Por Hermes C. Fernandes
A professora havia passado um trabalho para turma que
deveria ser feito em dupla. O trabalho consistia numa entrevista com a
aplicação de um teste psicológico que deveriam ser transcritos e entregues
valendo a nota da última prova do período. Como havia feito o trabalho anterior
em companhia de uma colega, resolvemos manter a dupla neste novo trabalho.
Afinal de contas, a nota tirada antes foi um generoso 9 (poderia ter sido 10
caso a colega não houvesse se esquecido de incluir a conclusão).
Como a colega alegou que estaria sobrecarregada e não
poderia dedicar-se ao trabalho, resolvi fazê-lo sozinho, porém, sem excluir seu
nome.
Em pleno dia do meu aniversário, dediquei-me inteiramente à
transcrição da entrevista e do teste, bem como à análise psicológica dos
mesmos. Nem sequer pude sair com a família para comemorar meu aniversário.
Informei à colega que teria que entregar o trabalho antes do prazo, pois no dia
marcado estaria super ocupado. Ela pediu que enviasse para ela o trabalho para
que ao menos imprimisse, já que não havia colaborado em nada até ali. Preferi
imprimir, encadernar e entregar pessoalmente à professora. Porém, enviei uma
cópia por e-mail para sua apreciação.
Já era madrugada quando recebi seu recado dizendo-se
profundamente insatisfeita com o trabalho. Segundo ela, eu havia feito tudo
errado e isso resultaria numa nota baixa para ela, fazendo com que perdesse sua
bolsa do FIES. Humildemente, pedi desculpas e disse que fiz o melhor que pude.
Na mensagem seguinte, ela me chamou de relapso (não com esta palavra), e que eu
deveria ter prestado mais atenção às explicações da professora. Disse-me,
então, que, já que o prazo para a entrega não havia vencido, ela se
prontificaria a fazer outro trabalho, corrigindo os erros grosseiros que eu
havia cometido. Eu disse que tudo bem. Não me importaria com isso, pois não
achava justo que ela fosse prejudicada pelo meu suposto mau desempenho.
No dia seguinte, enviei uma mensagem pedindo que ela me
mandasse uma cópia do trabalho para que eu pudesse apreciar, assim como eu
havia enviado uma cópia do meu. Ela se sentiu ofendida e me enviou outra
mensagem dizendo que não incluiria meu nome nesse novo trabalho. Estava tão
estressada que usou palavras de baixo calão. Confesso que senti-me ofendido,
porém, não perdi a linha. Procurei manter-me calmo. Disse apenas “tudo bem”.
Então, comuniquei-me com a professora informando o ocorrido e pedindo que
considerasse o meu trabalho como sendo apenas meu.
Esta situação me deixou extremamente mal. Já estava
estressado com todo o corre-corre envolvendo o lançamento do meu CD, o
aniversário da Reina, minhas bodas de prata, meu aniversário, etc. Aquilo foi a
gota d’água.
De uma coisa eu tinha certeza: fiz o melhor que pude. E
mesmo procurando agir com elegância, fui ofendido por uma colega a quem só quis
ajudar.
Na segunda-feira, no comecinho da noite, recebo o recado da
minha professora: "Parabéns, Hermes. Você tirou 10. Seu trabalho foi o melhor
que corrigi. Posso ficar com ele para usá-lo como exemplo para os demais
alunos?"
Aquele simples recado encheu meu coração de alegria. Minha
vontade era reenviar o recado para a colega, mas resisti bravamente, pois achei
desnecessário me cartar depois da humilhação a que ela me submeteu.
Desde que decidi retomar minha vida acadêmica, sabia que
poderia passar por situações desgastantes, mas jamais imaginava algo assim.
Resolvi compartilhar aqui para servir de estímulo àqueles
que estão passando, já passaram ou vão passar por coisas semelhantes. Se deram
o melhor de si, confiem. E se alguém quiser desfazer-se do seu trabalho, sigam
confiantes. O tempo se incumbirá de revelar o valor de suas obras.
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