Por Hermes C. Fernandes
Recentemente a igreja universal
provocou reação inusitada em boa parte da sociedade ao promover um culto em que
centenas de rapazes entraram marchando, vestidos como militares e respondendo a
gritos de ordem emitidos do altar. Justamente numa época em que o fantasma de
um novo golpe militar paira sobre a sociedade brasileira, era de se esperar que
os tais “gladiadores do altar” despertassem suspeita de que a tal denominação
estivesse arregimentando jovens para uma espécie de milícia paramilitar. Particularmente,
duvido que seja isso. Apesar de discordar da doutrina, da teologia e das
estratégias mirabolantes da IURD, nego-me a crer que Edir Macedo tenha chegado
a tal grau de insanidade. Prefiro acreditar que se trate de mais uma jogada de
marketing. Todavia, não censuro os que ficaram com um pé atrás ao assistir
àquele espetáculo medonho. Principalmente se levarmos em conta o estrago que milícias religiosas têm feito ao longo da história (as cruzadas, por exemplo) e as que têm agido em nossos dias em nome de uma fé fundamentalista e cega (como o Estado Islâmico).
Não consigo enxergar nem um
parentesco entre a proposta de Jesus e uniformes, marchas e gritos de ordem
característicos dos que batem continência nos quartéis.
A universal não é a única a
lançar mão deste expediente. Muitas outras igrejas o fazem, ainda que não tão
escancaradamente. Outras, entretanto, vão até além, usando fardas camufladas, promovendo
acampamentos para treinamento, utilizando títulos da hierarquia militar, etc. Basta ouvir muitas das canções entoadas em
seus cultos, nas quais se faz alusão a Deus como general, capitão, e ao seu
povo como exército.
Alguns poderão alegar que haja precedentes bíblicos para isso. Afinal de contas, a alcunha “Senhor dos Exércitos” é encontrada diversas vezes nas Escrituras. Porém, temos que entender os tempos. Era assim que o povo de Israel se referia ao seu Deus em épocas de batalhas épicas contra exércitos numerosos de impérios como o assírio, o babilônico e o romano.
Alguns poderão alegar que haja precedentes bíblicos para isso. Afinal de contas, a alcunha “Senhor dos Exércitos” é encontrada diversas vezes nas Escrituras. Porém, temos que entender os tempos. Era assim que o povo de Israel se referia ao seu Deus em épocas de batalhas épicas contra exércitos numerosos de impérios como o assírio, o babilônico e o romano.
Também é verdade que o próprio
Paulo, o apóstolo dos gentios, toma emprestados conceitos militares para
descrever a batalha espiritual na qual estamos engajados (Ef.6 e II Cor. 10, por
exemplo). Mesmo João, conhecido como o apóstolo do amor, no livro de Apocalipse apresenta Jesus à frente de um exército celestial.
Tudo isso, porém, são figuras de linguagem que visavam facilitar a compreensão
de cristãos primitivos que viviam num cenário caótico onde a guerra era sempre
iminente.
Porém, o que prevalece nas
páginas do Novo Testamento é a figura de Cristo como o Príncipe da Paz. Se
houvesse nele qualquer pretensão de desbancar Roma e tomar o poder, Ele teria
entrado em Jerusalém montado num soberbo corcel branco, e não num modesto
jumentinho.
Vejo como falta de sabedoria o
uso de elementos militares em qualquer expressão de culto que ofereçamos ao
Senhor em nossos dias.
Nos anos 70 e 80, quando o Brasil
vivia o auge da ditadura militar, participei de muitas marchas ao som de
cornetas e tambores. Era o espírito da época. Os tempos são outros. E isso
demanda de nós uma postura mais idônea, menos infantil. Se quisermos que o
mundo nos leve a sério, devemos deixar as coisas de criança, como recomendou
Paulo. Imagine se o apóstolo fosse além
da figura de linguagem e resolvesse pregar vestido como um centurião romano.
Isso seria inadmissível, além de ridículo.
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