Por Hermes C. Fernandes
Ontem, na véspera de meu aniversário, ganhei de presente uma nova cicatriz. Aliás, ela ainda está entreaberta, não cicatrizou totalmente. Enquanto ajudava meu filho a instalar prateleiras em seu quarto, descuidei-me e bati com a fronte, rente à sobrancelha esquerda, num dos suportes de ferro. Sangrou bastante, mas não a ponto de me assustar e ter que levar pontos.
Pouco antes de escrever estas linhas, estava preparando-me para dormir e passando uma pomada sobre a ferida, quando aproximei-me do espelho para observar as cicatrizes que trago no rosto acumuladas ao longo desses 45 anos. Digo 'cicatrizes' porque é isso que as rugas são. Elas denunciam que já não sou aquele garoto de antes. O tempo deixou marcas em meu rosto. Cada uma delas tem uma história. Não surgiram ali do nada. São fruto das expressões faciais. Os pés-de-galinha se tornaram sulcos por onde as lágrimas pedem passagem. As olheiras resultaram de inúmeras noites insones ou mal dormidas. As exibidas na testa indicam o quanto já a franzi, ora de raiva, ora de perplexidade e outros sentimentos mais. Mas de todas, nenhuma é tão profunda quanto as que dividem minhas bochechas. Elas são o lembrete do quanto já sorri, exibindo a cova que trago apenas do lado direito dos meus lábios.
Vejo ainda as cicatrizes das espinhas e cravos que tanto constrangimento me trouxeram durante minha puberdade. Jamais me esquecerei das vezes em que tive que recorrer a pomadas para tentar conter minhas acnes e a maquiagens para escondê-las. Dinheiro e expectativas desperdiçadas. Bastou que me casasse, e elas se foram para sempre... ou quase isso.
A ausência de uma barba exuberante talvez seja uma das minhas frustrações. Agora que o bigode e a barba se intensificaram um pouco, os pelos resolveram ficar grisalhos, ressaltando assim a minha idade.
O que me consola é que não fiquei careca... Pelo menos isso. Quer dizer... até agora. As entradas até que se acentuaram, mas os cabelos parecem que pararam de cair (ou será impressão minha? rs).
De qualquer forma, o fato inegável é que cheguei hoje aos 45 minutos do primeiro tempo. Infelizmente, não será possível um intervalo, senão para agradecer a Deus pelo presente de estar vivo e ver meus filhos crescerem. Começa agora a contagem do segundo tempo, que, queira Deus terá ao menos mais 45 e com direito à prorrogação.
Crise de meia-idade, eu? Que nada... sinto-me um garoto de quarenta e quatro anos acrescidos de 365 dias. Consolo-me por saber que o inesquecível Roberto Bolaños, que nos deixou há pouco, começou a representar seu personagem mais marcante depois dos 40. Sem contar que foi com esta idade que Calebe ouviu de Moisés a promessa de que herdaria as montanhas da Terra Prometida. Chegou aos 85 com a mesma força e disposição que tinha aos 45.
Mais profundas do que as marcas que trago no rosto são as que trago na alma, e não me refiro a mágoas, decepções ou frustrações, mas a esperança, a fé e o amor, itens que pretendo levar comigo até o fim dos meus dias.
Obrigado a todos pelo carinho e por caminhar comigo as milhas que ainda me restam na estrada da existência.
Parabéns Bispo Hermes por mais um ano de vida! Desejo que Deus o abençoe muito e continue iluminando sua mente. Seus Posts, seus livros, sua mensagens tem me abençoado muito. O senhor foi o homem a quem Deus usou para eu entender o que o é Graça e o que é o Reino de Deus (Isaías 6, versículo 5 ecoa até hoje dentro de mim). Portanto, mesmo em terras distantes, eu o estimo e tenho um carinho muito especial pelo senhor. Um grande abraço, Fabio Jardim
ResponderExcluirParabéns! Console-se então, Hermes. As cicatrizes mais marcantes e dolorosas são as que foram gravadas na alma. (rsrs)
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