deixando de fazer que é Ide e pregai o evangelho a toda criatura! se tem alguém pregando o Verdadeiro e original evangelho, que o faz são poucos.
    Porque este evangelho que está aí não é o original não! É o da nova era!
    O que vemos é lídere evangélicos, atrás dos seus dízimos e ofertas para o sustento desses pastores barrigudo imorais amigo do prazer.
    O que as igrejas estão fazendo, é lutando e remando contra a maré.
    Meu irmão, contra à força não há resistência, quem manda é o Congresso nacional do podre brasil.
    Eles que ditam as leis e ponto final! Cale e obedeça!
    A suas metas é lucros, dinheiro, a Natureza e o povo que se dane!
    Agora falar de igreja faz isto e aquilo, é enganar trocha!
    Não fazem nada, aliás fazem sim enriquecendo através dos humildes povo como roma fazia.
    Elas não fazem nada, um simples projeto da
    PL 122 muitos que se dizem cristão, e até pastores renomados, recusaram-se em assinar o baixo assinado contra esta lei.
    Porque talvés tem medo da retalhação do governo, ou tem algum de seus familiares gays.
    É a Verdade! E não estou nem aí para o que pensam de mim.
    Lembrem-se disto, não vai demorar, os Militares vão assumir poder de novo! O governo do brasil!

    ResponderExcluir
  4. Anônimo7:45 PM

    Prezado Fernades, acho que em matéria de eclesiologia concordo com você em alguns pontos. Gostaria dos seus comentários quando possível no meu novo post referente ao tema.

    Abraços Orlando
    souteologico.blogspot.com

    ResponderExcluir
  5. Cid Espínola1:18 AM

    Prezados irmãos Claudio Moreira e Hermes Fernandes:

    Há muita generalização e é necessário mais aprofundamento nas informações e no debate.
    Por exemplo: é consenso na reforma do código florestal, a devida assistência e respeito aos pequenos produtores. Nenhum profissional das ciências ambientais - sério -, vai apoiar algo que prejudique a população.
    O que se busca é um refinamento das tecnologias atuais: inegavelmente poluidoras e nocivas. Estudos comprovam que as taxas de enfermidades são altíssimas, devido ao estilo de vida em que a sociedade se fundamenta, a começar pela agricultura convencional.
    Nossos solos estão degradados, assim como nossas águas e ar. Isso porque desprezamos o que Deus nos deu, sendo péssimos gestores dos recursos naturais.
    A destruição de uma floresta não significa somente a extinção do 'mico-leão' ou outros animais. Significa que perdemos algo importante na regulação do clima, na ciclagem de nutrientes, na proteção dos corpos d'água, na assimilação dos poluentes. Deus criou toda a engrenagem do planeta e certamente ela não é mantida por atividades poluidoras e consumismo desenfreado, algo padrão na nossa sociedade.
    Toda a movimentação dos profissionais de meio ambiente – coerentes - caminha para o desenvolvimento sustentável: a conciliação do social com o ambiental, algo que já é unido pois as coisas não existem de forma estancada e, sim, dinâmica.
    Deus os abençoe. E que Deus nos guie.

    ResponderExcluir
  6. Hermes, é sempre bom ver a sua opinião e particularmente ver que ainda há pessoas
    que se interessam a falar de assuntos bastante importantes do ponto de vista do
    evangelho e que não se restringem a falar de homossexualismo ou sexualidades. Em
    tempos em que a igreja está mais preocupada na negação de direitos civis a
    homossexuais deveriam estar muito mais envolvidos nesse assunto do código florestal
    e Belo Monte do que essa guerrinha contra a união civil homoafetiva. Trata-se de um
    tema de importância crucial para o futuro do país, e que por isso mesmo, deveria
    chamar a atenção dos cristãos sim.
    Quem é mais importante, a ecologia ou a alimentação humana? Não existe de fato essa
    discussão. A alimentação faz parte da ecologia humana.
    Como biólogo e cristão Concordo com vc com relação a critica ao biocentrismo, mas
    descordo do que vc contestou em relação ao homem ser ou não a maior parte dos
    desequilíbrios ambientais do planeta. Não há dúvidas do quanto o homem tem desequilibrado a vida num todo. Mas sobretudo discordo quando vc diz que tentam impor uma legislação que, na prática, confisca reservas de terra de milhões de pequenos produtores, impedindo-os de ser sinal de luz e esperança num mundo tão necessitado de alimentos. O problema dos alimentos nunca foi a falta de áreas. O problema é bem mais profundo. Antes de mais nada é um problema sobretudo de reforma agrária e não de código florestal. O código aqui está sendo bem usado para manobras. Por isso mesmo não devemos usar o evangelho para embasar a perda de áreas verdes necessárias a própria sobrevivência do agricultor em especial do pequeno agricultor que é refém e sempre foi. Gostaria de convidá-lo a ler o artigo "Código Florestal e a agrofloresta, um conceito contra uma Retórica de Sesmarias." que escrevi no meu
    blog: http://www.jorge-novidadedevida.blogspot.com/
    Aliás gostei muito quando tu postou lá.

    Hermes, vc disse que a ecologia brada pela preservação e as Escrituras defendem o
    paradigma da conservação, mas ao que vc se refere é o ambientalismo e não qualquer
    ambientalismo, mas o ambientalismo apoiado justamente no biocentrismo. A ecologia é
    ciência e não ideologia, portanto nada tem a ver com bradar alguma coisa. A maioria
    dos envolvidos no ambientalismo não defende o preservacionismo e sim o
    conservacionismo, que defende o uso do meio ambiente. Essa é a tendência a um bom
    tempo. Posso dizer porque sou da área. e apesar de haver radicais do lado
    ambientalista, pode ter certeza que tem muito mais radicais do outro lado.

    ResponderExcluir