Páginas

sexta-feira, março 13, 2015

Eu sairia às ruas dia 15 se...



Se a reivindicação fosse por uma reforma política ampla que acabasse com o financiamento de campanhas políticas por parte de empresas, principalmente as que participam de licitações públicas.

Se fosse para demonstrar minha insatisfação com todo tipo de corrupção e não apenas a que envolva membros de um partido em particular.

Se fosse para reclamar dos serviços públicos sucateados devido ao agressivo lobby feito por deputados eleitos para defender os interesses das operadores dos planos de saúde e dos donos de estabelecimentos de ensino privados. 

Se não tivessem o objetivo de derrubar um governo democraticamente eleito.

Se não fossem claramente estimuladas pela grande mídia que apoiou o golpe militar em 64 e sempre perseguiu governos com apelo popular.

Se não tivessem o apoio de lideranças evangélicas eticamente comprometidas.

Se a corrupção houvesse começado em 2002.

Se não percebesse os interesses inconfessáveis por trás da privatização da Petrobrás.

Se acreditasse que a privatização provocaria preços mais baixos para o consumidor. O que não aconteceu, por exemplo, com a telefonia cujos preços estão entre os mais caros do mundo.

Se concordasse que programas sociais como o Bolsa Família fossem apenas esmolas em vez de terem ajudado a tirar da miséria trinta e seis milhões de pessoas.

Se achasse que o sistema de cotas fosse sinônimo de incompetência.

Se acreditasse que a democratização da mídia fosse o mesmo que censura.

Se defendesse que direitos humanos não passam de muleta para marginal.

Se concordasse que bandido bom é bandido morto.

Se achasse que todo sem teto é um vagabundo e todo sem terra um terrorista.

Se não acreditasse que homossexuais tenham os mesmos direitos que qualquer heterossexual.

Se não defendesse a laicidade do Estado.

Se houvesse me esquecido das manchetes dos jornais dos anos 90, quando o PSDB estava no governo.

Se conseguisse me esquecer dos 170% de aumento da gasolina durante a gestão de FHC. 

Se as manifestações fossem legitimamente populares, espontâneas, e não orquestradas por empresas multinacionais,  partidos com reserva moral zero e a grande mídia para impedir o avanço de programas sociais que permitiram que as camadas mais pobres da sociedade finalmente se tornassem protagonistas de sua própria história.  

Só por isso, não sairei às ruas dia 15.

E não... desta vez o gigante não acordou, ele só está sonâmbulo.

Hermes C. Fernandes, 13/03/2015

3 comentários:

  1. Interessante o autor dizer que só apoia manifestações "legitimamente populares, espontâneas, e não orquestradas" quando há um ano reclamava dos queriam desacreditar "GRUPOS que têm estado à frente das manifestações". Refiro-me em especial àquela manifestação violenta, comandada por Sininho e sua turma que resultou no assassinato de um cinegrafista da Band. Aliás, o título da postagem, publicada neste mesmo blog, era: "Não ousem usar uma tragédia [o assassinato do cinegrafista] para inibir as manifestações". Em suma, o autor apoia, sim, manifestações orquestradas e ainda por cima violentas. E não só isso, mas insiste em que elas devem continuar. Já conhecemos o discurso: o que nós fazemos é virtude, o que eles fazem é crime; a imprensa é golpista; a culpa é do FHC, e por aí vai.
    Ah, eu não vou participar das manifestações de 15 de março.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Anônimo12:03 AM

      Falou tudo... E uma outra parte que chama atenção: "se a corrupção tivesse começado em 2002..." Então é assim, se não começou com a gente a corrupção e nos a fazemos, também somos corruptos, o problema não é a gente? So pra lembrar que a bandeira levantada por toda a historia política desses que estão hoje no poder é que "nunca iriam fazer isso e recriminavam tudo isso", logo porque hoje eles fazem e pior é considerado normal por seus seguidores? me parecem bom de historia política quando apresentam apenas as suas verdades, não avaliando todo o contexto histórico. O diferencial do movimento político desta data de hoje foi: " a oposição deste governo é o povo de bem e não determinado partido político..." Airton Junior

      Excluir
  2. Anônimo8:21 PM

    O Hermes e excelente quando escreve sobre coisas espirituais. Aprendo muito com esse site.
    Como escritor sobre política, Hermes é um esquerdista.
    Thiago

    ResponderExcluir