Tão logo as águas do dilúvio baixaram, Deus ordenou que a humanidade repovoasse a Terra. Com uma ênfase maior do que na ordem dada ao primeiro casal, Deus disse a Noé e à sua família: “Povoai abundantemente a terra” (Gn.9:7).
Tal façanha só seria possível se eles se espalhassem pelo orbe terrestre. Em vez disso, resolveram construir uma torre.
Dizem que o propósito era o de alcançar o céu. Porém, não é isto que o texto bíblico afirma.
Confira:
“Então disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra” (Gn.11:4).
A torre teria que ser muito alta, não pra que eles subissem ao céu, mas para servir-lhes de referencial geográfico. Eles imaginavam que uma torre daquele porte poderia ser vista de qualquer lugar da terra, e assim, jamais se perderiam.
Seu objetivo era construir uma civilização ao redor da torre. Portanto, aquele empreendimento se constituía numa atitude rebelde contrária à ordem divina.
O que tornava possível tal empreitada era o fato de todos falarem a mesma língua. O capítulo que relata o episódio começa dizendo: “Ora, a terra toda tinha uma só língua, e uma só maneira de falar”.
É interessante observar que o próprio Deus reconhece a potencialidade que havia naquele povo devido à uniformidade lingüística: “O povo é um e todos têm uma só língua (...) agora não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer” (v.6).
A única maneira de impedir que aquele projeto se tornasse realidade era confundir as línguas.
Foi dito e feito! Quando não entendiam mais o que se falava entre eles, a edificação foi embargada, e eles, finalmente, se espalharam pela Terra.
Não me interessa aqui discutir o caráter desta passagem, se é mítico ou literal. Em vez disso, quero focar no caráter simbólico e em sua mensagem para nós.
O propósito de Deus não é que edifiquemos uma civilização ao redor de uma torre, mas ao redor do Trono de Sua Graça.
Os vinte e quatro anciãos vistos por João estavam assentados ao redor do Trono de Deus. Eles representam a civilização do reino.
E para que esta civilização seja construída, faz-se necessária a união de todas as línguas. Algo como uma “Babel às avessas”. E isso aconteceu no dia de Pentecostes.
Enquanto a Torre de Babel representa o projeto humano, o Pentecostes é o lançamento da Pedra Fundamental na construção do Reino de Deus.
Babel almejava ser o umbigo da Terra, um monumento à arrogância daqueles cujo deus é o ventre.
A civilização babelesca é voltada para si mesma, enquanto a civilização do amor é voltada para fora; daí o nome “igreja” (eklessia, no grego) significar “os tirados pra fora”.
Se em Babel Deus confundiu as línguas, em Pentecostes Deus as unificou.
De acordo com a reportagem creditada a Lucas, “todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At.2:4). Não eram línguas angelicais, como deduzem alguns. Eram línguas humanas. Se não, que razão haveria para que os estrangeiros ali reunidos se pasmassem, ouvindo os discípulos indoutos falando em seus próprios idiomas?
É verdade que Paulo fala de línguas espirituais, e que tal dom era exercitado pela igreja primitiva. Porém, o que se ouviu em Pentecostes foram línguas de homens.
Entretanto, Deus não apenas unifica os vernáculos humanos, mas também unifica a língua dos homens e dos anjos. É sobre isso que Paulo fala em 1 Coríntios 13. É o amor a tecla SAP que faz com que compreendamos ambos os vernáculos, de anjos e de homens.
Céu e Terra foram reunificados, como antes da Queda do primeiro homem.
Agora, com homens e anjos falando a mesma língua ( o amor ), podemos juntos trabalhar pela implementação do projeto celestial: o Reino de Deus.
Em Babel, Deus desce para confundir, em Pentecostes, o Espírito desce para unificar línguas e propósitos.
Se aquele povo rebelde, por falar a mesma língua e ter o mesmo propósito, seria capaz de qualquer proeza, imagina um povo reunido e capacitado pelo Espírito Santo!
Duvidar que a igreja cumprirá a sua suprema missão de discipular as nações e conduzi-las ao Reino é subestimar o poder do Espírito Santo operante em nós.
Porém, não podemos ignorar que há forças malignas que encontram lacunas no egoísmo humano e se aproveitam para tentar confundir novamente as línguas. A igreja em Corinto enfrentou tais forças. Por isso Paulo admoestou-a: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos as mesma coisa, e que não haja entre vós divisões, para que sejais unidos no mesmo sentido e no mesmo parecer” (1 Co.1:10).
A confusão de línguas entre o povo de Deus só serve àqueles que em vez de trabalharem pelo Reino, estão preocupados em construir seus impérios particulares.
Não precisamos de uma torre ideológica ou denominacional para nos manter unidos. Qualquer projeto neste sentido será desbaratado. O que nos une é o projeto do Reino, infinitamente maior do que qualquer projeto pessoal.
Arregacemos as mangas e trabalhemos, tijolo a tijolo, na edificação e expansão do império de Cristo e da civilização do Amor.
Esta linguagem única deve ser encontrada por todos para que o verbo "Amar" seja conjugado com um só sentimento em volta do trono da majestade Divina que reina sobre a comunidade humana no seu Universo ordinário e extraordinário.
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