Por Hermes C. Fernandes
Uma das perguntas mais
recorrentes que tenho recebido pelas redes sociais é sobre o tal “jugo desigual”.
Para quem não está familiarizado com o evangeliquês, trata-se do namoro entre
pessoas de credos diferentes, ou ainda, entre um cristão professo e um não cristão. Em
alguns círculos, isso é inadmissível, e quem insiste corre o risco de ser
excluído do rol de membros da igreja.
O texto usado para justificar
tal postura está em 2 Coríntios 6:14:
“Não se ponham em jugo desigual com
descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode
ter a luz com as trevas?”
Para início de conversa, precisamos
entender o que significa “jugo” (não confundir com “julgo” do verbo julgar).
Trata-se de uma peça de madeira, um tipo de canga que se prende com correias ao
pescoço de animais de carga, para que assim possam puxar uma carroça ou um
arado (1 Sm 6:7). Num sentido figurado negativo, o jugo representa
domínio, opressão (Gn 27.40; Jr 28.2; Gl 5.1); sofrimento (Lm 3.27); mas do
ponto de vista positivo, representa comprometimento (Mt 11.29-30) e companheirismo
(Fp 4.3).
É interessante notar que nenhuma
das passagens acima fala de namoro ou casamento. Nem mesmo a que fala de jugo
desigual. Então, em que consistiria o jugo desigual? Geralmente, usavam-se pares de
animais de carga como bois ou cavalos para puxar os arados que abriam sulcos na
terra para receber as sementes. Se o jugo sobre um fosse mais pesado que sobre
o outro, fazendo com que caminhassem em ritmos diferentes, o arado acabava
puxado na diagonal, e, eventualmente, travava, agarrando-se ao solo. Isso,
obviamente, atrasava todo o processo. Ambos tinham que caminhar na mesma
velocidade, de modo que os sulcos se abrissem uniformemente nos dois extremos
do arado. Portanto, os animais precisavam ter mais ou menos o mesmo porte,
carregando jugos de pesos iguais.
Quando Paulo fala do jugo
desigual, ele está pensando em qualquer trabalho conjunto entre seres humanos.
Em Filipenses 4:3, ele pede a um “leal companheiro de jugo” que ajudasse a duas
outras companheiras de ministério que atuavam naquela cidade. O que esperar de
um leal companheiro de jugo, senão que caminhe na mesma direção e no mesmo
ritmo, imbuído do mesmo propósito?
Obviamente, tanto o namoro quanto
o casamento podem ser incluídos neste escopo. Como poderá dar certo qualquer
relação em que cada um puxa o arado numa direção ou ritmo diferente? Ou como dizem as Escrituras, "andarão dois juntos se não estiverem de acordo" (Amós 3:4)?
Há que se pensar no futuro e
não apenas no aqui e agora. Lembre-se que o arado prepara a terra para receber
a semente e que esta, por sua vez, é a garantia de uma boa colheita amanhã. Todavia, isto não se limita à
questão do credo. É possível que haja jugo desigual entre
pessoas da mesma fé (1 Co.5:9-12). Há muitos tipos de jugo
desigual. Diferenças culturais, por exemplo, podem ditar ritmos e maneiras distintos
de se conduzir a vida. Imagine um relacionamento em que não seja possível um
diálogo sobre temas de interesse comum. Poderíamos enumerar ainda as questões de faixas etárias, graus de instrução e até o fato de serem oriundos de camadas sociais diferentes.
E o que dizer da
compatibilidade sexual? Quão difícil é manter um relacionamento perene em que
ambos tenham opiniões e expectativas divergentes acerca do sexo. Que futuro teria uma relação
em que um dos cônjuges fosse mais atrevido e o outro cheio de pudor. Um,
tarado. Outro, travado. Ainda que professem a mesma fé, frequentem a mesma
igreja, e até orem juntos, a tensão envolvendo a vida sexual poria em risco a estabilidade
do casamento.
Só há uma maneira de se
precaver sobre isso. Aproveitar o namoro para conversar tudo o que for
pertinente. Beijar menos, dialogar mais. Expor menos o corpo, e mais o coração.
Dizer com sinceridade quais são suas expectativas.
Há ainda casos de homossexuais que para provar sua conversão ao evangelho, casam-se com pessoas do sexo oposto, mesmo não se sentindo atraídos por elas. Isso também é jugo desigual. Pior: é de uma desumanidade inacreditável. Ninguém deveria ser forçado a contrariar sua natureza. Seria mais digno optar pelo celibato do que viver uma hipocrisia, sendo incapaz de ser feliz e de fazer o outro feliz.
O sucesso de qualquer relacionamento passa pela compatibilidade. Por isso, lemos no poema da criação que Deus daria ao homem uma mulher que lhe correspondesse, isto é, que lhe fosse compatível (Gn. 2:18). O mesmo vale para a mulher. Deus deseja dar-lhe um homem que corresponda aos anseios de sua alma e não apenas aos desejos do seu corpo.
É importante que, se possível,
apreciem as mesmas coisas, os mesmos ambientes, as mesmas atividades. Caso
contrário, terão poucos motivos para estarem juntos, a não ser desfrutar da
companhia um do outro. Não estou dizendo que devem torcer pelo mesmo time,
gostar de ver o mesmo tipo de filme ou música, mas que, pelo menos, cultivem
algumas atividades em comum.
E quanto à fé? O ideal seria
que professassem o mesmo credo. Isso facilitaria muito a vida, principalmente a
criação dos filhos. Se, todavia, este ideal não for alcançado, deve-se acreditar
que o amor que os conecta é maior do que qualquer discordância doutrinária.
Vale aqui a opinião pessoal de Paulo:
“Aos outros eu mesmo digo isto, e não o
Senhor: se um irmão tem mulher descrente, e ela se dispõe a viver com ele, não
se divorcie dela. E, se uma mulher tem marido descrente, e ele se dispõe a
viver com ela, não se divorcie dele. Pois o marido descrente é santificado por
meio da mulher, e a mulher descrente é santificada por meio do marido. Se assim
não fosse, seus filhos seriam impuros, mas agora são santos. Todavia, se o
descrente separar-se, que se separe. Em tais casos, o irmão ou a irmã não fica
debaixo de servidão; Deus nos chamou para vivermos em paz. Você, mulher, como
sabe se salvará seu marido? Ou você, marido, como sabe se salvará sua mulher? Entretanto,
cada um continue vivendo na condição que o Senhor lhe designou e de acordo com
o chamado de Deus. Esta é a minha ordem para todas as igrejas.” 1 Coríntios
7:12-17
Repare que nos dois casos, tanto do homem, quanto da mulher, são os não cristãos que devem consentir ou não no relacionamento. Então, não deveria ser um problema para nós.
Por incrível que pareça, há casos em que o jugo carregado por um cristão é mais pesado do que o carregado por um não cristão. Isso se dá porque alguns trocaram aquele "jugo suave" prometido por Jesus (Mt. 11:30), por um jugo de escravidão imposto pelo legalismo religioso. Bom seria se desse ouvidos ao que Paulo diz aos Gálatas: "Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão" (Gl.5:1). Com um jugo suave sobre os ombros, todo cristão vai desejar aliviar o jugo do outro em vez de adicionar peso extra.
O relacionamento entre um cristão e um não cristão não é o fim do mundo. Pode até dar certo. O que verdadeiramente importa é que haja amor. Como disse Pedro, “o amor cobre multidão de pecados” (1 Pe. 4:8). Quando se ama para valer, a gente aprende a conviver com as diferenças. Não digo que será fácil. Mas é possível. Um exemplo bíblico disso é o casamento entre Ester e Assuero, uma judia devota e um rei pagão. Graças a ele, o povo judeu escapou de uma tentativa de extermínio.
Por incrível que pareça, há casos em que o jugo carregado por um cristão é mais pesado do que o carregado por um não cristão. Isso se dá porque alguns trocaram aquele "jugo suave" prometido por Jesus (Mt. 11:30), por um jugo de escravidão imposto pelo legalismo religioso. Bom seria se desse ouvidos ao que Paulo diz aos Gálatas: "Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão" (Gl.5:1). Com um jugo suave sobre os ombros, todo cristão vai desejar aliviar o jugo do outro em vez de adicionar peso extra.
O relacionamento entre um cristão e um não cristão não é o fim do mundo. Pode até dar certo. O que verdadeiramente importa é que haja amor. Como disse Pedro, “o amor cobre multidão de pecados” (1 Pe. 4:8). Quando se ama para valer, a gente aprende a conviver com as diferenças. Não digo que será fácil. Mas é possível. Um exemplo bíblico disso é o casamento entre Ester e Assuero, uma judia devota e um rei pagão. Graças a ele, o povo judeu escapou de uma tentativa de extermínio.
É melhor relacionar-se com um não cristão do que com alguém que “dizendo-se irmão”, com o
tempo, revela-se um mau caráter, desonesto, avarento, covarde (1 Co.5:11).
Se você está namorando uma pessoa que não seja
cristã, não há razão para se desesperar. Certifique-se de que verdadeiramente a
ame a ponto de enfrentar todas as dificuldades que esta relação possa produzir.
Não ligue para os julgamentos de quem se acha no direito de apontar o dedo.
Talvez seja um frustrado, mal amado, casado com alguém da mesma fé, mas que não
tem o mesmo amor e apreço pela vida.
Abaixo, a canção que exemplifica um caso de "jugo desigual" que tinha tudo para dar errado.
Delicadíssima a proposta de deixar pra lá e se arriscar em nome de uma semente. Já que é certo que a semente floresça, então pq não esperar a pessoa se converter?
ResponderExcluirPatricia Mota, Por que a salvação é individual e existe o tal do livre arbítrio lembra?
ResponderExcluirMais um texto maravilhoso!
ResponderExcluirMuito bom. Válida a reflexão.
ResponderExcluirMuito bom. Ótima reflexão.
ResponderExcluirElucidativo e libertador... Eu mesmo estou nesta situação e ficava pensando nesse "problema". E tinha que carregar um fardo pesado demais.... então achava melhor nem pensar no assunto... Obrigado Hermes!
ResponderExcluirHermes, eu não vejo nada de errado nisso de um cristão casar com um não cristão, mas vejo que tem muito conflito em vários casais assim.
ResponderExcluirMas? há um perigo nisso aí e acontece muito em casais, casos corriqueiro em que o marido ou vise e versa, proíbe um ao outro de seguir a religião cristã.
O marido da minha prima faz isso, ele é ateu e não deixa ela ir na igreja nem falar alguma coisa de Deus, e ele é uma boa pessoa, mas tem esse problema que está deixando sua esposa infeliz, ela já disse isso para mim.
Portanto é melhor a pessoa cristã casar com outra pessoa cristã, mas também já vi muitos casais que a mulher é cristã o marido que não é cristão ele converter a Jesus.
Eu acredito no versículo que diz: Crê no Senhor Jesus e será salvo tu e tua casa.
Mas eu não vejo e a palavra de Deus não condena nada disso casamento de cristão com não cristão.
Esse é mais um texto que causa muitas controvérsias, e digo por experiência própria pois pertenço (ou pertencia) a uma igreja em que para o pastor até o casamento entre duas pessoas pertencentes a igrejas diferentes é considerado jugo desigual!pois bem, casei com uma moça que não é evangélica, é católica mas não adora ou venera imagens, inclusive se desiludiu com uma igreja evangélica ( a exemplo de muitos)resultado, após o casamento e com uma total falta de tato o pastor foi até a nossa casa e diante de minha esposa afirmou que estava errado etc..e para completar fiquei na chamada "disciplina" e até hoje não retornei, mas não estou no mundo; e para terminar na bíblia corrigida o termo utilizado é "infiel" o que em minha modesta opinião se refere a crentes e não a descrentes.
ResponderExcluirNamorei alguns evangélicos e só tive decepção, um se revelou homossexual, outro tentou me violentar e me deu calote financeiro. Decidi que não namoraria mais evangélicos. Dos três não evangélicos que namorei, dois se converteram. Mesmo o namoro não dando certo, só tenho elogios a fazer com relação a estes três. Orei muito pedindo a Deus um esposo não evangélico, porque queria conhecer seu verdadeiro caráter, sem máscara religiosa. Deus atendeu. Meu esposo ainda não professa a minha fé, mas é uma das poucas pessoas mais cristã que eu conheço. Senti na pele o preconceito e a exclusão por minha escolha. Nossa cerimônia de casamento teve de ser realizada num salão de festas e por um pastor amigo meu. Sou muito feliz. Enquanto isso, observo que todas as minhas amigas evangélicas que casaram com evangélicos estão divorciadas. Triste a realidade que vejo no meio evangélico.
ResponderExcluirExatamente assim, sem tirar nem pôs!
ExcluirCredo, os piores são os que pagam de santo.
ExcluirDenunciou ele, amiga, o estuprador?
Eu sou cristã e meu namorado umbandista,minha família é conservadora obviamente é contra.Mas o nosso relacionamento é ótimo existe um respeito muito grande entre nos dois principalmente na questão da religião pq pelo incrível que pareça é ele que tem mais "restrições" que eu. já escutei de todas as maneira de diversas pessoas que eu vou parar no inferno junto com ele, que eu tenho que insistir que ele se converta ao cristianismo (coisa na qual eu não quero pois respeito a escolha dele e o amor que ele tem pela sua religião) ou que o nosso namoro não vai dar em nada e isso desanima mt e eu fico confusa sem saber o que fazer,esse texto esse texto ascendeu uma luzinha msm que pequena e MUITO BOM ler algo coisa que não seja uma condenação por estar em um relacionamento com uma pessoa de religião diferente principalmente religião de matriz africana que o preconceito e mil vezes maior muito obrigado pelas suas palavra,MUITO OBRIGADO MESMO!!
ResponderExcluirChega a ser vergonhoso pra não dizer, assustador que o irmão proponha um casamento de um evangélico e de um não evangélico. ..na minha vida cristã vi inúmeras tentativas desse tipo e posteriormente, o fracasso...na maiorria das vezes, o não crente tiro o cônjuge crente dos caminhos de cristo.usar um versículo pra apoiar sua tese é de falta de responsabilidade com a palavra de Deus .
ResponderExcluirTenho passado isso em meu casamento. Comecei a servir a Deus é meu esposo não.Ele aceita a minha decisão, respeita, mas fica incomodado por eu passar menos tempo com ele, por não termos mais o nosso tempo livre disponível por causa do culto na igreja.Mas, no mais, é bem tranquilo.Acredito que se o cônjuge descrente respeitar o outro é vice e versa e tiveram muitas outras coisas em comum, a relação muitas vezes dá certo sim.Sei de muitas que deram e muitas vezes, o descrente acaba se tornando crente também. Enquanto isso, o que não faltam são casamentos entre cristãos desfeitos.
ResponderExcluirEu aponto o dedo e não sou um frustado,sou um homem abençoado em todos os sentidos e principalmente nos meus 28 anos de casado! Que comunhão há entre a luz e as trevas? Só existem dois grupos de pessoas: Os filhos de Deus,Jo 1:12 e os filhos do diabo I Jo 3:8. Não existe um 3° grupo de pessoas,I Jo 5:19.O interessante é que quem escreveu tudo isto foi o apóstolo do amor!O Hermes prega o amor falso! Então quem casa casa com um filho do diabo, vai ter problemas com o sogro e que belo sogro você vai ter! Se houver amor verdadeiro,ele ou ela vai querer andar no mesmo caminho e isto antes do casamento,nunca espere pra depois,que não dar certo! A probabilidade é quase zero!
ResponderExcluirNenhum casal é 100% compatível, né.
ResponderExcluirLegal espalhar isso, pq abre um leque de possibilidades e liberdade amoroso pras pessoas que se sentem mal achando que tem que arrumar alguém do mesmo credo.
Caro irmão Hermes,
ResponderExcluirSeus textos são interessantes mas, nesse tema específico, percebo uma frouxidão bíblica nos fundamentos. O mundo está dividido entre dois grupos: discípulos de Jesus e aqueles que ainda não se converteram. Não se trata de uma divisão religiosa, mas de natureza espiritual, de identidade. Essa clareza pode ser vista na oração de Jesus em João 17, onde ele separa "os dele" dos "do mundo". O texto do jugo desigual não diz respeito ao relacionamento amoroso. Ele fala de um relacionamento pactuado. Que sociedade pode haver? Que união? A pergunta é retórica. Ela pressupõe uma única resposta. A resposta é óbvia: NENHUMA! Aí, o jovem apaixonado responde: O CASAMENTO! Absurdo, não? Mas tem absurdo maior: o malabarismo teológico justificando isso, lastreado pelas experiências (terríveis e frustrantes) constatadas nos comentários. E a Bíblia? Ah... não vamos complicar com radicalismo, conservadorismo e mentes fechadas, né? SQN.
Um abraço,
Ivan Cabral, discípulo e servo inútil.
Muito interessante
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