Por Hermes C. Fernandes
Quer saber? No fundo, no fundo, todos procuramos por
alguém que nos ame o tanto quanto somos capazes de amar. Alguém que nos deseje
o tanto quanto somos capazes de desejar. E é daí que vem toda a frustração. Percebemos
tardiamente que não há simetria no amor. Mas não se desespere, pois é
justamente daí que jorra toda a beleza.
Sabe aquela covinha do lado direito do rosto que a pessoa
exibe cada vez que sorri? Enquanto ela se mantém séria, ninguém a nota. Suas
duas faces parecem combinar-se simetricamente. Mas, de repente, quando se
desmancha em risos e gargalhadas, a assimetria se revela. Aquele é o seu
charme, o seu diferencial, o que a torna única.
O mesmo se dá no campo dos relacionamentos. Jamais
encontraremos quem nos ame o tanto quanto nos achamos dispostos a amar. Temos a
mania de superestimarmos nossos sentimentos, enquanto subestimamos o sentimento
alheio. Logo, concluímos que ninguém nos ame o quanto julgamos merecer.
Creio que foi desta constatação que surgiu o conceito de
graça. Refiro-me a um caríssimo e refinado conceito encontrado na teologia
cristã. Geralmente, definimos graça como um favor imerecido. Permita-me
oferecer uma definição que considero mais ampla e profunda. Graça é amor
assimétrico e despudoradamente desproporcional. É amar sem esperar
absolutamente nada em troca. Amar cada vez mais ainda que seja cada vez menos
amado.
Se formos sinceros e imparciais, verificaremos que assim
como nos sentimos frustrados ao amar sem sermos devidamente correspondidos,
certamente frustramos àqueles que nos amam sem serem por nós correspondidos.
Quem jamais se sentiu constrangido ao receber um amor que
é incapaz de corresponder?
Haveria alguma beleza oculta num amor sentido que seja desproporcional
ao amor recebido? Estou convencido que sim.
Ou será que algum filho é capaz de amar à sua mãe o tanto
quanto por ela é amado? Duvido muito.
Ao nos entregarmos a um amor puro e verdadeiro,
absolutamente gratuito, nossa satisfação deixa de estar na expectativa da reciprocidade
para concentrar-se na felicidade de quem amamos.
Ora, se Deus é amor, como dizem as Escrituras cristãs,
Ele simplesmente não consegue evitar amar a todas as Suas criaturas,
independentemente de merecerem ou não. E
Seu mais profundo desejo é que elas igualmente se amem atrevidamente sem
reservas.
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