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quinta-feira, janeiro 29, 2009

Alegria, alegria, alegria! - Parte 1

Chegara a hora de preparar os discípulos para a Sua ausência: “Um pouco, e não me vereis mais, e um pouco ainda e me vereis” (Jo.16:16). Por mais claro que Jesus fosse, os discípulos não conseguiam ( ou mesmo não queriam ) compreender Sua mensagem. Talvez fosse apenas mais uma de Suas parábolas. Que história é essa de partida? Que conversa é essa de “vou para o Pai”?

Percebendo o incômodo deles, Jesus Se antecipou a respondê-los, mesmo antes que tomassem coragem de perguntar: “Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis, e ainda um pouco, e ver-me-eis? Em verdade, em verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis enquanto o mundo se alegra. Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria” (vv.19-20).

Mais claro que isso, impossível. Não dava mais pra poupar Seus discípulos da dor. Eles teriam que aprender a lidar com a Sua ausência física.

O ser humano não logra lidar bem com a ausência. Mesmo os cristãos, cientes da vida eterna, sofrem pela perda de um ente querido. E tal sofrimento é legítimo, e não significa falta de fé. Não sofremos pela pessoa que parte, pois sabemos que ela vive e desfruta da presença imediata de Deus. Sofremos pela ausência. Como é doloroso lidar com ela. Seja a ausência provocada pela morte, por um divórcio, ou mesmo por uma viagem. É como se algo em nós fosse quebrado ou um pedaço nos fosse arrancado.

Jesus não poderia poupá-los daquela dor. Era imprescindível que Ele partisse, para que o Espírito Santo viesse. Haveria, portanto, dois momentos de ausência: o primeiro, quando Ele foi sepultado. Após três dias, Ele voltaria à vida. Por isso diz: “Um pouco, e não me vereis, e ainda um pouco e ver-me-eis”. Uma vez ressurrecto, Jesus passaria mais 40 dias caminhando com eles neste mundo. Ao cabo deste período, enquanto ainda falava com Seus discípulos, Ele fora envolvido numa nuvem e assunto ao céu. De lá pra cá, já são quase dois mil anos de ausência. Porém, Ele prometeu que estaria conosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Teria Ele Se esquecido desta promessa? De maneira alguma. Ele está ausente fisicamente, porém, através do Seu Espírito, Ele permanece entre nós.

Como Ele mesmo predisse, nossa tristeza se converteria em alegria. A satisfação de Sua presença física não pode ser comparada com a alegria provocada pela presença do Seu Espírito em nós.

Enquanto estava aqui em carne, Ele era Emanuel, isto é, Deus conosco. Agora Ele é Deus em nós, e Sua presença nos possibilita experimentar uma alegria completa.


Não se trata de uma alegria fugaz como aquela que o mundo dá. Trata-se, antes, de uma alegria permanente, que “ninguém poderá tirar” (v.22).

“Naquele dia”, garante Jesus, referindo-se ao dia em que o Espírito Santo nos fosse dado, “nada me perguntareis”. O nível de intimidade que teríamos com Ele seria de tal ordem que muitas dúvidas dariam lugar às certezas. Certeza acerca dos cuidados de Deus. Certeza de que somos amados. De que Ele jamais nos abandonará. Certeza de que o vazio da ausência fora preenchido pela presença do Seu Espírito.

Ele continua: “Em verdade, em verdade vos digo que tudo o que pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vos dará. Até agora nada pedistes em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (vv.23-24).

Em outras palavras, Jesus estava dizendo: “Não fiquem tristes por eu ter que partir. É necessário que eu vá para garantir que tudo o que vocês pedirem ao Pai, ele conceda. A presença do meu Espírito em vocês produzirá certeza de fé, de maneira que o que vocês pedirem esteja em linha com a vontade do Pai. E a minha presença física na glória do Pai será a garantia de que Ele atenderá a seus pedidos. Essa química resultará numa alegria completa para vocês. Por isso, parem de se lamentar. O que agora parece motivo de tristeza, em breve será motivo de alegria.”

É melhor uma tristeza que se converta em alegria, do que uma alegria que se converta em tristeza.

Não importa se outros se alegram, enquanto estamos tristes. Mesmo que a razão de sua alegria seja exatamente a mesma razão da nossa tristeza.

Deus sabe como transformar lágrimas de pranto em lágrimas de alegria. E Seu desejo é que nossa alegria seja plena, tanto em qualidade, quanto em durabilidade.

É a Ele que devemos recorrer para que nossos anseios sejam atendidos. Ele é a fonte de onde jorra a alegria perene.

Entretanto, nosso relacionamento com Deus é apenas o ponto de partida para que alcancemos uma alegria completa. Deixe-me explicar: Para que sejamos plenamente realizados, precisamos desenvolver uma relacionamento trinitário.

Deus é um Ser trinitário. Pai, Filho e Espírito Santo Se relacionam entre Si num vínculo perfeito de amor desde a eternidade.

O homem, por sua vez, foi feito à imagem e semelhança do Criador. E para que alcance realização plena, ele necessita desenvolver relacionamentos trinitários.

Imagine um triângulo. No ângulo superior está Deus. Nos ângulos de base estão você e o seu semelhante.

Somos seres incompletos. E nossa completude depende de nossa relação com Deus e com nosso semelhante.

Não basta estarmos bem com Deus. Temos que buscar criar vínculos de amor com nossos semelhantes, e só assim seremos pessoas plenas.
Sem esse vínculo, nossa alegria não será completa.

Em Filipenses 2:1-2, Paulo diz:

“Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai a minha alegria, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa”.

Observe que neste texto, o apóstolo aponta 7 elementos que resultam da construção de vínculos com nossos semelhantes:

1 – Conforto – Embora seja encontrado em Cristo, esse conforto se manifesta através dos relacionamentos que construímos firmados n’Ele.

2 – Consolação – É obra do Espírito Santo nos consolar. Porém, Ele nos faz instrumentos do Seu consolo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” (2 Co.1:3-4). As tribulações permitidas por Deus nos provém experiências para que possamos ajudar a outros que estiverem enfrentando o mesmo.

3 – Comunhão – Nossa comunhão com Deus deve resultar em comunhão com nossos semelhantes. Comunhão é partilha tanto de coisas espirituais, quanto de coisas materiais. Devemos partilhar nossos dons, nosso conhecimento, nosso pão. Tudo o que nos chega às mãos deve visar o bem comum, e não apenas o nosso aprazimento. “O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos (partilha do conhecimento adquirido), para que também tenhais comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que a nossa alegria seja completa” (1 Jo.1:3-4). E quando nos deparamos com alguém necessitado? De quê adianta orar por ele, se não agirmos no afã de prover-lhe o que falta? João arremata: “Quem tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, cerrar-lhe o seu coração, como estará nele o amor de Deus?” (1 Jo.3:17; leia ainda Tiago 2:15-16). Deus não vai suprir a necessidade de ninguém a não ser através daqueles em cujos corações foi derramado Seu amor (Rm.5:5).

4 – Afetos e Compaixões – Uma das maiores pragas do nosso século é a apatia. As pessoas simplesmente não se importam com o que acontece às outras. “Não é da minha conta!”, dizem alguns. Porém, o caminho da alegria completa passa pelo afeto e pela compaixão. Deixar-se tocar e se compadecer são atitudes imprescindíveis pra quem almeja vida plena. As intervenções miraculosas de Jesus sempre foram motivadas pela compaixão. Jesus nunca fez um milagre para suprir a curiosidade da platéia. Ele nunca foi dado a espetáculos. Ele Se deixava tocar por leprosos, cegos, hemorrágicos. Ele chegou a chorar diante do túmulo de Lázaro. Há tristezas que têm o potencial de se converter em alegria. Por isso, bem-aventurados são os que choram. Não por chorarem apenas, mas porque serão consolados. Temos que aprender a “chorar com os que choram”, para que na hora certa possamos celebrar com os que celebram (Rm.12:15).

5 – Mesmo modo de pensar – À medida que partilhamos o que ouvimos e aprendemos, as opiniões vão se unificando. Com isso, a discórdia acaba e a união prevalece. Daí o tom dramático no apelo feito por Paulo: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos a mesma coisa, e que não haja entre vós divisões, para que sejais unidos no mesmo sentido e no mesmo parecer” (1 Co.1:10). Se um diz “é pau”, e outro diz “é pedra”, está armada a confusão. A igreja de Cristo tem que ser o inverso da Torre de Babel. Enquanto no episódio de Babel, Deus confundiu as línguas para que aquela obra funesta fosse interrompida, em Pentecostes Deus unificou as línguas, fazendo do AMOR a linguagem do Seu reino.

6 – Amor – Não se trata de um acessório da vida cristã, mas da ênfase principal da mensagem de Cristo. No dizer de Paulo, o amor é o caminho mais excelente (1 Co.12:31). Mas como desenvolvê-lo, senão através de relacionamentos? Nossa alegria é completa quando amamos desinteressadamente. Amar é dar-se sem exigir nada em troca. Não se trata de um investimento, como alegam alguns. Trata-se, antes, da disposição em perder tudo pelo bem de quem se ama. Paulo declara: “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (2 Co. 12:15).

7 – Ânimo“Tenha bom ânimo!” Geralmente, era isso que Jesus dizia a alguém que recorria a Ele em busca de alívio para o seu sofrimento. Todos precisamos ser constantemente estimulados. Os relacionamentos que construímos provêem esse estímulo. O escritor sagrado nos admoesta: “Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb.10:24). Por isso, não devemos deixar de congregar. O ambiente congregacional é o mais propício ao estímulo mútuo. Nem mesmo uma carta, um e-mail, um recado entregue por terceiro, são suficientes. Precisamos desfrutar da presença daqueles a quem amamos. Isso nos reanima. Veja o recado que João envia através de sua segunda carta: “Tenho muito que vos escrever, mas não quero fazê-lo com papel e tinta. Antes, espero ir ter convosco e falar face a face, para que a nossa alegria seja completa” (v.12).

De maneira surpreendentemente humilde, Paulo se dirige aos irmãos de Filipos, e pede: “Completai a minha alegria” (v.2). Nem mesmo alguém como Paulo se bastava.

O triângulo relacional não estará completo enquanto um dos ângulos estiver aberto.

Ora, se sabemos que nossa alegria só é completa mediante os relacionamentos que construímos com Deus e com nossos semelhantes, devemos nos esforçar para sermos motivo de alegria para eles.

Nossa felicidade está em buscar a felicidade alheia.

Em sua segunda carta aos Coríntios, Paulo revela sua decisão em não visitá-los mais “em tristeza”. Reflita sobre suas conclusões:

“Pois se eu vos entristeço, quem é que me alegrará, senão aquele que por mim foi entristecido? E escrevi-vos isto mesmo, para que, quando lá for, não tenha tristeza da parte dos que deveriam alegrar-me. Tenho confiança em vós todos, que a minha alegria é a de todos vós” (2 Co. 2:2-3).

Em vez de ficar esperando que nossas expectativas sejam supridas, que tal se priorizarmos as expectativas daqueles que compõem nosso círculo de relacionamentos?

Não exija ser amado. Apenas, ame. Não exija satisfação. Busque satisfazer. Não exija que outros lhe façam feliz. Faço-os felizes.

Nada há mais gratificante que isso. Você descobrirá que, de fato, há maior prazer em dar do que em receber.

Busque ser motivo de alegria para todos ao seu redor. Quando você menos esperar, sua própria alegria será completa.

Continua...

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