“Eu vejo a vida melhor no futuro. Eu vejo isso por cima
de um muro
de hipocrisia que
insiste em nos rodear.” ― Lulu Santos
G
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osto de observar a ordem em que os acontecimentos são relatados nos evangelhos. Creio
que desperdiçamos muitas mensagens quando nos atemos apenas aos acontecimentos
em si, e não enxergamos suas entrelinhas, contextos, conexões e desdobramentos.
Deus Se revela de maneira surpreendente nos flagrantes contrastes dessas
passagens!
Lucas nos descortina um episódio em que Jesus Se dirige
a Jericó.[1] Antes de
entrar na cidade, Ele Se depara com um cego “assentado
à beira do caminho, mendigando”, cujo
nome é Bartimeu. Depois de clamar
insistentemente pela misericórdia do Filho de Davi, Jesus manda chamá-lo e
restitui miraculosamente sua visão. Bartimeu, um homem marginalizado, um
excluído da sociedade de Jericó, é a primeira pessoa a quem Jesus direciona Sua
atenção.
Mas ao atravessar os muros da cidade, Jesus Se
depara com outro homem, pertencente à elite de Jericó. Enquanto Bartimeu vivia
do lado de fora da cidade, Zaqueu, o chefe dos coletores de impostos, vivia
luxuosamente na parte mais requintada de Jericó.
Ambos eram cegos.
Bartimeu, fisicamente.
Zaqueu, espiritualmente.
Os dois deviam sua condição social à
ganância. Um era vítima, o
outro algoz. Talvez jamais
houvessem prestado atenção um ao outro, e nem sequer sabiam de sua existência.
Porém ambos tinham algo em comum: queriam muito ver a Jesus. Lucas diz que Zaqueu “procurava ver quem era Jesus, mas
não podia.”[2]
Não por causa de alguma deficiência visual, mas porque era nanico. A fim de
avistá-lo no meio da multidão, Zaqueu tratou de escalar uma árvore, meter-se
por entre sua folhagem, e ali, discretamente, sem almejar qualquer atenção,
esperou até que Jesus passasse.
Veja a diferença gritante entre Bartimeu e
Zaqueu.
Não apenas social,
ou cultural,
mas também comportamental.
Bartimeu queria a atenção de Cristo, e por
isso não poupou sua voz. Esgoelou-se ao ponto dos discípulos rogarem que se
calasse. Já Zaqueu preferia a discrição, a camuflagem de uma árvore, a
preservação de sua imagem pública. De cima dela, ele podia ver sem ser notado,
espiar sem ser exposto, numa espécie de voyeurismo desprovido
de culpa. Afinal, um homem importante como ele não podia correr este risco. Mas
para a sua surpresa, Jesus não hesitou em mirar-lhe por entre as folhas e
dizer: Desce depressa, Zaqueu! Hoje vou
me hospedar em sua casa.
O que desejo ressaltar aqui é que Jesus não se importou
com qualquer convenção social. Ele simplesmente ignorou o muro que separava
aquelas duas classes sociais. Ele deu atenção tanto ao que vivia de esmolas,
quanto ao que vivia de propinas. Entretanto, devemos realçar que primeiro Ele
voltou Sua atenção para o explorado, e só depois para o explorador. Sua
prioridade sempre foram os oprimidos, os marginalizados, os excluídos, os que
ficam "à beira do
caminho". Todavia, jamais deixou de atender também ao opressor,
acolhendo-o e convidando-o ao arrependimento.
Bartimeu e Zaqueu são subprodutos de uma
sociedade injusta, engrenagens da mesma máquina social. Uns com tanto, outros
com tão pouco. Uns clamando por misericórdia, outros por privacidade. Uns sem
ver, outros sem querer ser vistos. Uns se valendo da compaixão alheia, outros
se valendo da ignorância das massas. Acredita-se que a capa que Bartimeu usava
era uma espécie de licença dada pelo governo autorizando-o a pedir esmolas. Sua
fé de que seria curado foi tão grande, que não pensou duas vezes para livrar-se
dela tão logo fora chamado por Jesus. Provavelmente, foi o próprio Zaqueu quem
forneceu aquela licença ao cego Bartimeu, de modo que até das esmolas coletadas
por um mendigo se cobrava impostos. Portanto, Bartimeu era um daqueles que
haviam sido defraudados por Zaqueu e a quem ele prometeu devolver quadruplicado
depois de seu encontro transformador com Jesus.
Há algo mais que não podemos deixar passar despercebido. Que cidade era
aquela? Jericó. Isso nos lembra alguma coisa? Trata-se da mesma Jericó, cujos
muros foram derrubados por Deus na ocasião em que o povo de Israel, liderado
por Josué, marchou por sete dias ao seu redor.
Ora, se Deus derrubou aquele muro, o que é que ele fazia de pé dois mil anos
depois?
Foi durante o reinado do perverso Acabe que Jericó foi
reconstruída. Os créditos por esta façanha entraram na conta de tal Hiel, o
betelita, que acabou pagando um alto preço por sua ousadia.
“Em seus dias
Hiel, o betelita, reconstruiu a Jericó. Pelo preço de Abirão, seu primogênito,
lançou-lhe os fundamentos e pelo preço de seu último filho, Segube,
assentou-lhe as suas portas, conforme a palavra do Senhor, falada por
intermédio de Josué, filho de Num.” 1 Reis 16:34
Aquela muralha representava a divisão dos povos. Para isso servem os muros.
Sejam de concreto ou acrílico, como os que têm sido erguidos ao redor de
algumas favelas cariocas, isolando-as do resto da cidade, ou ideológicos,
religiosos, sociais, étnicos, nacionalistas, etc. Seja sob o pretexto de
proteger, guardar ou até de embelezar, todos têm o mesmo objetivo: separar.
Tão logo os muros de Jericó vieram a baixo, Josué pronunciou
uma maldição:
“Maldito
diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de
Jericó: Com a perda do seu primogênito a fundará, e com a perda do seu filho
mais novo lhe colocará as portas.” Josué 6:26
Esta maldição nos
revela a gravidade atribuída a qualquer tentativa de se levantar novamente
aqueles muros. Era comum à época o pronunciamento de maldições para coibir
certas atitudes consideradas reprováveis. Mesmo assim, séculos depois, com a autorização do rei Acabe, Hiel pôs-se
a reconstruir Jericó. Em cumprimento à palavra de Josué, Hiel perdeu seu
primogênito assim que lançou os fundamentos da cidade, e seu filho caçula
quando assentou suas portas.
Agora, Jesus, o Unigênito de Deus, resolve se
dirigir àquela cidade cujos muros não deveriam jamais ter sido reconstruídos.
Ao atender a Bartimeu do lado de fora dos muros, e a Zaqueu do lado de dentro,
Jesus parece indicar que simplesmente ignora a obra creditada a Hiel. Para
Jesus, era como se aqueles muros não existissem. O Unigênito de Deus
não reconhece qualquer separação entre os homens. Ele transita livremente entre
todos os estratos sociais, atravessando fronteiras que só existem nos mapas e
na imaginação de quem os desenhou.
Soa-nos exagerada a
maldição pronunciada por Josué. Mas que tal considerar o custo envolvido na demolição dos muros que separavam os homens
de Deus e uns dos outros? Se reconstruir aqueles muros custou a vida dos filhos
de Hiel, derrubar os muros que nos separavam de Deus e de nossos semelhantes
custou a vida de ninguém menos que o próprio Filho de Deus.
Veja o que Paulo diz sobre isso:
“Mas agora em
Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes
perto. Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um, e destruiu a
parede de separação, a barreira de inimizade que estava no meio, desfazendo na
sua carne a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si
mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com
Deus em um só corpo, matando com ela a inimizade.” Efésios 2: 13-16
Resumindo: pela cruz de Cristo, todos os muros vieram a
baixo. Jericó representa uma sociedade construída sobre o preconceito racial,
social, religioso, sexual, cultural. Compete a cada um de nós, como expressão
do Corpo de Cristo, transitar livremente entre os povos, ignorando qualquer que
seja o muro que os separe. Em Cristo, a humanidade foi reunificada. “Desta forma”, conclui o
apóstolo, “não há judeu
nem grego (acabou a distinção
nacionalista e cultural), nem
servo nem livre (distinção
social), não há macho nem fêmea (distinção sexista), pois todos vós sois um em Cristo
Jesus.”[3]
A igreja deveria ser, por assim dizer, a nova humanidade em estado embrionário.
O problema é que, em vez de adotar esta revolucionária postura, a igreja preferiu
alienar-se da sociedade e investir seu tempo e recursos na construção de novos
muros, e na reconstrução dos que já foram derrubados. Serve-nos como
advertência as sábias palavras do apóstolo dos gentios: “Se torno a
edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor.”[4]
Cristo continua a fazer pouco caso dos muros que
reconstruímos. Porém, não fará vista grossa à qualquer tentativa de se
reconstruir o que Lhe custou tão caro destruir. E é isso que fazemos quando
erguemos bandeiras e nos entrincheiramos contra qualquer segmento da sociedade.
Quando nos vemos no direito de dizer quem vai ou não para o céu. Quando
privilegiamos uma nacionalidade (por exemplo, Israel), enquanto menosprezamos
outra (por exemplo: os palestinos). Quando contamos piadinhas envolvendo
diferenças raciais.
Trabalhemos, não na reconstrução de velhos muros, mas na edificação de uma nova
sociedade, cujo fundamento seja o amor revelado em Jesus. Amor que acolheu
prostitutas no passado, e que pode perfeitamente acolhê-las hoje, juntamente
com os homossexuais, os transexuais e os travestis. Amor que acolheu os
excluídos de então, e continua a fazê-lo hoje. Que une oprimidos e opressores,
jogando por terra uma rivalidade que perdura séculos, reconciliando as diferentes
classes sociais sob a égide da justiça, da verdade e do amor. Afinal, quem ama
a Bartimeu, também ama a Zaqueu. E o desejo de Cristo é que se reencontrem numa Jericó sem muros.
Nunca
gostei de muros!
Quando criança, pulava o muro de minha casa em Quintino para fugir para igreja.
Na adolescência, pulava o muro da escola para ir para praia escondido de meus
pais. Devido à criação rígida que recebi, sentia-me instigado a espiar o mundo
lá fora, vislumbrando realidades até então inexploradas.
Muros cerceiam a liberdade. Em vez de
nos proteger do mundo, parece proteger o mundo de nós.
Definitivamente,
não fui feito para o clausuro. Gosto do
vento em meu rosto e da sensação de liberdade. Liberdade de ir e vir, de
expressar o que penso, de escolher o que quero ler, comer, onde morar, estudar,
etc.
Mas os muros existem. Alguns de
concreto, outros invisíveis. Alguns espessos, outros sutis. Muitas vezes nós
mesmos assentamos seus tijolos. Construímos muros para nos esconder, como
também para esconder de nós a realidade que nos circunda. Preferimos fingir que
nosso mundo se restringe ao espaço guardado por entre os muros. Não há nada lá
fora com que devamos nos importar.
Entretanto, os mesmos muros atiçam nossa curiosidade, e de quando em
vez, espiamos por entre as suas frestas para saber o que se passa lá fora.
Meninos entendem bem disso. Meninas... também.
Moradores dos condomínios luxuosos ficam a
imaginar o que significa viver em condições precárias numa favela. Já há até
agências turísticas que oferecem pacotes em que seus clientes são levados para
conhecer a realidade nua e crua dos guetos cariocas. Já os 'favelados'
fantasiam sobre o estilo de vida glamoroso dos ricos enquanto assistem às
novelas.
Somos todos voyeurs sociais. Não é à toa que o Big Brother
Brasil já está em sua décima quarta edição. Em nenhum lugar do mundo este tipo
de programa alcançou sucesso tão duradouro como em nosso país.
Bartimeu e Zaqueu viviam muito
próximos geograficamente, porém socialmente distantes. Havia dois muros entre
eles, um literal e outro social.
Estes
dois personagens são arquetípicos. Nossa sociedade está cheia de Bartimeus e Zaqueus.
Bartimeu representa os excluídos, as
classes menos favorecidas, que cegas pela ignorância, são obrigadas a viver "à margem do caminho",
na dependência da compaixão de quem passe. Estes são o efeito colateral de uma
máquina social cujas engrenagens trabalham sem estarem devidamente lubrificadas
pelo amor.
Não haverá justiça social onde
não houver amor. O que os mais pobres necessitam não é de uma capa, de uma
licença para esmolar, nem mesmo de misericórdia dos que passam, e sim de
solidariedade e justiça. Não confunda filantropia com solidariedade. Ao passar
por ele, Jesus não lhe deu esmola, mas restituiu-lhe a visão. Mesmo antes de
receber a palavra que o curaria, Bartimeu, cheio de esperança e fé, abandonou
sua capa e saiu tateando ao encontro do Mestre Galileu.
A verdadeira solidariedade visa
emancipar o sujeito, oferecendo-lhe opções que o dignifiquem. O mecanismo da
esmola apazigua a consciência dos mais favorecidos e alimenta um filantropismo
estéril. Programas governamentais que estimulem a educação são
imprescindíveis.
As igrejas deveriam estimular as pessoas a
dependerem cada vez menos de programas assistenciais do Estado e de outras
instituições, e a buscarem uma vida produtiva, não apenas do ponto de vista
econômico, mas também de realização pessoal. Para isso, Bartimeu tem que voltar
a enxergar! As pessoas precisam se preparar para a vida, estudando, buscando
aprimorar seus conhecimentos. A educação é, deveras, emancipadora.
Zaqueu
aponta para os que vivem do outro lado do muro social. São as classes
abastadas, que colhem os dividendos da injustiça social, dos lucros abusivos do
comércio e da indústria, dos famigerados juros bancários, e da máquina pública.
Muitos indivíduos desta classe sofrem de um tipo de nanismo espiritual. Como
Zaqueu, tendem a travar suas próprias buscas espirituais, valendo-se de
frondosas árvores como a ciência, a filosofia e o misticismo. Como Zaqueu,
prezam a privacidade; seu maior temor é a exposição. Escondem-se por trás da
folhagem provida pelo arbusto do conhecimento humano. Esses talvez até consigam
vislumbrar algo, mas são incapazes de alcançá-lo dada a sua estatura espiritual
prejudicada. Almejam ver a Deus, mas de camarote. Nem sempre é a Deus que
procuram, e sim um sentido para a vida. Por isso, preferem o deus de Spinoza,
de Einstein, dos deístas, que passa por eles, mas não interfere em seu
cotidiano. Um deus que respeita sua privacidade. Almejam ver, porém, sem serem
vistos.
Jesus corta o barato de Zaqueu. Ele o chama pelo nome,
e diz: Desce depressa! Se quisermos que a mensagem emancipadora e
transformadora do evangelho ecoe tanto nas palafitas quanto nos palácios, não
podemos fazer média com ninguém. Ninguém deve ser poupado!
Só
teremos condição moral de fitar Zaqueu e dizer que desça de seu pedestal,
depois que acudirmos Bartimeu do lado de fora dos muros. Uma igreja sem
responsabilidade social não está qualificada para atender às demandas
espirituais das classes abastadas.
E se
Zaqueu quiser mais do que simplesmente
um vislumbre do Criador, terá que descer. Terá que aceitar suas limitações e
atender ao convite de hospedar em sua vida o Filho de Deus. Cristo jamais Se
prestou a matar a curiosidade de quem quer que seja. Ele busca relacionamentos,
intimidade, interatividade.
Por não entendermos isso, achamos que devemos
manter cada macaco em seu galho, isto
é, deixar as coisas como estão, sem ferir o interesse ou os escrúpulos de
ninguém.
Passando por Bartimeu, a gente pensa que
basta dar-lhe uma esmolinha, fazer-lhe uma oração, e ponto... cumprimos nosso
papel.
Bartimeu foi reintegrado à sociedade.
Entrou com Jesus na cidade. Abandonou sua capa, pois já não precisava de
licença do Estado para esmolar. Zaqueu se arrependeu das mutretas que o fizeram
rico, chegando ao ponto de devolver o produto de suas extorsões. Isso sim é
conversão. O pobre se livra da capa e da cegueira, o rico desce da árvore e
abre sua casa para receber o Deus-Homem. A partir daquele fatídico dia, nunca
mais Jericó foi a mesma.
Mais um pastor de esquerda infiltrado na Igreja Evangélica que nada mais é do que um servo da maldita raça judaica. Sim eles mesmos, os narigudos deformados e sujos dos judeus que odeiam a raça branca e os valores ocidentais cristãos. Os judeus criaram o comunismo, votam em comunistas e financiam o comunismo. A maldita raça judaica é feia, deformada e inferior. Pior que isso é ver cristão defendendo essa raça suja que está destruindo com sua podre cultura suja e vulgar o cristianismo.
ResponderExcluirPastor marxista nada mais é do que massa de manobra do judaísmo internacional e do ateísmo militante disfarçado de crente "progressista". A maldita raça judaica, deformada e HORRENDA criou o comunismo. Os judeus são inimigos do cristianismo, eles odeiam Cristo e toda a cultura ocidental. Os judeus querem a todo custo destruir tudo o que nós brancos construímos. RAÇA SUJA IMUNDA. JUDEUS SUJOS.
ResponderExcluirA casa do senhor tem muro? Caso sim, depois desse texto tem obrigação de derruba-lo.
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