Páginas

terça-feira, fevereiro 07, 2017

Graça: Amor atrevido e desproporcional



Por Hermes C. Fernandes

Quer saber? No fundo, no fundo, todos procuramos por alguém que nos ame o tanto quanto somos capazes de amar. Alguém que nos deseje o tanto quanto somos capazes de desejar. E é daí que vem toda a frustração. Percebemos tardiamente que não há simetria no amor. Mas não se desespere, pois é justamente daí que jorra toda a beleza.

Sabe aquela covinha do lado direito do rosto que a pessoa exibe cada vez que sorri? Enquanto ela se mantém séria, ninguém a nota. Suas duas faces parecem combinar-se simetricamente. Mas, de repente, quando se desmancha em risos e gargalhadas, a assimetria se revela. Aquele é o seu charme, o seu diferencial, o que a torna única.

O mesmo se dá no campo dos relacionamentos. Jamais encontraremos quem nos ame o tanto quanto nos achamos dispostos a amar. Temos a mania de superestimarmos nossos sentimentos, enquanto subestimamos o sentimento alheio. Logo, concluímos que ninguém nos ame o quanto julgamos merecer.  

Creio que foi desta constatação que surgiu o conceito de graça. Refiro-me a um caríssimo e refinado conceito encontrado na teologia cristã. Geralmente, definimos graça como um favor imerecido. Permita-me oferecer uma definição que considero mais ampla e profunda. Graça é amor assimétrico e despudoradamente desproporcional. É amar sem esperar absolutamente nada em troca. Amar cada vez mais ainda que seja cada vez menos amado.

Se formos sinceros e imparciais, verificaremos que assim como nos sentimos frustrados ao amar sem sermos devidamente correspondidos, certamente frustramos àqueles que nos amam sem serem por nós correspondidos.

Quem jamais se sentiu constrangido ao receber um amor que é incapaz de corresponder?

Haveria alguma beleza oculta num amor sentido que seja desproporcional ao amor recebido? Estou convencido que sim.

Ou será que algum filho é capaz de amar à sua mãe o tanto quanto por ela é amado? Duvido muito.

Ao nos entregarmos a um amor puro e verdadeiro, absolutamente gratuito, nossa satisfação deixa de estar na expectativa da reciprocidade para concentrar-se na felicidade de quem amamos.

Ora, se Deus é amor, como dizem as Escrituras cristãs, Ele simplesmente não consegue evitar amar a todas as Suas criaturas, independentemente de merecerem ou não.  E Seu mais profundo desejo é que elas igualmente se amem atrevidamente sem reservas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário