Por Hermes C. Fernandes
Pouco me importo quando me acusam
de ser esquerdista, progressista ou liberal. Quem já leu meus livros sabe
exatamente o que penso acerca das ideologias. Quando me posiciono quanto a uma
causa ou questão, o que me baliza não são os pressupostos ideológicos, mas os ideais
que se coadunam com a proposta do reino de Deus.
Não compro pacotes fechados. Por
isso, não me identifico nem como progressista, nem como conservador. Sou
reinista! O reino que represento está acima destas conjecturas bobas e que
cheiram a mofo.
Em sua mais curta parábola, Jesus
diz que “todo escriba instruído acerca do
reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas
novas e velhas” (Mt.13:52).
Ora, “tirar coisas velhas” indica
que há coisas que valem a pena serem conservadas. Se tira coisas novas é porque
está sempre aberto a inovar. O que é considerável revolucionário hoje terá que
ser conservado para as próximas gerações. É novo para nós, mas será considerado
velho para os que vierem depois de nós. Nem por isso, deverá ser descartável.
Há valores que merecem ser
conservados, há outros, porém, que precisam ser descartados, ou ao menos, atualizados.
Jesus não fechava com grupo algum.
Nenhum rótulo lhe caía bem. Ele não era fariseu, nem saduceu, nem essênio, nem
zelote. “Ouvistes o que foi dito? Eu,
porém, vos digo...” O que os religiosos absolutizavam, Ele simplesmente relativizava. Quem se acha
conservador prefere não mexer no que foi dito. Prefere deixar as coisas
exatamente como são. Ou retroceder a uma
era que julga ter sido melhor do que a atual.
Fico imaginando de que lado estariam,
por exemplo, quando a instituição da escravatura tornou-se insustentável.
Lutariam ao lado dos escravos ou dos donos de engenhos? E quando Galileu
defendeu o modelo de Copérnico, afirmando que era a terra que girava em torno
do sol e não o contrário? Será que se poriam em favor da ciência ou de uma
religiosidade cega?
Depois que a polêmica passou, é
fácil posicionar-se. Quero ver se entrincheirar em meio ao fogo cruzado.
Como homens como Martin Luther
King se posicionariam hoje em questões como o direito dos homossexuais? Que
posição Madre Teresa de Calcutá teria com respeito à agenda social de um
governo considerado esquerdista? Em que marcha encontraríamos Mandela?
Antes de me posicionar, flagro-me
a perguntar: de que lado estaria Jesus?
Se bem conheço a Jesus, não
duvido nada que Ele se solidarizasse com certos grupos que consideramos
abomináveis. Imagine se Ele dissesse hoje em pleno culto dominical numa dessas
catedrais suntuosas que as prostitutas precederiam alguns pastores no reino dos
céus.
Os que defendem cegamente a
manutenção do Status Quo possivelmente censurariam a Jesus por haver impedido
que uma adúltera flagrada no ato fosse sumariamente executada no pátio do
templo. Quem se candidataria a arremessar a primeira pedra?
Em vez de defender com unhas e dentes instituições tão caras à sociedade judaica como o sábado, Ele preferia defender a integridade da vida humana. Segundo Ele, o sábado foi feito para o homem e não vice-versa. Em outras palavras, as instituições existem em benefício do ser humano, mas não vale a pena morrer ou matar por elas.
Estou convencido que Sua agenda estaria bem mais ocupada com questões éticas do que com a moral e os bons costumes.
Em vez de criar celeumas em cima de "quem vai ou não assistir à próxima novela das 9", Ele traria à baila questões verdadeiramente pertinentes. Ele nos desafiaria a cuspir os camelos que temos atravessados na garganta, deixando de lado os inofensivos mosquitos.
Religiosos hipócritas não se criariam. Seus interesses escusos seriam expostos. Suas agendas políticas jogadas no lixo. Seu moralismo dissimulado denunciado. O que prevaleceria seria a paz, fruto da justiça, que por sua vez, é fruto do amor.
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