terça-feira, fevereiro 26, 2013

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Conheça os Devoradores do Futuro



Por Hermes C. Fernandes


Em II Reis lemos o relato do cerco sofrido por Samaria nos dias de Eliseu e suas nefastas consequências:
“Depois disto Ben-Hadade, rei da Síria, ajuntou todo o seu exército, subiu e cercou a Samaria. Houve grande fome em Samaria, porque a cercaram até que se vendeu a cabeça de um jumento por oitenta siclos de prata, e a quarta parte de um cabo de cebola selvagem por cinco siclos de prata.” II Reis 6:24-25
Com o bloqueio da cidade, ninguém entrava, ninguém saía. Os mercadores ficaram proibidos de circularem e comercializarem por lá.  E à medida que os recursos ficavam escassos, tornavam-se cada vez mais caros. O que antes não tinha qualquer valor (a cabeça de um jumento, por exemplo), agora era vendido à peso de prata. Com a falta de cebolas, vendia-se até seu cabo, aproveitando cada parte. As pessoas simplesmente perderam o senso de valor.

A propósito, como atribuímos valor a algo? Por que algumas coisas são tão caras, enquanto outras parecidas são baratas? A resposta está na chamada lei da oferta e procura. Se algo é oferecido sem que haja demanda suficiente, seu preço tende a cair. Porém, se algo é procurado, mas está em falta no mercado, seu preço tende a encarecer.

Van Gogh morreu sem ter vendido um quadro sequer. Porém, depois de sua morte, ao ser descoberto como um gênio da arte, seus quadros passaram a figurar entre os mais caros do mundo. O valor de algo não é intrínseco, mas atribuído. Infelizmente, só damos valor a certas coisas depois que as perdemos. Daí a frase: “Eu era feliz e não sabia.” A ausência, a indisponibilidade ou a escassez, nos fazem atribuir excessivo valor a algo. Se estivéssemos sedentos, perambulando pelo deserto, daríamos qualquer coisa por um copo d’água. A mesma água que antes desperdiçávamos lavando nossa calçada ou em banhos demorados, agora valeria mais do que todo ouro deste mundo.

A privação de bens de primeira necessidade pode provocar reações bizarras e inusitadas. Veja a cena flagrada pelo rei de Israel enquanto caminhava pelas ruas de Samaria:
“Passando o rei de Israel pelo muro, uma mulher lhe bradou: Acode-me, ó rei meu senhor. Respondeu o rei: Se o Senhor não te acode, donde te acudirei eu? Da eira ou do lagar? Disse-lhe mais o rei: Que tens? Respondeu ela: Esta mulher me disse: Dá cá o teu filho, para que hoje o comamos, e amanhã comeremos o meu filho. Então cozemos o meu filho, e o comemos. Mas dizendo-lhe eu no dia seguinte: Dá cá o teu filho para que o comamos, ela o escondeu. Ouvindo o rei as palavras desta mulher, rasgou as suas vestes...” (vv.26-30a).
Geralmente atribuímos às mães um amor comparável apenas ao amor de Deus. Como uma mãe seria capaz de devorar seu próprio filho? O que as teria acometido de tamanha loucura? A fome e o desespero! O desespero mexe com nossa escala de valores, sendo capaz até de subverter a ordem natural. Ficamos à mercê da insanidade. O natural é que as mães protejam seus filhos, ainda que lhe custe a própria vida. Não há nada mais antinatural e assustador do que ver mães devorando sua própria cria.

Repare que aquelas mulheres discutiam sozinhas. Onde estavam seus maridos? Provavelmente haviam morrido de fome ou numa incursão militar. Era tempo de guerra, quando os homens eram obrigados a deixarem suas famílias para defender sua pátria. Por isso, o número de viúvas e órfãos se multiplicava drasticamente. Portanto, tudo o que restava àquelas mulheres eram seus filhos. Àquela época, as mulheres não trabalhavam como hoje. Suas atividades se restringiam ao trabalho doméstico. Os homens eram o arrimo da casa. Na ausência do marido, toda a sua esperança era projetada em seus filhos.

Devorar seus filhos equivalia a devorar seu futuro, desperdiçando sua última esperança. Quantas vezes temos focado tanto em nossas necessidades momentâneas a ponto de nos esquecer do futuro? Somos tentados a sacrificar o futuro no altar do desespero. E é assim que nossa raça tem consumido impiedosamente os recursos do planeta, deixando para as próximas gerações um legado de escassez e miséria. E não adianta buscar bodes expiatórios. Somos responsáveis por nossas escolhas.

Com o estômago vazio, aquelas mulheres não titubearam e decidiram cozinhar sua própria prole. Mas assim que a fome foi saciada, caíram em si, mas já era tarde demais. A que havia perdido seu filho, agora exigia que a outra cumprisse sua parte no trato, entregando igualmente seu filho para ser devorado. Daí a razão pela qual discutiam. Não creio que a outra houvesse trapaceado ao aceitar fazer o trato. O fato é que, com a necessidade suprida, ela recobrou o bom senso, e por isso, já não se dispunha a sacrificar seu futuro.

De fato, o desespero cega a razão, fazendo-nos agir por impulso. Não há conselheiro pior do que ele. Mesmo na pior das crises, não se pode desviar o foco do futuro, pois é lá que passaremos o resto de nossas vidas.

Todo bloqueio serve aos propósitos de quem o patrocina. Depois de alguns dias de fome, aquela cidade experimentaria uma convulsão social, com seus cidadãos se matando mutuamente. Isso claramente facilitaria a tomada da cidade pelos Siros. A mesma tática tem sido vexatoriamente usada em nossos dias, porém, de maneira discreta e velada. Vejamos, por exemplo, a inacessibilidade das camadas mais pobres à saúde e à educação. A quem serve tal embargo social? É notório que um povo sem educação é bem mais fácil de ser manipulado, dispondo-se a engolir qualquer promessa de campanha. Um povo desprovido de educação não é propenso a se organizar, a cobrar reformas sociais, a reivindicar seus direitos. Ele nem sequer os conhece, como poderá reivindicá-los?

Um povo sem saneamento básico e sem acesso à saúde pública é um povo fisicamente debilitado, e, portanto, sem a menor condição de desafiar o Estado. Pode até parecer uma teoria de conspiração imaginária, mas faz todo sentido. Foi assim no passado e é assim hoje. E sem que haja um despertamento da sociedade, continuará assim para sempre. Não é interesse dos poderosos que as camadas populares tenham acesso às riquezas do país, nem aos serviços básicos, tais como educação, cultura, saúde, segurança pública, etc.

A quem interessa, por exemplo, o sucateamento dos hospitais públicos? Adivinha? Às grandes empresas de plano de saúde, que injetam milhões em candidaturas de políticos cuja missão é impedir que as camadas populares tenham acesso a um sistema de saúde digno. A quem interessa a falência do ensino público? Preciso responder? Às redes de escolas e faculdades particulares que hoje experimentam o maior boom da história do país.

Penso que uma maneira de se impedir isso seria exigindo que todo ocupante de cargos públicos fosse usuário dos serviços públicos. Imagine se um deputado fosse obrigado a matricular seus filhos em escola pública. Ou se fosse obrigado a recorrer aos postos médicos públicos quando adoecesse. Quem sabe se assim os serviços públicos melhorariam drasticamente, beneficiando que de fato mais necessita.

Se há os protagonistas da desgraça, também há os que até têm boa intenção, porém se sentem incapazes de resolver a situação do seu povo. O rei de Samaria é um exemplo disso. Ao rasgar suas vestes, ele demonstrava o grau de desespero a que havia chegado por não poder atender àquela demanda. O último recurso de que dispunha era buscar respostas em Deus.

Haveria algum propósito naquilo?

A princípio, nervoso e estressado, o rei voltou sua ira contra o profeta Eliseu, dizendo: “Assim me faça Deus, e outro tanto, se a cabeça de Eliseu, filho de Safate, lhe ficar hoje sobre os ombros” (v.31). Mas depois de respirar fundo e voltar à razão, o rei enviou um mensageiro ao profeta, dizendo: “Este mal vem do Senhor. Por que esperaria eu mais pelo Senhor?” (v.33).

Será que Deus tem culpa em todo mal que assola o mundo? Seria Ele o bode-expiatório ideal para a injustiça praticada pelos homens? Seria Ele responsável pela má distribuição de renda? Pelas mazelas sociais? Pela reação da natureza aos maus-tratos da humanidade? Pelo índice galopante de violência urbana?

É claro que Deus não está indiferente a tudo isso. Ele continua a exercer juízo sobre as nações. Porém, não O podemos responsabilizar por colhermos os frutos de nossas ações. A maneira como Ele exerce juízo sobre os homens é justamente permitindo-lhes colher aquilo que plantam, sem intervir no processo. 

Eliseu, vendo o desespero do rei, respondeu:Ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor: Amanhã, por estas horas, haverá uma medida de farinha por um siclo, e duas medidas de cevada por um siclo, à porta de Samaria” (7:1).

Em vez de predizer o fim do cerco, o profeta prediz o fim da carestia. Ora, a carestia era apenas o efeito. Predizer seu fim era o mesmo que predizer o fim daquilo que a causava, isto é, o fim do bloqueio imposto pelo rei da Síria.

Algo só é vendido barato, se há em abundância. Se a oferta for maior que a procura, o produto se barateará. Se a procura foi maior que a oferta, o produto se encarecerá. Este é o princípio que regula o livre mercado. Não é da alçada dos governos estabelecer preços. É de sua alçada garantir que a população tenha acesso aos bens e serviços. O mercado se auto-regula. Se há disponibilidade de produtos, os preços cairão. Porém, para que haja disponibilidade de produtos, há que se garantir sua produção e sua distribuição, para que sejam acessíveis à população.

O profeta, por uma inspiração divina, proclamou a intervenção miraculosa de Deus naquela situação. Como mudar a situação econômica de toda uma sociedade em apenas 24 horas?

Tivemos, na história recente de nosso país, uma triste experiência, quando o presidente Fernando Collor de Mello quis acabar com a inflação num só golpe. Da noite para o dia, sem aviso prévio, todas as contas bancárias foram bloqueadas. Imagine o que isso poderia provocar. As pessoas tinham dinheiro, mas não podiam usá-lo. O resultado foi o controle imediato do dragão da inflação. Não fosse o caráter ordeiro de nosso povo, o Brasil teria entrado em convulsão social e política.

Só Deus pode conter uma sangria econômica da noite para o dia. Não há regimes ou pacotes econômicos capazes de realizar milagres. Como Deus traria o fim daquela carestia sem precedentes em Israel? Quem se atreveria a fazer esta pergunta? Um homem se atreveu a isso: “o capitão em cujo braço o rei se apoiava respondeu ao homem de Deus: Ainda que o Senhor fizesse janelas no céu, poderia acontecer isso? Respondeu Eliseu: Tu o verás com os teus olhos, porém não comerás” (v.2).

Pior que o desespero é a incredulidade. Eliseu foi tolerante com o desespero do rei, mas não tolerou a incredulidade de seu capitão. A incredulidade nos impõe um bloqueio maior do que qualquer outro, pois ela nos separa da fonte originária da vida: DEUS. Qualquer outro bloqueio diz respeito aos canais, mas a incredulidade diz respeito à fonte.

Samaria havia sido cavalgada pelos quatro cavaleiros do Apocalipse. Recusou a mensagem do cavaleiro do cavalo branco, e, portanto, recusou a paz que vem do Alto. Ficou à mercê dos outros três cavaleiros. Primeiro, o cavaleiro do cavalo vermelho, trazendo a guerra. Como resultado desses conflitos, surge o cavaleiro do cavalo preto, trazendo a carestia, e estendendo no chão o tapete para receber o cavaleiro do cavalo amarelo, trazendo a morte. É sempre assim: recusa-se a paz, abraça-se a guerra, a carestia e a morte.

Voltando à questão anterior: Qual seria o modus operandi de Deus para lidar com aquela crise? Haveria nele alguma pista para que enfrentemos a crise financeira pela qual o mundo atual atravessa? Faria Deus chover mantimentos sobre aquela gente faminta? E quanto ao cerco? Como desbaratá-lo? Daria Deus alguma estratégia militar ao rei para que arregimentasse seus homens famintos e derrotasse o exército sírio?

Aguarde a continuação desta mensagem amanhã.

*Postado originalmente em 22/06/09

5 comentários:

  1. Nós já lutamos tanto.
    Já fomos às ruas.
    Já reivindicamos o melhor...

    E o que aconteceu?

    A educação piorou.
    A saúde piorou.
    A segurança piorou.

    Só JESUS pode nos livrar do corpo dessa morte.

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  2. Missionário Luiz11:04 AM

    Bispo Hermes, Paz de Jesus Cristo seja com o irmão e todos os seus.
    Meu irmão meu comentário é no lado espiritual amém?
    Há como terrotar a crise financeira e etc.
    Este caminho é: Ter fome e sede de justiça pela palavra de Deus.
    No livro de Isáias 55.1 fala :
    Ó vós todos os que tendes sede, vinde às águas, e vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
    Os israelitas, que abandonaram a Deus e à sua justiça, são convidados a voltar a Ele, para serem restaurados à comunhão e à benção.
    Isto é para também os cristãos dos dias atuais.
    Uma condição essencial sair das tribulaçãoes da vida, é à salvação é a fome e sede espirituais por Deus e sua Palavra, por perdão e comunhão com Deus; vejam em Jo 4.14; 7.37, com base na morte sacrificial do Messias Servo(Jesus Cristo o Senhor); vejam Cap.53.
    Devemos arrepender-nos dos nossos pecados e aproximar-mos de Deus pela fé.
    Também, a fome e sede de justiça de Deus, e do seu poder, são condições essencials para recebermos a plenitude do seu Espírito;
    No livro de Mateus 5.6b fala:
    bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.
    A palavra "bem-aventurados" refere-se ao estado abençoador daquele que, por seu relacionamento com Cristo e a sua Palavra, receberam de Deus o Amor, o Cuidado, a Salvação e sua Presença diária; vejam em Mt 14.19.
    VEJAM O SERMÃO DO MONTE! SERVE COMO ADVERTÊNCIA
    AO CRISTÃO. Mt 5.1.
    Nos capítulos 5-7, temos o que é comumente chamado de o Semão do Monte.
    Contém a revelação dos princípios divinos da justiça, segundo os quais todos os cristãos devem viver pela fé no Filho de Deus Jesus Cristo o justo; vejam em Gl 2.20, e mediante o poder do Espírito que neles habita; vejam em
    Rm 8.2,14; Gl 5.16,25.
    Todos nós, que pertencemos ao reino de Deus, devemos ter uma intensa fome e sede da justiça vejam em Mt 5.6.
    FOME E SEDE DE JUSTIÇA.
    Este é um dos versículos mais importantes do Sermão do Monte.
    1- A condição fundamental para uma vida santa em todos os aspectos é ter "fome e se de justiça".
    Tal fome é vista em Moísés, em Davi e no apóstolo Paulo; vejam em Mt 6.33; Êx 33.13,18;
    Sl 42.1,2; 63.1,2; Fp 3.8,10.
    O estado espiritual e material do cristão durante toda sua vida dependerá da sua fome e sede da presença de Deus, da Palavra de Deus, da comunhão com Jesus Cristo, da justiça e da volta do Senhor Jesus; vejam em Dt 4.29;
    Sl 119; Fp 3.8,10; Mt 5.6; 2 Tm 4.8.
    2- A fome que o cristão tem das coisas de Deus pode ser destruída pelas preocupações deste mundo, pelo engano das riquezas, pela ambição pelas coisas materias, pelos prazeres do mundo e por deixar de permanecer em Jesus Cristo e sua Palavra de vida eterna, que é o único caminho; vejam em Mt 13.22;
    Mc 4.19; Lc 8.14; Jo 15.4.
    Quando a fome de Deus cessa no Cristão, este morre espiritualmente, que trará consequências também em sua vida pessoal; vejam em Rm 5.21.
    É então indispensável que sejamos sensíveis ao Espírito Santo ao convencer-nos do pecado; vejam em Jo 16.8,13; Rm 8.5,16.
    Aqueles que sinceramente têm fome e sede de justiça "Serão fartos".
    Jesus Cristo disse João 15.5:
    Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer.
    "SEM JESUS NADA PODEREIS FAZER." NADA!
    Assim diz a Palavra daquele que Vive, e Vive para todo Sempre "Jesus Cristo" "o Rei dos reis, Senhor dos senhores.

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    1. O primeiro homem foi julgado e o veredito foi a morte, esta esncerrado pra Deus essa etapa, hoje somente no segundo , que nao é mais terreno, mais celestial.
      Como viveremos não sei, o mal vence o bem todos os dias nessa terra maldita, oque esperar daqui? palavras poeticas , elas não fazem frente a realidade humana.Como a glaucia carneiro comentou , ja lutamos tanto sonhamos tanto , e desde que o mundo é mundo não a mais nada novo abaixo do sol, so acima dele. e triste amigo

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  3. Anônimo5:09 PM

    Muito bom.. quero ver logo essa continuação.

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  4. Anônimo7:57 AM

    HERMES, OS DEVORADORES DO FUTURO SERÃO ELES:
    A Besta do Apocalipse que sairá de dentro da Bailônia Igreja Católica, o Anticristo, o falso profeta, a mando de Satanás para destruir de vez a raça humana.
    Estamos já no princípios das dores onde a igreja do Deus Vivo passa por lutas da mornidão espiritual, onde muitos estão dormindo no sono de Satanás quer.
    Mas haverá em breve, um despertamento ao povo de Deus, será um avivamento ao qual nunca houve antes, e será o último para o povo de Deus se santificarem na Palavra de Jesus e em seu sangue que foi derramado por nós numa maldita cruz.
    Nós cristãos, devemos santificar-nos nossas vidas urgente e separar totalmente deste mundo e seus prazeres carnais que quer nos aprisionar, devemos viver-nos exclusivamente para Jesus na sua Palavra de Vida Eterna..
    Se não fizermos isto? Seremos devorados por satanás e seus seguidores.

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