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sábado, janeiro 05, 2019

DOZE INSTRUÇÕES APOSTÓLICAS PARA DOZE MESES DO ANO



Por Hermes C. Fernandes

Se espera encontrar aqui uma receita de bolo, aconselho a parar por aqui mesmo, pois vai se desapontar. Mas se busca por instruções legítimas que possam lhe proporcionar um tempo de refrigério em sua jornada, leia até o fim. Todas essas instruções se encontram na primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses, capítulo 5, do verso 12 ao 22.

1 – Líderes e trabalhadores devem ser honrados“Agora lhes pedimos, irmãos, que tenham consideração pelos que trabalham entre vocês, e pelos que os lideram no Senhor e os aconselham. Tenham-nos na mais alta estima, com amor, por causa do trabalho deles. Vivam em paz uns com os outros” (1 Tessalonicenses 5:12,13). Não se pode honrar líderes enquanto se despreza os trabalhadores, tampouco se pode considerar a mão de obra sem levar em conta os que a instrui. Ambos cumprem um importante papel na promoção do bem comum. Deve-se, portanto, estima-los, não como quem os bajula por algum interesse, mas exclusivamente por amor; não em função do título que ostentem, mas unicamente por causa de seu trabalho. Somente assim, haverá paz entre os do andar de cima e os do andar de baixo, entre o pico da pirâmide e a sua base. A paz não deve ser confundida com uma trégua temporária, mas com uma condição alcançada quando há justiça, e nenhuma das partes se locupleta do prejuízo da outra.  

2 – Os insubmissos devem ser admoestados“Exortamo-vos também, irmãos, que admoesteis os insubmissos” (v.14). Interessante notar que algumas traduções trazem a palavra “ociosos” no lugar de “insubmissos”, o que nos leva a crer que na percepção do apóstolo, o insubmisso é aquele que faz do ócio um instrumento de sabotagem. Ele sabe criticar e pôr defeito em tudo o que os outros fazem, mas não move uma palha visando o bem comum. O tal deve ser advertido. Somos orientados pelas Escrituras a que sejamos submissos uns aos outros, isto é: devemos colocar o bem comum à frente de nossos próprios interesses.

3 – Os desanimados devem ser consolados – “...consoleis os desanimados” (v.14). Infelizmente, muitos invertem a ordem e acabam consolando os insubmissos e admoestando os desanimados. Na maioria das vezes, o estágio de desânimo antecede ao da insubmissão. Antes de sabotar o bem comum, tornamo-nos céticos e cínicos por já não encontrarmos razão para acreditar. Consolar um desanimado poderá evitar que ele se torne num insubmisso. E consolar aqui tem o sentido de encorajar, botar para cima, reanimar.

4 – Os fracos devem ser sustentados – “...sustenteis os fracos” (v.14). “Ninguém solta a mão de ninguém!” Ninguém é forte o tempo inteiro. Todos temos nosso momento de fraqueza, quando nossa humanidade fica à flor da pele. E nestas horas, procuramos estar com os que não desistem de nós, apesar de nós mesmos. Abandonar o fraco em sua jornada constitui-se num das mais covardes atitudes que um ser humano possa tomar. Ao deparar-se com alguém nesse estado, lembre-se de que amanhã poderá ser você. A ovelha que se desvia do redil deve ser admoestada, e para isso, o pastor faz uso de sua vara. A ovelha que cai em um barranco deve ser resgatada, e para isso, o pastor faz uso de seu cajado. Mas a ovelha machucada e fraca deve ser carregada nos ombros do pastor.

5 – Devemos ser pacientes com todos – “...e sejais pacientes para com todos” (v.14). Quem nunca se sentiu como o Chaves em sua lamúria? “Ninguém tem paciência comigo...! Todos os grupos descritos acima carecem de nossa paciência. Sem paciência, não honraremos nossos líderes, nem tampouco os trabalhadores. Sem paciência, os insubmissos ficarão exatamente como estão, os desanimados serão desprezados, os fracos serão postos de lado para não atrapalhar, e assim por diante. Mas antes de procurar ter paciência para com os outros, pense no quanto eles têm tido que lhe aturar em suas falhas e fraquezas.  A paciência que você sonega a eles é a mesma de que você carece para continuar em sua jornada desfrutando de sua companhia.

6 – O ciclo do mal precisa ser interrompido – “Tenham cuidado para que ninguém retribua o mal com o mal, mas sejam sempre bondosos uns para com os outros e para com todos”(v.15). Longe de ser um atestado de idiotice, oferecer a outra face é a única alternativa para quem não almeja retroalimentar o ciclo da violência. Devemos, antes, ser bondosos, não apenas com os que pertencem ao nosso grupo, com os que professam a nossa fé, mas com absolutamente TODOS.

7 – O prazo da nossa alegria deve ser prorrogado – “Regozijai-vos sempre”(v.16). O prefixo ‘re’ tem o sentido de ‘novamente’. Portanto, ‘regozijar’ significa literalmente ‘gozar de novo’. E que estória é essa de “gozar de novo sempre”? Sabemos que nada é mais efêmero do que o gozo, tanto o sexual, quanto o de qualquer outra natureza. O gozo é intenso, porém, é fugaz e dura bem menos do que gostaríamos. Nesta passagem, Paulo diz que é possível estender nosso gozo de maneira ininterrupta. E como se dá isso? Não permitindo que nada roube nossa alegria. Que nossas tristezas sejam momentâneas, mas nossa alegria seja perene. Que a alegria seja muito mais que uma sensação e se torne em um estado permanente subsidiado pela graça. E caso não percebamos qualquer razão imediata para estarmos alegres, busquemos em nossas memórias ou mesmo em nossas esperanças. O certo é que, em se tratando de gozo/alegria, não devemos nos contentar com pouco. Porém, usando a vida sexual como analogia, o gozo só vem quando há tesão/desejo. E se este for muito, é possível gozar várias vezes em um único intercurso. Infelizmente, muitos adotam uma espiritualidade brochante, que corta o barato de qualquer um, pois pensam que Deus é uma espécie de estraga-prazer cósmico. Ao contrário disso, Deus foi quem inventou o prazer. O gozo é uma celebração, um aperitivo do que nos espera na eternidade.   

8 – Devemos permanecer em Stand-By – “Orai sem cessar” (v.17). Particularmente, não conheço ninguém capaz de orar ininterruptamente. Todos temos nossos afazeres. Se não fizéssemos outra coisa que não fosse orar, morreríamos de fome. Por isso, recuso-me a crer que Paulo estivesse sugerindo algo nesse sentido. O que seria, então, orar sem cessar? Imagine um celular. Ainda que você não esteja atendendo a alguma ligação, ou ligando para alguém, seu aparelho se encontra em stand-by. A qualquer momento, alguém poderá lhe alcançar ou vice-versa, a menos que você esteja fora da área de cobertura ou com o seu aparelho em modo avião ou desligado. Assim também deve ser nossa comunhão com Deus. Não precisamos seguir nenhum protocolo para acessá-lo. Nem carecemos de “entrar em Sua presença” a cada vez que oramos, visto que vivemos em Sua presença em todo o tempo. Basta que nos dirijamos a Ele, seja de maneira audível ou apenas em pensamento, e imediatamente seremos ouvidos. Da mesma forma, a qualquer momento, em qualquer lugar, Ele poderá nos acessar através do Seu Espírito.

9 – Não deixe espaço para a ingratidão“Em tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (v.18). Repare que o apóstolo não diz que devemos dar graças POR TUDO, mas EM TUDO.  Como vou agradecer a Deus por algo que não veio d’Ele? Há situações que são frutos de escolhas equivocadas. Portanto, não faz sentido agradecer a Deus POR elas. Entretanto, nada há que não tenha a permissão divina, e por isso, mesmo não agradecendo por tais situações, devo agradecer a Deus por me permitir atravessá-las. Não vejo sentido em agradecer a Deus por uma doença, mas creio ser importante manter-se grato a Deus mesmo em meio a uma enfermidade. Devo ser grato por Sua provisão contínua, ainda que por um instante passe por privação. Permitir-me vivenciar algo é dar-me um voto de confiança. Como não Lhe serei grato? Nada fere mais o coração de Deus do que a ingratidão. É dela que brota a murmuração e todo tipo de insolência. O simples fato de estarmos vivos já deveria ser suficiente para sermos gratos a Deus que todos os dias renova a Sua misericórdia para conosco, dando corda em nosso coração.

10 – Não apague o que não foi você quem acendeu – “Não apagueis o Espírito” (v.19). Não, o Espírito Santo não é uma chama. Ele é uma Pessoa. Então, o que Paulo quis dizer com esta instrução? Embora Ele seja uma Pessoa, Sua presença em nós é como uma chama, e o combustível que a mantem acesa se chama COMUNHÃO. Quando ignoramos Sua presença, deixando de dar ouvidos aos Seus sussurros em nossa consciência, Sua presença em nós vai ficando cada vez mais tênue até que um dia deixe a impressão de ser ausência. Jesus estava no barco quando os discípulos enfrentaram aquela tempestade que por pouco não os fez naufragar. Se eles se mantivessem conversando com o mestre durante todo o trajeto, Ele não teria descido para a polpa do barco para dormir. Semelhantemente, se ignorarmos a presença do Espírito, será como se o confinássemos nos porões de nossa alma. Em vez de ficar papeando com os seus botões, gaste tempo estreitando sua comunhão com o Deus que reside em você.

11 – A Palavra não pode ser desprezada – “Não desprezeis as profecias” (v.20). Se falamos com Deus através da oração, Deus fala conosco através da Sua Palavra. Desprezar as profecias é o mesmo que desprezar o cumprimento delas: JESUS. Ele é a Palavra Encarnada que cumpre fielmente a Palavra Encadernada, isto é, o Antigo e o Novo Testamento.  Preste atenção no que diz o escritor da epístola endereçada aos Hebreus: “Havendo Deus outrora falado, muitas vezes, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez o mundo” (Hebreus 1:1-2).

12 – Não compre pacotes fechados – “Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda espécie de mal” (vs.21-22). Em vez de sair por aí comprando pacotes fechados, devemos examinar item por item, absorvendo apenas o que for bom, que promova o bem de todos, e descartando o que só desperta o que há de pior em nossa natureza, realçando nosso egoísmo, nossas presunções, nossos preconceitos. Nem mesmo as Escrituras devem escapar do escrutínio de nossa consciência iluminada pelo Espírito Santo. Qualquer coisa ali que não nos remeta a Jesus deve ser rechaçada, venha de quem vier, de Abraão, de Moisés, de Davi ou de qualquer outro. O mesmo critério deve ser usado ao examinarmos qualquer obra, seja literária, cinematográfica, política, ideológica, etc. Sempre haverá algo bom que seja fruto do gênio humano. Porém todas as nossas obras possuem as digitais de nossa condição existencial pecaminosa. Somos filhos de nosso próprio tempo, e tudo quanto produzimos vem contaminado pela leitura que fazemos com as lentes de nossa própria cultura.  

Estas instruções poderiam ser lidas de baixo para cima, ou de frente para trás. Se examinássemos tudo, retendo somente o que fosse bom, não desprezaríamos as profecias. E se não desprezássemos as profecias, não apagaríamos o Espírito, visto que Sua presença em nós se alimenta da Palavra. Se não apagássemos o Espírito, certamente daríamos graças em tudo, e o faríamos em constante oração. Se orássemos sem cessar, nada interromperia nossa alegria. E assim, não haveria qualquer razão para que retribuíssemos mal com mal, pois seríamos pacientes com todos, até com os que nos prejudicassem de alguma maneira. Justamente esta paciência que nos possibilitaria sustentar os fracos, de modo que eles jamais se desanimariam. E caso se desanimassem, deveríamos consolá-los para que não se tornassem insubmissos e ociosos. E assim, somente assim, haveria paz para que líderes e liderados trabalhassem em harmonia em prol do bem comum.


A todos os que leram atentamente essas linhas, desejo-lhes um surpreendente ano novo sob os auspícios da graça de Deus revelada em Cristo. 

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