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quarta-feira, fevereiro 25, 2015

A controvérsia da doutrina da Eleição



Por Hermes C. Fernandes


Muito tem sido debatido acerca da doutrina da eleição. De um lado, encontramos os calvinistas, defensores do direito que Deus tem de escolher quem quer que seja, sem ao menos consultar a vontade humana. Do outro, os arminianos, advogando o direito humano de ser consultado, e ter sua vontade respeitada, mesmo pelo seu Criador. Ambos vêm se digladiando há séculos. Afinal de contas, a Bíblia respalda tal doutrina? 

Não é preciso muito conhecimento do texto sagrado para dar-se conta de que tal doutrina é amplamente difundida ali. De Gênesis a Apocalipse. Mesmo o mais ferrenho arminiano terá que admitir. Ou Deus não escolheu a Noé para construir a Arca e salvar o remanescente humano do dilúvio? Ou também não escolheu a Abraão para originar a estirpe que traria Jesus ao Mundo? E igualmente não escolheu a Davi dentre todos os seus irmãos? E por aí vai…

O problema não é a doutrina da eleição em si, mas a maneira como ela tem sido exposta e defendida.

Primeiro, a eleição jamais foi um fim em si mesma, como sugerem alguns calvinistas. Mas tão-somente um meio para alcançar um fim maior. Por exemplo: Deus escolhe a Noé para garantir a perpetuação da raça humana. Portanto, um foi escolhido para o bem de todos. Deus escolhe a Abraão para que por ele e sua descendência todas as famílias da Terra fossem abençoadas. E o que dizer de Paulo, chamado por Deus de "vaso escolhido" para fazer conhecido entre os gentios o mistério do Evangelho? Mais uma vez, um foi escolhido para o bem de todos.

Apesar disso, Israel parece não ter compreendido bem sua posição como povo escolhido para benefício de todos os povos, e arrogou para si o monopólio do sagrado. Creio que justamente nesta vala que a igreja tem caído. Em nossa pobre concepção, ser eleito é sinônimo de ser os únicos com os quais Deus Se importa, os detentores do copyright de tudo quanto é sagrado, os prediletos. Ora, a mesma Bíblia que afirma nossa eleição, também declara que Deus não faz acepção de pessoas.

Costumo usar uma analogia para tentar explicar a maneira como a igreja tem se portado quanto à doutrina da eleição. A humanidade é um navio naufragante como o Titanic. Os calvinistas, preocupados em salvar sua pele, declaram terem sido escolhidos pelo comandante da nau a ocupar os botes salva-vidas. Os arminianos, por seu turno, se amotinam reivindicando o direito de serem salvos à despeito do que diga o comandante. Para eles vale o “salve-se quem puder”, ou melhor, “quem quiser”. Enquanto isso, aqueles que realmente creem na eleição esboçada nas Escrituras, reúnem-se com o comandante para consertar o navio. Nem calvinismo, nem arminianismo. Eu chamaria tal postura como “reinismo”, pois os que a defendem acreditam que o reino de Deus foi introduzido no mundo para garantir a redenção da humanidade, e a restauração de tudo quanto o pecado danificou. Dentro desta perspectiva, o último capítulo na história da redenção será o cumprimento da promessa de que “Deus seja tudo em todos” (1 Co.15:28).

Portanto, não podemos transformar a eleição numa doutrina que nutra nosso orgulho religioso, fazendo-nos acreditar que fomos preferidos, enquanto todos os demais foram preteridos por Deus. Não estou aqui defendendo que no final das contas todos serão igualmente salvos. Não vem ao caso. E sim que devemos voltar nossos esforços para alcançar a todos, ainda que alcancemos apenas a alguns. Como disse Paulo: “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1 Co. 9:22).

Qual será nossa surpresa se no final descobrirmos que muitos daqueles que se julgavam “escolhidos” estiverem entre os réprobos, enquanto que outros a quem desprezávamos, reputando-os como irremediavelmente perdidos estiverem entre os redimidos?

O fato de sermos escolhidos não deve fazer com que nos enxerguemos como tais. Devemos manter-nos humildes, e sempre dependentes da misericórdia divina. Postura semelhante era adotada por Paulo, o apóstolo que mais falou da preciosa doutrina da eleição:

“Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Por isso todos quantos já somos perfeitos, sintamos isto mesmo; e, se sentis alguma coisa de outra maneira, também Deus vo-lo revelará.” Filipenses 3:10-15

Não basta sabermos o que somos, mas também como nos sentimos com relação a isso. Não façamos da eleição uma justificativa para sentir-nos superiores aos demais. Mesmo que sejamos “perfeitos”, no sentido de que nossa debilidade é suprida em Cristo, admitamo-nos perfeitamente imperfeitos. Ainda que aos olhos de Deus a obra esteja acabada, percebemo-nos em processo de acabamento. Ele nos santificou, todavia devemos buscar a santificação. Ele nos justificou, todavia devemos encarnar a justiça do Reino de Deus. Ele nos predestinou, contudo devemos perseverar até o fim. Ele nos abençoou, porém devemos buscar ser bênção na vida de todos. Nas palavras de Pedro, devemos procurar fazer cada vez mais firme a nossa vocação e eleição, porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçaremos (2 Pe. 1:10).

Na esperança de não ser mal interpretado, ouso aqui citar Nietzsche: "Grande, no homem, é ser ele uma ponte, não um objetivo: o que pode ser amado no homem é ser ele uma passagem e um declínio. Amo aqueles que não sabem viver a não ser como quem declina, pois são os que passam."

18 comentários:

  1. Pastor Hermes, eu jugo essa doutrina calvinista uma das mais controversas do cristianismo.

    Eu creio sim na Soberania da vontade de Deus. E acredito piamente que somos transformados somente pela Graça do Senhor. E creio nestas coisas não 'de graça', mas pela Bíblia.

    Concordo também que muitos textos de apologética calvinista levam a crer ou transmitem a idéia de um apartheid - de um lado, os escolhidos; e de outros os condenados - tudo já decidido por eles e alheio a eles.

    A idéia calvinista da eleição, ao menos no meu humilde entender, sugere que Deus escolheu outros tantos - para não dizer a maioria - para a perdição eterna.

    Trocando em miúdos - Deus escolheu de antemão todos quanto seriam condenados para assim serem; então não importa o que façam e ou em que creiam, não adiantará pregar para eles, porque serão inexoravelmente condenados, pois mesmo muito antes de nascerem, Deus os projetou para serem incorrigíveis e serem condenados ao fogo eterno.

    Longe de mim dizer a Deus o que fazer, mas preciso ser franco que não consigo conceber tal idéia.

    Até porque a mesma Bíblia que fala da Soberania da vontade de Deus, declara que o Senhor não quer que nenhuma alma pereça, mas que todos venham ao conhecimento da verdade.

    Creio que a predestinação somente é 'visível', por assim dizer, ao Senhor - pois Ele, em Sua onisciência ja sabe de antemão quem vai aceitar e rejeitar Sua Graça.

    Posso estar enganado.

    E, certo ou errado sobre esta questão, oro todos os dias que Deus tenha misericórdia de mim, de meus entes queridos e de toda a humanidade.

    Um grande abraço de um irmão ainda confuso sobre tal doutrina chamada calvinismo...

    Rodrigo

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  2. Doutrina da eleicao?so em 2012

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  3. Irmão, sou uma recém chegada neste assunto, o que escreverei, sera escolhendo muito bem, minhas palavras, não para poupar, mais "fracos na fé", como deveria, más para me poupar!
    Pode ser egoísta, eu sei, más ainda sou humana e se vier uma resposta agressiva pessoal pode me afetar, não consegui chegar ainda ao clímax da mansidão!
    Nunca, nunca, vi doutrina tão odiada quanto a da eleição!
    20 anos fui armeniana até mesmo sem saber,pois tais assuntos não são abordados justamente pra não expor, a doutrina da eleição, soberania de Deus?! Só quando convém!
    Não concordo com muitas declarações de Calvino e de calvinistas bem radicais.
    Então existem calvinistas e "calvinista" e existem arminianos e "arminianos"!
    Pois em outro blog experimentei o ódio arminiano e fiquei chocada!
    Se calvinistas se gabam de ser escolhidos, arminianos se gabam de "amar" e evangelizar mais que calvinistas e quando confrontados saem do âmbito teológico para pessoal, facilmente, já vi acontecer mais de uma vez!
    Existem excelentes pastores e irmãos arminianos e ainda bem que ninguém vai pro céu mediante a crer ou não em predestinação!
    Assim me despeço do assunto, pois ontem mesmo fiz um compromisso publico, de me "retirar do blog alheio em relação a questões polemicas" assim creio que fecho com chave de ouro aqui, no genizah e no Voltemos ao Evangelho tal assunto.
    Dani Lima

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  4. Irmão, não sou calvinista nem arminiano.
    Não gosto da doutrina da predestinação e da eleição como colocadas pelos calvinistas, nem gosto dos rumos que levam o arminianismo à máxima potência.
    O irmão é o primeiro que escreve sobre esta controversa doutrina e que não me deixa indignado.
    Não posso dizer que creio como um "reinista" (isso é nova onda? rss), Mas posso dizer que o artigo do irmão lançou uma importante maneira de se ver a doutrina da da eleição.
    Vou meditar sobre o texto do irmão e postarei novo comentário em breve.
    Abraços fraternos em Cristo
    giuliano miotto
    servo em Goiânia
    http://vozdoqueclamananet.blogspot.com/

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  5. Anônimo3:19 PM

    Espero que o que o senhor chama de calvinismo se refira à interpretação equivocada da doutrina...
    Porque quando leio o próprio Calvino, vejo o desespero dele em mostrar que somos todos miseráveis pecadores, e não escolhidos triunfantes...


    Acho que esse equívoco nasce por debaterem a Eleição Incondicional antes de entenderem a Depravação Total...uma pessoa que entende a miséria espiritual da qual veio, não pode se vangloriar de perfeição alguma...


    =D
    Aline Louize

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    1. Concordo com sua colocação, Aline.
      Calvinistas não se gabam de ser eleitos mas reconhecem que os mortos em seus pecados e delitos não podem escolher serem salvos mas são alcançados da morte para vida, da perdição para salvação através da graça. Não ha nenhum mérito para o eleito, o mérito é todo dado a Deus, sua soberania e graça irresistível.

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  6. Excelente texto, ainda não tinha visto uma exposição tão bela sobre o assunto!

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  7. Anônimo5:05 PM

    o livre-arbítrio é um dom de Deus, e não apenas um dote natural não esqueçam disso tenho as materias completa sobre esse assunto mais cuidado muito cuidado.

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  8. Que bela reflexão... Compartilho deste mesmo sentimento.

    E Prossigo para o Alvo... hehe!

    Abraço!

    Robson Silva
    prossigo.blogspot.com

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  9. Anônimo2:55 PM

    Este texto deveria ir para Acadêmia de Letras.
    Quem falou que este é bom pode começar usar óculos.
    Só pode estar cego! Não tem cabimento!
    Texto cheio de contradições e confusão do escritor, que merda é isto aí!
    É péssimo este texto.
    O pior que tem muitos aí que estão precisando usar óculos, será que vcs Ô cegos não enxerga que uma salada mista este texto e é sem noção não?
    Eu prefiro ler o livro Gato de Botas que muito melhor do que isto aí que li!
    Não dá!

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  10. Anônimo2:26 PM

    Sou pastor e minha orientação teológica sempre foi direcionada ao calvinismo chegando a me degladiar com irmãos de opinião difetente em nome das doutrinas da graça. Porém, a medida em q fui amadurecendo, fui vendo de forma clara em minha e na vida daqueles q como eu, morriam (e também matavam) em nome da "verdade", q a letra mata. Enojei-me de discussões teológicas infantis e vejo q, mais importante q isso, é termos um relacjnamento vivo e real de intimidade com Deus, vivermos em prol de Seu Reino e amarmos os irmãos em Cristo e os perdidos por quem Ele entregou Sua vida.
    Este entendimento apresentado neste estudo sobre a doutrina da eleição é muito profundo e comprometido com a Bíblia. Amei.
    Que Deus continue te abençondo ricamete e Cristo Jesus. De seu irmão em Cristo,
    Douglas Barroso.

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    1. Se Deus elege algumas pessoas para salvação automaticamente os que não serão salvos, não serão por eleição de Deus, uma vez que os salvos já foram escolhidos e conseqüentemente os perdidos também. Sendo assim o caso, Lúcifer foi eleito à ser Satanás . A grande verdade é que Deus elegeu todos para a Salvação, mas tanto anjos quantos homens tem a liberdade escolher aceitar a salvação ou não. Não podemos fazer confusão entre eleição de ofício, com o ensino antibiblico da predestinação dupla(que Deus predestinou uns para a salvação e outros para a perdição). Exemplo d e eleição de oficio:Nadabe e Abiú foram eleitos por Deus para serem sacerdotes: "Os filhos de Anrão foram: Arão e Moisés. Arão e seus descendentes foram escolhidos e encarregados perpetuamente para servirem no Santo dos Santos, para consagrar as coisas santíssimas, oferecer sacrifícios, queimar incenso diante de Yahweh e o servir, e pronunciar bênçãos em seu Nome para sempre" (I Cron.23:13). Contudo, por escolherem fazerem diferente das instruções do Senhor, foram fulminados. Ou seja, de nada valeu a eleição de Deus para a salvação deles, uma vez que escolheram transgredir.
      A Palavra de Deus é explicita em afirmar que Balaão era profeta de Deus. Entretanto, Balaão escolheu o premio da injustiça(Num. 22:8,9,18,35,38-24:2,3,4,13-II Pedro 2:15-Judas 11). Deus elegeu o povo de Israel como Seu poço peculiar(Êxodo 6:7-Êxodo 19:5- Levítico 20:24,26-Salmos 135:4). Contudo, nem todos os que eram do povo da época serão salvos. Como se vê, a chamada doutrina da eleição ou predestinação dupla é diabólica, uma vez que joga na conta de Deus as desgraças do pecado, O responsável pela eleição de Satanás e seus demônios. E, faz da doutrina da salvação uma farsa, uma vez que os que serão salvos já foram eleitos independente de suas escolhas. Portanto, é o diabo que está por trás da doutrina da eleição dupla defendida pelos calvinistas.
      Osmar Ferreira-nadanospodemoscontraverdade@bol.com.br

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  11. Onisciência Divina - Nascemos segundo a vontade de Deus e Ele sabe nosso caminho futuro. Jamais iremos surpreender a Deus. Ele ordena que nasça tanto os que Ele já sabe que serão salvos, quanto os que ele também sabe que jamais alcançarão a Salvação. Eleitos segundo a vontade DELE. Antes de nascermos, nosso caminho é conhecido. "Deus não Joga com dados
    probabilísticos."
    Onisciência e Onipotência Divina, por si só depõe contra o tal Livre Arbítrio - Escolha do homem para a Salvação.

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  12. Anônimo2:42 PM

    Ou Deus não escolheu a Noé para construir a Arca e salvar o remanescente humano do dilúvio? Ou também não escolheu a Abraão para originar a estirpe que traria Jesus ao Mundo? E igualmente não escolheu a Davi dentre todos os seus irmãos?

    Mas qual o motivo da escolha de Davi , Abraão?

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  13. Anônimo2:47 PM

    Qual será nossa surpresa se no final descobrirmos que muitos daqueles que se julgavam “escolhidos” estiverem entre os réprobos, enquanto que outros a quem desprezávamos, reputando-os como irremediavelmente perdidos estiverem entre os redimidos?


    Não seria por que somente Deus conhece os corações? Foi o que aconteceu com Davi ...que estava no campo cuidando das ovelhas. Deus mesmo disse que não olha para a aparência como o homem faz.!

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  14. Graça e paz Bispo! É isso mesmo. Gostei do seu texto. A doutrina da eleição não é um fim em si. O homem é eleito, livre e responsável: 1) Assim como um só Deus ao mesmo tempo é três. 2) Assim como para Deus não existe, presente, passado e futuro. Por que a gente tem que colocar Deus num pacote equacionável e criar uma teologia sistemática pra trazer Deus pra dentro da nossa capacidade miúda de entender? Os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos. Sou Eleito e Livre. Nele fui, sou e serei salvo. É isso que a bíblia diz. Ah! Mas eu não entendo, dizem muitos, e caem ou no Calvinismo ou no Arminianismo quando a Verdade, pelo menos pra mim, está no "limbo", na distância, que há entre essas duas vertentes. Pra quê entender se o justo viverá pela fé? Não é pra entender e para experimentar. Abraço, Fabio

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  15. Anônimo6:58 PM

    É Hermes! Deus escolheu muitos profetas e reis e muitos deles falharam na sua missão no evangelho.
    Para mim não tem eleição, e sim tem que ter santificação e cumprir fielmente os mandamentos de Jesus Cristo.
    A Palavra de Deus diz que muitos são chamados e poucos escolhidos.
    A Palavra de Deus diz também que: Quem persevera até o fim será salvo, ou seja, sem santificação ninguém verá o Senhor.
    Então esta de eleição não é o resultado concreto que tu dizes.

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  16. Anônimo7:05 PM

    Hermes.
    Para por um fim nesta conversa aí só tem uma saída.
    A Bíblia diz que: Sem santificação ninguém verá o Senhor, pode ser eleito etc entendeu? A pessoa tem que santificar, separar totalmente e dizer não para o mundo e seus prazeres para ter o direito para ir encontrar com Jesus nos ares no grande dia do arrebatamento da igreja de Cristo.
    Judas era eleito por Jesus e e Judas traiu Jesus e logo após se enforcou.

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