Por Hermes C. Fernandes
Ele estava tão concentrado naquele que seria um dos mais
épicos duelos registrados, que não percebeu que havia prêmios em jogo. Em sua
mente, o que estava realmente em jogo era a reputação do seu Deus. Foi esta a
sua motivação ao derrotar o brutamonte que afrontava o exército de Israel.
Após aquela memorável vitória, o menino anônimo é aclamado
herói nacional. Um mero pastorzinho rouba a cena, ofuscando a glória do seu rei.
Enciumado, o velho monarca busca uma maneira de eliminá-lo, sem que isso atente
contra sua popularidade já em vertiginosa decadência.
Para os israelitas, os créditos da vitória eram de Davi. Mas
para os filisteus, eram de Saul. Como reverter isso? Saul preferia que o seu
povo lhe atribuísse a glória, enquanto os filisteus elegessem a Davi como seu
inimigo #1.
Enquanto buscava um jeito de livrar-se de Davi, Saul
lembrou-se de que Davi não havia cobrado os prêmios prometidos a quem derrotasse Golias: riquezas, isenção de impostos para toda a sua família, e... a mão da
filha do rei. Era como ganhar na loteria e não ir descontar o bilhete. Como que por um lampejo, Saul imaginou que se Davi tomasse sua
filha como esposa, aparentando-se com a casa real, isso o tornaria num alvo
prioritário dos filisteus.
A quem ponto chega uma mente maquiavélica! Usar a própria
filha como arapuca para destruir um desafeto.
A princípio, a filha prometida seria Merade, a primogênita. Porém, Davi não demonstrou qualquer interesse. Talvez Merade não possuísse atributos estéticos que o atraíssem. Sua desculpa foi não se achar merecedor de ser genro do rei. Afinal, seu duelo contra Golias não tinha mesmo este objetivo. Desprezada por Davi, Merade acabou se casando com outro.
Chegou aos ouvidos de Saul que sua filha caçula, Mical,
estaria apaixonada por Davi. Esta seria a grande chance de liquidar de vez
aquela fatura. Desta feita, Davi argumentou que por ser de família pobre, não
teria condição de pagar o dote requerido por uma princesa. Pelo jeito, Davi não
havia requerido nem mesmo as riquezas prometidas a quem derrotasse o gigante. Mas
Saul percebeu que rolava um clima entre Davi e Mical. Pelo que insistiu e
estipulou um dote simbólico: cem prepúcios de filisteus.
Para Saul, aquela era a armadilha perfeita. Como seu
candidato a genro conseguiria tal proeza? Que filisteu se deixaria circuncidar?
Se Davi aceitasse o desafio, ele certamente seria morto.
Mical parecia valer a pena. Por isso, Davi não titubeou. Se
este era o preço estipulado pelo pai, ele estava disposto a pagar. Reunindo
seus homens, partiu em direção dos inimigos.
Como nenhum deles estaria disposto a ceder gentilmente o seu prepúcio,
Davi não teve escolha, senão... você já sabe.
Dias depois, Davi volta trazendo o dobro de prepúcios estipulados por Saul. Em vez de cem, duzentos. Era como se dissesse a Saul: Sua filha vale
mais do que você avaliou.
Se Mical era apaixonada, depois desta, ficou enlouquecida de
amor. Como não amar a quem lhe atribuiu valor maior do que seu próprio pai?
De igual modo, o apóstolo Paulo afirma que fomos “comprados por bom preço”,
razão pela qual deveríamos glorificar a Deus em nosso corpo e no nosso
espírito, os quais pertencem a Deus (1 Coríntios 6:20). Não que
valêssemos alguma coisa. O pecado destituiu-nos da glória de Deus, de maneira,
que perdemos nosso valor original. Porém, ninguém jamais nos amou como Ele.
Em vez de prepúcios, Ele pagou nosso dote com o Seu próprio sangue.
Imagine se Davi resolvesse pechinchar. Em vez de
cem prepúcios, ele ofereceria cinquenta ou até menos. Mas ele toma o caminho inverso. Em vez
de desdenhar o ‘produto’, ele o super valoriza. Seria como se puséssemos um
carro à venda, pedindo, digamos, vinte mil reais, e alguém nos oferecesse
quarenta mil.
Cristo não pechinchou conosco! Não ofereceu
contraproposta. Em vez disso, pagou o mais alto preço que alguém poderia pagar:
Sua própria vida. Talvez por isso, Paulo se refira a isso como a "loucura de Deus" (1 Co.1:15). Seria isto uma loucura de amor?
O Escritor de Hebreus diz que Ele tinha em vista
a “alegria que lhe estava proposta” (Hb.12:2). Ele sabia que valeria a pena
cada gota de sangue, cada açoite, cada ferida. Isaías profetiza que Ele viria o
resultado de Seu sacrifício e ficaria satisfeito (Is.53:11). Em outras palavras, Ele olharia para nós e diria:
Valeu!
De acordo com Paulo, o resultado de Sua entrega
por nós, seria uma igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante,
mas santa e irrepreensível (Ef.5:27).
Foi pela igreja, o embrião da nova humanidade,
que Cristo pagou tão alto preço. Não merecíamos nem ao menos Sua atenção. Porém,
Ele se apaixonou por nós. Foi amor à primeira vista. Aliás, amor antes mesmo da primeira vista. Antes da fundação do mundo!
Não bastaria derrotar Golias! Davi tinha pagar o
dote. Mical não seria apenas um prêmio, mas uma conquista de amor. Igualmente,
não bastaria o que Jesus fez durante Seu ministério, Seus ensinos, Seus
milagres. Sem a Cruz, seríamos apenas um prêmio em reconhecimento por Seu
desempenho aqui na terra. Pela Cruz, nosso valor foi excedido. Ele não apenas remediou
o prejuízo que o pecado nos causara, mas atribuiu-nos valor que não
possuiríamos ainda que não houvéssemos pecado.
Abaixo, um poema que compus recentemente, intitulado "Loucuras por amor".
Que dogma questionarias por amor?
Que
loucura tu farias por amor?
Que
aventura viverias?
O
que tu arriscarias?
Quanto
que permitirias?
Como
te explicarias?
Até
onde tu irias por amor?
Quantas
voltas tu darias?
O
que desperdiçarias?
Que
pressão aguentarias?
Que
vergonha passarias?
De
quê abririas mão por amor?
O
que renunciarias?
O
que denunciarias?
Que
promessas cumpririas?
Quantas
que tu quebrarias?
A
que ponto chegarias por amor?
Que
lágrimas derramarias?
Quantas
que enxugarias?
Que
sorriso estamparias?
Que
alegria provocarias?
Quanta
dor suportarias por amor?
Que
humildade expressarias?
Quanto
orgulho engolirias?
O
que tu revelarias?
O
que tu esconderias?
Que
salto tu darias por amor?
Que
palavra tu dirias?
Que
silêncio tu farias?
Que
sonho sonharias?
De
que sono acordarias?
Que dogma questionarias por amor?
Que
teorias contestarias?
Que
interesses feririas?
Que
perigo enfrentarias?
Que
coragem exibirias?
O
que tu perdoarias por amor?
Que
pecado confessarias?
Que
vida levarias?
Que
morte morrerias?
A
que sobreviverias?
Que
canção tu comporias por amor?
Que
poema escreverias?
Que
preço pagarias?
Que
riqueza desprezarias?
Que
ordem subverterias?
Em
que mar navegarias por amor?
Que
rincões desbravarias?
Quantos
céus tu riscarias?
Que
pedido negarias?
Que
desejo atenderias?
O
amor está acima de regras e códigos.
Dentre
outros sentimentos, se destaca entre os pródigos.
Abre
vias e caminhos, nos coloca além dos pórticos.
Como
rosas entre espinhos, se esconde nos acrósticos.
Depõe
deuses do Olimpo, sejam gregos, sejam nórdicos.
Feito
ouro no garimpo, desafia os agnósticos.
O
amor é indomável, quando quer insiste, teima
É
capaz do improvável, tanto arde quanto queima
Nossa
vida é um vapor, dura tanto quanto a chama,
Mas
sua luz e seu calor eternizam o que se ama.
* Não deixe de ler a continuação desta postagem nos próximos dias.
O amor é o "cimento" e a vida da Igreja.
ResponderExcluirTodo prodígio operado na estória da Igreja tiveram suas origens no amor. Cremos que Davi não pensou na premiação pelo enfrentamento do gigante; o seu amor por Deus vislumbrava a defesa do seu exercito. A sua vitória sobre o gigante e mais o que foi lhe dado por acréscimo foi a cordial abundancia ministrada pelo amor.
Mical ficaria satisfeita pelo preço cobrado por Saul seu pai, mas, Davi, perito que era pagou-lhe o dobro do que lhe vindicara Saul.
Magnifico
ResponderExcluirDeus te abençoe;