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quarta-feira, fevereiro 01, 2017

Meio-dia em Paris




Por Hermes C. Fernandes

Meu coração estava a mil. Pela primeira vez, eu pisaria no velho continente, realizando um antigo sonho. Embarquei numa elegante aeronave da Air France. Apesar de viajar na classe econômica, senti-me como se estivesse na primeira classe. A começar pelo champanhe de boas vindas servido a todos os passageiros e pelo cardápio diferenciado que não se resumia a pasta, beaf or chicken dos voos comerciais norte-americanos.

Meu destino era Logano, cidade próxima dos Alpes Suíços.

Mas pela primeira vez, eu estava mais ansioso pela escala do que pela chegada. Afinal, não seria uma baldeação qualquer. Eu, finalmente, poria meus pés na cidade luz, cenários de inesquecíveis romances, de onde se erguia a imponente Torre Eiffel, ao redor da qual Santos Dumont fizera seu memorável voo a bordo do 14 BIS.

Da janela do avião, eu podia apreciar as alamedas parisienses, o rio Sena, os palácios e jardins que fizeram de Paris um dos mais notáveis cartões postais do mundo.

Seriam cerca de seis horas de espera pelo voo que me levaria a Milano na Itália, de onde eu partiria de carro até Logano.

Imaginei que seria tempo suficiente para tomar um táxi e dar uma fugida até a Torre Eiffel. Mas me frustrei ao ser informado de que os passageiros em trânsito não teriam permissão para deixar o aeroporto Charles de Gaulle.

Tive que contentar-me de vislumbrá-la do saguão de onde esperávamos a conexão. A sensação era horrível. Eu estava em Paris, mas não podia desfrutá-la. Eu podia respirar seus ares, mas não desfrutar das fragrâncias das flores estendidas às margens de suas alamedas e avenidas. Lugares com que sempre sonhei estavam tão perto, porém, inacessíveis. Invejei cada passageiro que desembarcava, imaginando os lugares fantásticos que visitariam em sua estada em Paris.

No afã de curar minha frustração, procurei por uma perfumaria no centro comercial do aeroporto e tratei de comprar um frasco de um legítimo perfume francês, além de uma miniatura da torre. Aquelas seriam a prova do crime. Eu poderia encher a boca e dizer: Estive em Paris!

Por que resolvi partilhar esta experiência aqui? Porque percebo que vida costuma nos pregar peças como esta.

Há escalas que preferiríamos que fosse nosso destino. Oásis que adoraríamos que fosse nossa terra prometida. Mas não são! Estamos apenas de passagem. Temos que nos contentar com um vislumbre à distância. Nosso perímetro foi delimitado, de modo que não nos é possível ultrapassá-lo.

Se pensei em dar uma fugida do aeroporto? Pode apostar que sim. Mas isso me colocaria numa posição ilegal, podendo até ser deportado imediatamente. Mas, pensando bem, talvez houvesse valido a pena. Os riscos eram enormes. Porém, a satisfação seria ainda maior.

Eu me acovardei.

Prometi a mim mesmo que noutra ocasião visitaria a cidade dos amores impossíveis. Um dia, Paris será meu destino e não uma mera escala.

Ainda não pude cumprir minha promessa. E, de vez em quando, me pego cobrando a mim mesmo.
Quando será? Sei lá. Nem sei se terei outra oportunidade.

Tento convencer-me de que não há razão para apreensão. Afinal, Paris não vai sair do lugar. Mas se eu não me mover, ela não virá a mim. Quem tem que sair do lugar, sou eu.


Um comentário:

  1. Morgana Dias9:40 PM

    Nossa, bispo, parece ficção de filme.
    O negócio é parar pra pensar, nessas horas, e lembrar que a vida é muito curta para ficar se prendendo!

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