"Se eu te adorar por medo do inferno, queima-me no inferno.
Se eu te adorar pelo paraíso, exclua-me do paraíso.
Mas se eu te adorar pelo que Tu és, não escondas de mim a Tua face."
Rabia, 800 d.C.
Por Hermes C. Fernandes
Se alguém entendeu através dos
posts anteriores que não creio na existência do inferno, sinto informar que se
enganou. O inferno existe. Mas não é a câmara de tortura eterna que muitos
imaginam que seja. As imagens usadas para descrever
o inferno nada mais são do que uma tentativa de conscientizar às pessoas sobre
a gravidade de se levar uma vida autocentrada, alienada de Deus e de seus
semelhantes. O inferno é uma condição
existencial. Ele começa a ser experimentado já nesta vida e se plenifica após a
morte. Suas chamas são uma metáfora
do juízo divino sobre toda impiedade e injustiça. Isso está claro em passagens
como a de Deuteronômio 32:22, onde lemos: “Porque
um fogo se acendeu na minha ira, e arderá até ao mais profundo do inferno, e
consumirá a terra com a sua colheita, e abrasará os fundamentos dos montes.”
Portanto, pode-se afirmar que
o inferno seja a resposta de Deus à injustiça perpetrada pelo homem.
Mesmo o batismo de fogo a que
se refere o movimento pentecostal nada mais é do que a manifestação da justa
ira de Deus contra a iniquidade. Ao referir-se àquele que o sucederia, João
Batista declarou: “Eu, na verdade,
batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do
qual não sou digno de desatar a correia das sandálias; esse vos batizará com o
Espírito Santo e com fogo. Ele tem a pá na sua mão; e limpará a sua eira, e
ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se
apaga” (Lucas 3:16-17). Repare nisso: são dois tipos
de batismo que Jesus traria: o do Espírito que visa a restauração e renovação de
tudo e o de fogo que visa a purificação. Para que haja purificação, algo
precisa ser consumido. Tudo que é palha deve ser consumido pelo fogo da justiça
divina. Tudo o que é fruto da vaidade e presunção humanas. Tudo que tem no ego
a sua base de sustentação. É a isso que o escritor sagrado se refere ao falar
da “remoção das coisas abaláveis (...)
para que as inabaláveis permaneçam” (Hebreus 12:27).
O próprio Jesus dá testemunho
de que para tal Ele viera ao mundo: “Vim lançar fogo na terra; e que mais quero, se já está aceso?” (Lucas 12:49). É este fogo que põe à prova nossas obras. Tudo o que
é feito para durar, escapa ileso à sua fúria. Mas o que visa tão-somente alimentar nossa arrogância e narcisismo e suprir nossa busca desenfreada por
prazer será fadado a ser consumido. Só vale a pena manter o que transcende à
nossa própria existência; o que não tem prazo de validade; o que visa não
apenas o nosso bem, mas o do nosso próximo. É o que Jesus chama de "ajuntar tesouros no céu." E quando digo “próximo”, não me
refiro apenas à proximidade geográfica ou similitude, mas também àquele que vem
depois de nós, e que desfrutará do nosso legado. Amar o próximo também é amar
que vem após nós; aquele que ocupará o lugar que hoje ocupamos, e que usufruirá
do fruto de nosso trabalho. Tudo o que
for feito visando apenas nosso aprazimento, não resistirá à prova do fogo, e,
portanto, não sobreviverá a nós.
Viver para si é a essência do que as Escrituras chamam de pecado. Se repararmos na natureza, nada vive para si. As árvores não se alimentam dos frutos que produzem. Os rios não bebem de sua própria água. O sol não brilha para si. As flores não sentem a fragrância que exalam. Tudo o que Deus criou, Ele o fez para que existisse para além de si. Isso é transcendência! Somente isso poderia nos garantir a eternidade. De acordo com Paulo, Cristo morreu por todos “para que os que vivem não vivam mais para si” (2 Coríntios 5:15).
Viver para si é a essência do que as Escrituras chamam de pecado. Se repararmos na natureza, nada vive para si. As árvores não se alimentam dos frutos que produzem. Os rios não bebem de sua própria água. O sol não brilha para si. As flores não sentem a fragrância que exalam. Tudo o que Deus criou, Ele o fez para que existisse para além de si. Isso é transcendência! Somente isso poderia nos garantir a eternidade. De acordo com Paulo, Cristo morreu por todos “para que os que vivem não vivam mais para si” (2 Coríntios 5:15).
Este é um dos
assuntos principais abordados por Paulo em suas cartas. Ele mesmo deu
testemunho em sua despedida dos efésios: “Em
nada, porém, considero minha vida preciosa, contanto que cumpra com alegria a
minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho
do evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24). Por isso, ele não se importava
de sofrer qualquer que fosse o prejuízo, até mesmo a morte. Sua obra no Senhor
seria a evidência de que sua vida não teria sido em vão.
Só há, por
assim dizer, uma maneira de ser poupado das chamas do juízo de Deus: deixar-se
consumir em vida por amor. O que não for consumido pelas chamas do amor, será
consumido pelas chamas do juízo. Era tal consciência que movia o apóstolo de
modo que não se importava em exaurir suas forças e energias pelo bem de todos. “Eu de muito boa vontade gastarei”, testifica, “e me deixarei gastar pela vossa
alma, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (2 Coríntios
12:15). Tal postura subversiva era alimentada pelas palavras de Cristo: “Quem ama sua vida, a perderá, mas quem
odeia a sua vida neste mundo a guardará para a vida eterna” (João 12:25).
“Odiar” aqui tem o sentido de desprezar, não atribuir valor, fazer pouco caso, desdenhar. Somos
desafiados a abrir mão de nossa própria vida por algo infinitamente maior. “Pois quem quiser salvar a sua vida, a
perderá”, diz o Cristo, “mas quem
perder a sua vida por minha causa e do evangelho, esse a salvará” (Marcos
8:35). Para nós, seguidores de Cristo, o inferno não é o outro como dizia
Sartre, o filósofo existencialista francês. O outro é a possibilidade do céu. Viver
para o outro é poupar-se de uma vida desprovida de significado. Viver para o
outro é deixar vago seu lugar no inferno. É garantir que suas obras continuarão
a repercutir mesmo depois de sua partida, ecoando na eternidade. Eis a
promessa: “Bem-aventurados os mortos que
desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, descansarão dos seus
trabalhos, pois as suas obras os acompanharão” (Apocalipse 14:13).
Tanto Paulo,
quanto Moisés, parecem ter captado tal
verdade. Somente isso justificaria certas posturas radicais adotadas por eles.
Paulo, por exemplo, diz que preferia estar separado de Cristo se isso
resultasse na salvação de seus patrícios. “Porque
eu mesmo”, afirma o apóstolo, “desejaria
ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo
a carne; os quais são israelitas...” (Romanos 9:3-4a). Repare: Ele estava disposto a abrir mão da
própria salvação caso isso garantisse que os judeus fossem alcançados. Ele
hipotecaria a eternidade pelo bem de quem o perseguia. Moisés adotou postura
semelhante ao pedir que Deus riscasse seu nome do livro da vida, mas não
desistisse do Seu povo (Êxodo 32:32). Uma espiritualidade egocêntrica como a
que tem sido pregada em nossos dias jamais produziria tal disposição. Cada qual
está interessado em salvar a sua própria pele.
Para Paulo, Cristo é o fundamento da nova humanidade, assim como Adão
foi o fundamento da humanidade original. Cada ser humano é convidado a escolher
com que material vai edificar sua vida em cima deste fundamento. Uns escolhem material de primeira, resistente
ao tempo e ao fogo, outros, porém, escolhem material de qualidade duvidosa.
“Segundo a graça de Deus que
me foi dada, pus eu, como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre
ele. Mas veja cada um como edifica sobre ele. Pois ninguém pode pôr outro
fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém
sobre este fundamento levantar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas,
madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará, porque o dia a
demonstrará. Pelo fogo será revelada, e o fogo provará qual seja a obra de cada
um. Se a obra que alguém edificou sobre ele permanecer, esse receberá galardão.
Se a obra de alguém se queimar, sofrerá perda; o tal será salvo, todavia como
pelo fogo.” 1 Coríntios
3:10-15
Repare nisso: o
fogo é o instrumento de controle de qualidade usado por Deus. O que sobrevive a
ele, está destinado a durar para sempre. O que sucumbe a ele, está destinado a
perecer para sempre. Mas há algo que geralmente passa despercebido nesta
passagem: “Se a obra de alguém se
queimar, sofrerá perda; O TAL SERÁ SALVO, todavia como pelo fogo.” Leia
quantas vezes quiser. O texto seguirá sendo o mesmo. Nenhum tradutor da Bíblia
ousou modificá-lo para encaixá-lo em sua doutrina.
É esta mesma
esperança que encontramos numa outra passagem igualmente ignorada: “E apiedai-vos de alguns que estão na
dúvida, salvai-os, arrebatando-os do
fogo” (Judas 22-23a). Que bom que as portas do inferno não prevalecem
contra nós! Podemos simplesmente invadi-lo e tirar de lá os que estão perecendo
ainda em vida. Se é verdade que podemos salvar o que perecem em vida, que dirá Cristo
poderá arrebatar os que lá estiverem após a morte (vamos nos aprofundar nisso
adiante).
Então, o inferno
não teria a última palavra? Não! Ele visa consumir o que não foi “consumido”
pelo amor. A palha do egoísmo, o feno da avareza, a madeira da corrupção e da promiscuidade que coisifica o ser serão devorados por suas chamas. Porém, no final, a essência do ser será salva.
Embora sua existência terrena não tenha passado no controle de qualidade dos
céus, sua essência (espírito) será salva, ainda que pelo fogo.
E como lemos
anteriormente, este fogo já está aceso. Suas labaredas podem ser sentidas desde
já. O escritor de Hebreus afirma que “se
voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas certa
expectação horrível de juízo e ardor de fogo que há de devorar os adversários”
(Hb.10:26-27). Observe bem: apesar de filhos, não somos poupados deste “ardor de fogo”, porém, não somos
devorados por ele. Afinal, o inferno foi “preparado
para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:41). Por isso, lemos que este fogo “há de devorar os adversários”. Aliás,
para quem diz que se trata de “fogo” diferente, como explicar esta passagem? O
fogo é exatamente o mesmo! Uma metáfora para o juízo de Deus contra toda a
injustiça. Este fogo devora uns, purifica outros. Devora demônios, purifica
humanos.
Vasos de honra x vasos de desonra
Estariam todos
destinados à salvação? Não! Quer dizer... depende do que chamamos de salvação.
A Bíblia é clara ao afirmar que há “vasos
de honra” destinados à salvação, e “vasos
de desonra” destinados à perdição. Todavia, precisamos entender o sentido
disso, e para tal, recorreremos a duas passagens. Em Romanos 9:21-23 lemos que
da mesma massa, Deus, o Oleiro, fez um vaso para honra e outro para desonra.
Para o autor desta epístola, o objetivo de Deus ao criar vasos para desonra era
“mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu
poder”, e que os mesmos estaria “preparados para a perdição”. Em
contraste, o mesmo Oleiro teria criado vasos de honra, através dos quais “desse a conhecer as riquezas da sua
glória”. Estes também são chamados de “vasos
de misericórdia, que para a glória já dantes preparou”.
Geralmente,
quando lemos “vasos de misericórdia”, entendemos que se trata de recipientes
destinados a serem alvo da misericórdia divina, resultando em sua salvação.
Acho que não entendemos direito. Ser vaso não é ser receptáculo, mas ser
instrumento através do qual algo será servido. Portanto, ser vaso de
misericórdia é ser o canal pelo qual a misericórdia será servida a outros. E
como bem disse Jesus, “bem-aventurados os
misericordiosos, pois alcançarão misericórdia” (Mateus 5:7). Contudo, Tiago
nos alerta que “o juízo será sem
misericórdia para aquele que não usou de misericórdia”; mas apesar disso, mesmo que o juízo divino
seja severo, “a misericórdia triunfa
sobre o juízo” (Tiago 2:13).
Pena que muitos
se atêm à passagem em que Paulo distingue os vasos de misericórdia dos vasos de
ira. Bom seria se avançassem um pouco no texto e lessem, dentre muitas coisas,
o que ele diz no capítulo 11: “Assim como vós também outrora fostes
desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia pela desobediência deles,
assim também estes agora foram desobedientes, para igualmente alcançarem
misericórdia a vós demonstrada. Pois Deus colocou a todos debaixo da
desobediência, a fim de PARA COM TODOS USAR DE MISERICÓRDIA”(vv.30-32).
Portanto, a
misericórdia revelada através dos “vasos de honra” é apenas uma amostra grátis
da que se revelará indistintamente a todos. Se invariavelmente ela triunfa
sobre o juízo, logo, a única conclusão possível é que ela, a misericórdia, terá
a última palavra. Quem se sente desconfortável com isso precisa rever sua fé,
pois esta não parece estar baseada no amor, a não ser que seja no amor próprio.
A figura do vaso
é uma referência à nossa existência terrena. O vaso, portanto, está sujeito às
contingências desta vida. Como disse Paulo em outra passagem, “numa grande casa não há somente vasos de
ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém,
para desonra. De sorte que, se alguém se purificar dessas coisas, será vaso
para honra, santificado, idôneo para uso do Senhor e preparado para toda a boa
obra” (2 Timóteo 2: 20). Mesmo os vasos de desonra servem a um propósito
divino: ser instrumentos através dos quais a justa ira de Deus é demonstrada.
Vasos de ouro e
de prata estão destinados a terem suas existências eternizadas. Suas obras os
acompanharão, como vimos há pouco. Vasos de pau e de barro são aqueles cujas
existências foram desperdiçadas numa vida autocentrada. Em se tratando de
"existência", não há segunda chance. Só existimos uma vez. Falo de
existência de acordo com a definição existencialista. Vamos levar daqui
exatamente o que houvermos vivido. Mas as obras de alguns serão queimadas.
Entretanto, seu "eu essencial" será salvo. Como disse o sábio
Salomão, o corpo volta para o pó, mas o espírito volta pra Deus que o deu. O que mais importa não é o recipiente em si,
mas seu conteúdo. Por isso Paulo identifica o homem interior, a essência, como
um tesouro em vaso de barro (2 Coríntios 4:7), e conclui afirmando que “ainda que o nosso homem exterior se corrompa,
o interior, contudo, se renova de dia em dia” (v.16).
Com isso em
mente, fica mais fácil entender o que Paulo intentava ao afirmar haver entregue
alguém a Satanás “para a destruição da
carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Coríntios
5:5). Obviamente que foi uma medida disciplinar drástica, usada pelo apóstolo
para poupar a igreja de um escândalo sem precedentes. Quem se atrever a
acusa-lo de falta de misericórdia, deve repensar sua postura ao defender que
alguém padeceria eternamente no inferno sem dó, nem piedade. Apesar de
drástica, a disciplina apostólica não excluía a certeza de que aquela vida
seria poupada de um sofrimento eterno. Entregar
o corpo ao diabo é um eufemismo, e pode ser considerado o mesmo que colocar a
existência sob o escrutínio e juízo divinos.
Ainda que a
existência se perca, que a vida tenha sido um completo desperdício, destino à
lixeira do universo, a essência não pode ser perder, haja vista ter sua origem
no próprio Deus.
Para fins didáticos,
faço uma distinção entre salvação e a reconciliação. Salvação diz respeito à
existência, reconciliação diz respeito à essência. Repare no que diz Paulo aos Romanos:
“Pois se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida (...) Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens, para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens, para justificação e vida.” Romanos 5:10,18
Parece-me claro
que haja uma distinção entre salvação e reconciliação. Através da cruz, toda a
criação foi reconciliada com Deus. Somos reconciliados pela morte de Cristo e
salvos pela sua vida em nós. Esta reconciliação, todavia, não se restringe aos
que têm sua existência ressignificada, mas a todos os homens
indistintamente. O que não significa que
não possam ser condenados, isto é, ter suas existências reprovadas pelo juízo
divino e sofrer as devidas sanções. Entretanto, sua essência será plenamente
redimida para além do tempo e do espaço.
E como se dará isso?
Da mesma maneira como ocorre durante a vida terrena, mediante o reconhecimento
e confissão do senhorio de Cristo sobre todas as esferas da existência. “Se com a tua boca confessares a Jesus como
Senhor(...) serás salvo”, declara Paulo (Romanos 10:9).
Para muitos,
esta confissão só tem validade durante nosso prazo de vida terrena. Após a
morte, todas as possibilidades estão esgotadas. Porém, não é isso que
encontramos nas Escrituras. O mesmo Paulo diz ao nome de Jesus se dobrará “todo joelho dos que estão nos céus, na
terra e debaixo da terra” e que
toda língua confessará “que Cristo Jesus
é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2:10).
João reverbera o mesmo ensino apostólico na descrição de sua visão no Apocalipse:
“Então ouvi a toda criatura
que está no céu, e na terra, e debaixo
da terra, e no mar, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está
assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e
o poder para todo o sempre.”
Apocalipse 5:13
Ora, a expressão
"debaixo da terra" é uma
alusão àquela esfera existencial a que chamamos de inferno. Se os que lá estiverem
reconhecerem a Jesus como Senhor, serão igualmente salvos, podendo, então,
usufruir da reconciliação provida pelo sacrifício de Jesus. O que João descreve é a cena desta promessa
divina concretizada: toda criatura, inclusive as que estiverem no inferno,
prestando tributos e louvores ao Cordeiro, reconhecendo-O como Senhor.
Ainda que suas
existências tenham sido desperdiçadas, sendo lançadas no lixão da história, sua
essência será restaurada.
Então, qual a
vantagem de se servir a Cristo se no final das contas todos serão alcançados
por esta mesma graça? Caso você tenha feito esta pergunta, sugiro que reveja
sua fé. Você está adotando a mesma postura do irmão mais velho da parábola do
Filho Pródigo.
O mesmo Cristo
que é “a propiciação pelos nossos pecados”,
também é “pelos de todo o mundo” (1
João 2:2). Não ouse subestimar o alcance de Sua graça.
E isso também
não é justificativa para deixarmos de trabalhar pelo avanço do reino de Deus.
Cada vida salva durante sua jornada neste mundo é poupada do ardor do fogo da
justa ira divina. "Pois para isto é
que trabalhamos e lutamos”, conclui Paulo, “porque esperamos no Deus vivo, que é o salvador de todos os homens,
principalmente dos fiéis”(1 Timóteo 4:10). Ele não é salvador de alguns.
Ele é salvador de todos, ainda que, de maneira especial, seja o salvador daqueles
que n’Ele depositam sua fé. Portanto, Ele é salvador de crentes e incrédulos! A
diferença é que uns são alcançados durante a História, enquanto outros, após
ela. Os que são salvos durante sua jornada existencial são os vasos de honra,
aqueles através de quem a misericórdia é servida ao mundo. Os que são salvos
após a história são os vasos de desonra, cujas vidas servem ao propósito de
serem um sinal de advertência da justiça divina.
A parte d’Ele
está feita! Resta apenas a nossa parte.
“E tudo isto provém de Deus
que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da
reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não
imputando aos homens os seus pecados, e nos confiou a palavra da reconciliação.” 2 Coríntios 5:18-19
Deus não está de
mal com o mundo! Esta é boa nova do evangelho! Nossa missão é anunciar tal fato
a todos para que desfrutem imediatamente o favor divino. Não se trata de
garantir passagem de ida para o céu, mas de trabalhar para que a vontade de
Deus seja feita aqui na terra como é feita no céu.
Conhecida como “reconciliação
universal”, tal perspectiva teológica considera a possibilidade de que todos,
eventualmente, desfrutarão da comunhão com Deus, ainda que após o final da
história. Se alguém imagina que tal perspectiva seja algo novo, devo salientar
que muitos cristãos sinceros a têm esboçado ao longo dos séculos. Entre eles,
destacamos C.S. Lewis, anglicano, autor de “As Crônicas de Nárnia”, Philip
Yancey, celebrado autor norte-americano, Gerald Mann, pastor batista, Charles
Schulz, metodista e criador do Snoopy, Robert Short, pastor presbiterianos,
Carl Rahner, teólogo católico, Tony Campolo, pastor batista, Brennan Manning,
ex-monge franciscano e autor também muito celebrado entre os evangélicos
brasileiros, Karl Barth, teólogo protestante, Hans Küng, teólogo católico, Paul
Tournier, psiquiatra protestante, Emil Brunner, teólogo protestante, Rob Bell, considerado o mais influente pastor norte-americano das últimas décadas, e tantos outros. Até o século V era uma das vertentes mais fortes dentro
da teologia cristã. Outros como John Stott, pastor e autor episcopal, não
acreditavam propriamente numa reconciliação universal, mas se recusam a
endossar o ensino de um inferno eterno por considerá-lo incompatível com o amor
de Deus. Para estes, só uma chama poderia ser eterna, e não era a do inferno!
Alguns como
Jürgen Moltmann, autor de “Teologia da Esperança” não chegam a afirmar
categoricamente a reconciliação universal, mas deixam aberta a porta da
possibilidade de que esta seja a vontade de Deus. "Não prego a
reconciliação total, prego a todos a reconciliação na cruz de Cristo”, declarou
o teólogo suíço. “Não anuncio que todos serão remidos, mas confio que a
mensagem será anunciada até que todos se salvem. Se o futuro de Deus se chama
realmente: eis que faço novas todas as coisas, todos estão convidados e ninguém
está excluído. Mesmo para aqueles que rejeitam o convite ele continua de pé,
pois vem de Deus. Eu não sou um universalista, mas Deus pode sê-lo. Eu não
ensino a reconciliação total, mas também não nego. Deus não sossega até que
todas as suas criaturas, como o filho pródigo da parábola, tenham retornado a
seu seio.”
Durante muito
tempo, estive entre estes. Torcia para que fosse verdade. E acho que este
deveria ser o desejo de todo discípulo de Cristo. Até que um dia, deparei-me
com um verso que deixa claro que esta não era apenas a minha vontade, mas a
vontade do próprio Deus. A partir daí, deixei de torcer para que tal possibilidade
se comprovasse verdadeira, e passei a pregá-la em alto e bom tom, mesmo correndo
o risco de ser mal interpretado. Refiro-me à maravilhosa passagem que diz que
Deus “quer que todos os homens se
salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4). Esta passagem
é confirmada pelo testemunho de Pedro de que Deus não quer “que ninguém se
perca, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pedro 3:9).
Uma coisa sou eu querer. Outra coisa é Deus querer.
Quem poderá impedir que Seu desejo se cumpra? “Operando eu, quem impedirá?” (Isaías
43:13).
E se alguém insiste em que as coisas só possam ser
resolvidas durante nosso prazo de vida, dou-lhe a resposta dada pelos santos
lábios de Jesus: “Quem crê em mim, ainda
que esteja morto, viverá” (João 11:25). Quem diria que alguém já estando
morto, ainda assim, poderia crer?
Chegará o
momento em que já não haverá razão para que o inferno exista. Seu destino está
selado. Ele terá que devolver os que nele estiverem, e por fim, será lançado no
lago de fogo (Apocalipse 20:13-14). O inferno deixará de ser.
Sabe quando você
decide apagar um arquivo de seu computador? Ele primeiro vai para a lixeira.
Mas ainda está ali, na memória da sua máquina. Até que você resolva deletá-lo
de uma vez, de modo que jamais possa recuperá-lo. De igual modo, toda
existência que houver sido desperdiçada pelo egoísmo, será banida, aniquilada
para sempre, juntamente com o inferno no lago de fogo.
Se puder
enumerar vantagens (detesto este termo), posso dizer que os que creram durante
sua vida terrena serão preservados íntegros, corpo, alma e espírito por toda a
eternidade (1 Tessalonicenses 5:23). Os demais estarão como que fragmentados,
posto que sua existência terá sido descartada, mas sua essência preservada
pelos séculos dos séculos em honra às entranháveis misericórdias de Deus.
Não desperdice
sua vida! Não queira fazer escala no inferno. Um milionésimo de segundo lá vale
por uma eternidade. Viva para a glória de Deus! E só há uma maneira de fazê-lo:
vivendo para o bem de todos, gastando-se e se deixando gastar por amor.
P.S. - Já que insistem com rótulos: Calvinismo - Deus pode, mas não quer salvar a todos. Arminianismo - Deus quer, mas não pode. Universalismo - Deus tanto pode, quanto quer. Ele é tanto Todo-Poderoso, quanto Todo-Amoroso. Haveria glória maior? Todo joelho se dobrará, toda a língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor para a GLÓRIA de Deus Pai.
P.S. - Já que insistem com rótulos: Calvinismo - Deus pode, mas não quer salvar a todos. Arminianismo - Deus quer, mas não pode. Universalismo - Deus tanto pode, quanto quer. Ele é tanto Todo-Poderoso, quanto Todo-Amoroso. Haveria glória maior? Todo joelho se dobrará, toda a língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor para a GLÓRIA de Deus Pai.
Resumindo, só há dois lugares que abrigam os homens além-túmulo: o céu e o purgatório!
ResponderExcluirE o pos inferno. Como e depois do fim do inferno. A biblia tem esta informacao ? Afinal, ainda Tera vida na terra apos o inferno ?
ResponderExcluirA Bíblica Revelação do Inferno - Augustus Nicodemus (Áudio)
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=UzCisg30Qyk
Então, os dois são ótimos; o Augustus Nicodemus neste vídeo é excelente, o Hermes nestas publicações também é ótimo. Em qual acreditar?
No mais humano. Todo dogma deve se submeter à luz do que foi revelado acerca da natureza de Deus em Jesus Cristo.
ExcluirDeus é amor, por isso a misericórdia triunfa sobre o juizo.
Comente: se há fim do inferno e todos serão salvos há perdão , conversão e santificação na iminência do inferno? alguma semelhança com a doutrina católica? O que você pensa? Precisa explicar isso
ResponderExcluirTem pastores e membros pirracentos que dizem com voz de fresquinhos - "ai Hermes você esta errado" - , mas não fazem a argumentação contraditória adequadamente.
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