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quinta-feira, maio 02, 2013

Os protestantes e a política



Por Vladimir Safatle
Uma das questões maiores de nosso tempo é a relação entre religião e política. O filósofo italiano Giorgio Agamben, em seu livro O Reino e A Glória, foi mais longe do que o habitual no desvelamento da dependência entre as estruturas institucionais dos Estados laicos e as construções teológicas. Maneira de dizer que o campo político moderno não é o campo da laicização da sociedade, mas a esfera da secularização de construções teológicas.
Uma das consequências desse raciocínio está na consciência de que talvez nossas sociedades ocidentais nunca consigam se livrar da matriz teológica que nos constituiu. O que coloca questões importantes para aqueles que compreendem como o desafio maior para os processos de modernização social encontra-se na desativação do conservadorismo político, moral e de costumes patrocinado  atualmente pelas igrejas.
Nesse sentido, vale a pena insistir em uma estratégia que não consiste simplesmente na desqualificação dos discursos teológicos enquanto matrizes para a vida social. Mais produtiva seria a exploração de suas tendências contraditórias.
Vejamos, por exemplo, o caso dos protestantes. Atualmente, o Brasil encontra-se diante da recrudescência da força política das igrejas evangélicas, normalmente associadas a uma pauta radicalmente conservadora em matéria de costumes e política. O que não poderia ser diferente, uma vez que as missões evangélicas que vieram para o Brasil nas primeiras décadas do século XX partiram, principalmente, de grupos profundamente ancorados no Sul dos Estados Unidos. Os mesmos grupos que hoje constituem o Bible Belt, dando suporte às alas mais conservadoras do Partido Republicano, como as famosas igrejas batistas do Sul.
No entanto, a tradição protestante contém, em seu interior, uma impressionante prática revolucionária, isso ao menos desde Thomas Müntzer, reformador líder da revolta dos camponeses contra a opressão pelos príncipes alemães. A esse respeito, Ernst Bloch escreveu um belo livro: Thomas Müntzer, Teólogo da Revolução. 
Lembremos ainda como são os protestantes que enunciarão, ao menos no Ocidente, a centralidade do direito de resistência contra a opressão. Longe de ser a simples enunciação dos direitos da individualidade liberal-burguesa, ele se funda na noção de que os valores maiores presentes na vida social podem ser objeto de problematização e crítica, o que exige a institucionalização da liberdade.
Em Calvino encontramos uma afirmação como: “Os governantes de um povo livre devem envidar todo esforço a fim de que a liberdade do povo, pelo qual são responsáveis, não desvaneça de modo algum em suas mãos. Mais do que isso: quando dela descuidarem, ou a enfraquecerem, devem ser considerados traidores da pátria”. É fato que ele evita generalizar tal consideração sob a forma de um direito geral de resistência. No entanto, a noção calvinista mostra claramente a possibilidade de uma crítica ao poder feita em nome de exigências de institucionalização da liberdade.
Essa crítica será radicalizada por setores do pensamento reformado, como o próprio Müntzer e alguns reformadores puritanos ingleses. A partir deles, o direito de resistência aparece como fundamento da vida social. Essa abertura do pensamento reformado ao problema da resistência alcançará o pensamento político. Ela será radicalizada pela tradição revolucionária francesa, que não deixará de ser influenciada pelos huguenotes.
Lembremos como uma parte significativa da luta contra a discriminação e pela desobediência civil nos EUA foi feita por pastores protestantes, como Martin Luther King Jr. Ele não lutou apenas pelo fim da discriminação contra os negros, mas também contra a desigualdade econômica e contra a Guerra do Vietnã, que ele compreendia claramente como uma guerra imperialista, a ponto de defender a reforma agrária no Vietnã do Norte.
É de Martin Luther King a afirmação de que há algo errado com o capitalismo. “Deveria haver uma melhor distribuição de recurso e talvez a América deveria ir em direção ao socialismo democrático”. Neste momento em que uma faixa dos protestantes parece abraçar despudoradamente causas conservadoras, valeria a pena meditar sobre essa outra tradição que os constituiu.
Vladimir Safatle na CartaCapital (Via Pavablog)

4 comentários:

  1. Anônimo3:52 PM

    A maior missão da Igreja é manifestar aqui e agora a maior densidade possível do Reino de Deus que vai se consumar ali e além. (Robinson Cavalcanti)

    PAIXÃO, Edson.

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  2. juscelino3:31 PM

    é amigo , né fácil não. carta de desagravo a chucha, video do joão uilis alegando não ser pedófilo(como que se fosse assumiria, "ai minha santa paciencia"), ataques a quem faz campanha(evangelicos) contra a maior fabrica de prostituiçao, lixo cultural, e toda sorte de sordidez(globo), e como se não faltasse mais nada , artigo do vLADIMIR SAFATLE. socialista capimunista de meia pataca, apaniguado do governo mais podre que já pisou nesse pais. governo patrocinador , financiador de politicas que vai em tudo contra quase tudo que se prega nas escrituras ,inclusive não demoram estarão proibindo a a profissão de fé e cristianismo. EIS O PORQUE VELHO ESTAMOS PERDENDO NOSSAS CRIANÇAS, esse filósofinho é um dos adepto de ideologias gramsista, alias qual socialista não é né?. realmente o senhor é um incognita , não dá para lhe entender..sem maldade, é só uma opniao... pois quando quer escrever sobre coisas que realmente interessam a um blog Cristão, saí de baixo.. só sai coisa boa, mas quando parte para defender os frascos e comprimidos, que não são fracos e nem oprimidos dá até medo do que realmente é sua praia. HÁ 3 TIPOS DE PESSOAS NESSE MUNDO. AS PESSOAS QUE SÃO PRATICANTES DO BEM, E AS PESSOAS QUE SÃO PRATICANTES DO MAL , essas todas merecem contemplação e deferÊncia no sentido de se manterem e ser cooptadas para o BEM. mas cuidado com AS FERRAMENTAS DO MAL(3), o senhor anda brigando muito pelas FERRAMENTAS DO MAL. e ferramenta é ferramenta, elas optam por trabalhar para o tinhoso, portanto no fundo optam ser parte dele. pelo menos é o que entendo por aqui, sem maldade, diría uma critica construtiva.

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  3. Cara tudo está mais para um militante petista do que um militante bíblico !

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  4. Anônimo6:01 PM

    Politica fede.

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