A Reconciliação é o que possibilita a Salvação. Deus salva àqueles com quem Ele foi reconciliado. A Salvação é o bem que a cruz proporcionou aos homens; a Propiciação é o bem que a Cruz proporcionou a Deus, satisfazendo a Sua justiça, enquanto que a Reconciliação é o bem que a Cruz proporcionou entre Deus e a Sua Criação como um todo. A Salvação é unilateral, sendo obra de Deus para os homens. A Reconciliação é bilateral, sendo obra de Deus que abrange tanto Ele quanto a Sua Criação, começando pelos homens.
De acordo com Paulo, a Reconciliação é um fato já consumado pela morte do Filho de Deus.
“Pois se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando JÁ RECONCILIADOS, seremos salvos pela sua vida” (Romanos 5:10).
Somos reconciliados pela Sua morte, e salvos pela Sua vida. Mas só somos salvos pela Vida de Cristo, por termos sido reconciliados por Sua Morte.
Em quê consiste a Reconciliação?
“Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens os seus pecados” (2 Co.5:19).
O substantivo grego traduzido em português para “reconciliação” é katallage, que era comumente usado para referir-se à prática do câmbio de moedas.
O verbo katallaso (reconciliar) significa “trocar por valor equivalente”.
E o que houve na Cruz? Uma troca. Alguém tomou nosso lugar: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co. 5:21). Cristo tomou nosso lugar, oferecendo-Se para morrer por nossos pecados. Foi esse câmbio que tornou possível uma reconciliação entre Deus e a humanidade. Ele é a base sobre a qual está sustentada a paz entre o Criador e as criaturas.
Uma das exigências de Roma para que uma cidade conquistada desfrutasse da chamada Pax Romana (paz romana, em português), era que essa adotasse sua moeda. Ainda que a moeda daquela cidade continuasse a ser usada para fins internos, religiosos, ela não poderia ser usada para o pagamento de impostos a Roma, ou em transações comerciais com outras cidades do Império. Por isso, onde o Império Romano chegava, lá chegavam as casas de câmbio. Era sobre bases comerciais que era estabelecida a Pax Romana. Se a cidade não aderisse a esta Paz, ela seria sitiada pelas legiões romanas, e depois tomada e destruída, como aconteceu com Jerusalém no ano 70 d.C. sob Vespasiano.
Os judeus, por exemplo, tinham liberdade para usarem sua própria moeda com fins religiosos, uma vez que moedas com imagens de césares, com inscrições que lhes atribuíam poderes divinos, eram consideradas impróprias para esse propósito.
Foi neste contexto que Jesus expulsou os cambistas do Templo. Eles se aproveitavam da condescendência do Império, para obterem enormes lucros com o câmbio. Jesus não aturou testemunhar sua desonestidade.
Paulo escolheu usar a palavra katallage, porque sabia a carga que ela trazia. Qualquer morador dos territórios dominados por Roma, perceberia o conceito que Paulo desejava transmitir.
Um Novo Império estava surgindo no Mundo, e haveria a necessidade de que houvesse uma troca, um câmbio de moedas. A moeda corrente perdera seu valor, e teria que ser substituída por uma nova moeda.
No Mundo da Velha Aliança, a relação entre Deus e os homens se dava através dos sacrifícios levíticos. Era uma “moeda” cujo valor se defasava sucessivamente pela fúria inflacionária do pecado. Ano após ano, os sacrifícios deveriam ser renovados. E a dívida nunca era saldada. Pelo contrário, só fazia aumentar.
Na verdade, a dívida apenas rolava e aumentava. Era como se novas promissórias substituissem as anteriores.
Mas com a oferta definitiva feita por Cristo, houve um câmbio radical. Os novilhos foram substituído pelo Cordeiro. A justiça humana foi substituída pela Justiça Divina. Nossas boas obras saíram de circulação, para dar lugar a uma “moeda” de valor insuperável: a Obra de Cristo.
As promissórias que constavam contra nós foram rasgadas e fincadas na Cruz. Nosso débito foi totalmente pago.
A partir daí, nossa justiça própria já não possui qualquer valor. É moeda fora de circulação. Passamos a nos estribar na Justiça de Cristo.
Estabeleceu-se em todo o Universo a Pax Christiana. E esta paz esta Essa é a moeda em circulação dentro dos territórios pertencentes ao Império de Cristo.alicerçada na Justiça de Cristo, e não naquela que de acordo com as Escrituras, não passa de trapos de imundícia.
Quando uma moeda entre em um processo inflacionário, o banco central do país se vê diante de um dilema. Ele pode aumentar os juros, e assim, inibir o gasto da população. Se as pessoas segurarem seus recursos, com medo dos juros, isso fará com que os preços despenquem. Quem acaba pagando o pato é a população. E enquanto isso, o governo continua gastando, emitindo moeda para pagar sua dívida externa.
Quando uma moeda passa por uma desvalorização grande, geralmente, o banco central emite novas cédulas, onde alguns zeros são cortados. Assim, mil cruzeiros novos se tornam 1 real. É como uma ilusão de ótica, pra dar a impressão que a moeda valorizou-se da noite pro dia.
Desde Adão, a raça humana contraiu uma dívida com o Criador. A cada nova geração, a dívida foi tomando proporções cada vez maiores. Se desde o início já era uma dívida impagável, quanto mais depois de tantas gerações de seres humanos rebeldes para com Seu Criador.
A religião tornou-se como um banco central. A Lei, através da exigência de sacrifícios contínuos e das sanções decorrentes da quebra de seus mandamentos, fez aumentar os juros, pra que o pecado fosse inibido. Mas se inibiu por um lado, por outro, só fez instigar o homem a pecar. Foi como catucar a onça com vara curta. O problema não era a Lei, mas a natureza humana caída.
A cada sacrifício oferecido, era como se mil cruzeiros novos se tornassem um real. Dava ao homem a sensação de que uma dívida enorme de 1 milhão, passara a ser de apenas mil reais. Os sacrifícios amenizavam a culpa que assolava a consciência dos homens, mas não pagava sua dívida.
Porém, Cristo resolveu de vez este impasse. Seu sacrifício tirou de circulação todos os demais. De sorte que o escritor sagrado pode dizer: “Já não resta mais sacrifícios pelos pecados” (Hb.10:26b).
Com suas proibições e ordenanças, a Lei ofereceu ao homem o material com o qual ele poderia improvisar uma espécie de trapo de imundície. Era uma maneira de tentar conter o fluxo do pecado. Esse material é a nossa justiça própria. Trapo de imundície era o nome dado ao pano usado pelas mulheres hebreias para conter o fluxo menstrual. De tempo em tempo, precisava ser trocado, como um absorvente moderno, pois estava encharcado de sangue. Assim, nossas boas obras são encharcadas pelo nosso orgulho, retrato de nossa condição pecaminosa.
Portanto, a Lei proveu um paliativo para a situação humana, mas somente a Graça revelada na Cruz foi capaz de prover uma solução definitiva.
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