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quinta-feira, maio 31, 2007

Uma Profecia Mal Compreendida


Zacarias 12


Essa passagem tem sido usada pelos defensores do Dispensacionalismo para defender a idéia de que Israel ainda é o povo escolhido de Deus, e que a Igreja de Cristo não o substituiu, sendo apenas um parêntese, uma espécie de plano B.

No verso 3 lemos:“Naquele dia farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos. Todos os que a erguerem certamente serão feridos. E ajuntar-se-ão contra ela todas as nações da terra”.Teria essa promessa sido transferida para a Igreja de Cristo? Vejamos o que Jesus disse aos judeus:“Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será entregue a um povo que produza os seus frutos. Aquele que cair sobre esta pedra se despedaçará, mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó”(Mt:21:43-44).

Repare no paralelo entre a promessa feita a Jerusalém e a endereçada a esse novo povo que receberia o reino:“Todos os que a erguerem certamente serão feridos”.“Aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó”.

Mera coincidência? Não.

E quanto ao fato das nações se reunirem contra Jerusalém? Ora, se Jerusalém é uma referência à Igreja, então, essa profecia tem paralelo à que Jesus disse aos Seus discípulos: "Sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome"(Mt.24:9b).

A Igreja é o Israel de Deus. Cada promessa feita a Israel, passou para a Igreja.

Por exemplo: Em Êxodo 19:6, o Senhor diz a Israel: “Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa”. Já em 1 Pedro 2:9, lemos acerca da Igreja: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”.

Estaria Deus tratando atualmente com duas nações santas? Seria Deus servido por dois sacerdócios distintos ao mesmo tempo? A resposta para ambas as perguntas é não. O sacerdócio levítico foi substituído pelo sacerdócio universal dos crentes.

No verso 7 de Zacarias 12, lemos:“O Senhor salvará primeiramente as tendas de Judá”.Isso parece concordar com o que Paulo diz:“Não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego”(Rm.1:16).Por isso, o ministério de Jesus priorizou os judeus, isto é, “as tendas de Judá”. E os próprios apóstolos priorizaram seus compatriotas.

“Ressuscitando Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós (judeus), para que nisso vos abençoasse, ao desviar-se, cada um, das suas maldades”(At.3:26).A expressão “naquele dia” encontrada em Zacarias e usada por outros profetas, aponta para o dia da “graça”, o dia da “salvação”, e esse dia foi inaugurado na cruz.

Para os eleitos, é o dia da salvação, mas para os réprobos, é o dia da vingança do nosso Deus. O verso 10 diz:“Sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o Espírito da graça e de súplicas. Olharão para mim, a quem trespassaram, e o prantearão como quem pranteia por seu filho único, e chorarão amargamente por ele, como se chora pelo primogênito”.

Ora, essa profecia encontra eco nas palavras de Joel 3, em que o Senhor promete derramar Seu Espírito sobre toda a carne. E de acordo com Pedro, o fenômeno ocorrido no dia de Pentecostes foi o cumprimento dessa profecia. Creio que Pedro tinha em mente, tanto a palavra de Joel, quanto a de Zacarias. O texto diz que “em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu”(At.2:5). Por isso Pedro, vendo que seus compatriotas faziam juízo errado do que estava acontecendo, levantou-se e disse:“Homens judeus, e TODOS OS QUE HABITAIS EM JERUSALÉM, seja-vos isso notório; escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. Mas ISTO É o que foi dito pelo profeta Joel: No últimos dia, diz Deus, do meu Espírito derramarei sobre toda a carne...”(At.2:14b-17a).

Aquele era o “Espírito de Graça” que seria derramado sobre Jerusalém.
Pedro prossegue em seu sermão:“Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus de Nazaré, homem aprovado por Deus (...) Este homem vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes, e matastes pelas mãos de injustos”(At.2:22a,23).

E qual foi o resultado desse sermão após o derramamento do Espírito da Graça? “Ouvindo eles isto, COMPUNGIRAM-SE EM SEU CORAÇÃO”(v.37a). E assim, cumpriu-se: “Olharão para mim, a quem trespassaram, e o prantearão como quem pranteia por seu filho único, e chorarão amargamente por ele, como se chora pelo primogênito”.“Olhar” tem o sentido de ter os olhos espirituais abertos, o entendimento iluminado. “Olhai para mim sereis salvos”, disse o Senhor por intermédio de Isaías.

O capítulo 13 de Zacarias começa dizendo que “naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi, e para os habitantes de Jerusalém, contra o pecado, e contra a impureza”. Quem é essa fonte, senão o próprio Espírito Santo? Quando essa fonte irrompeu-se? No Dia de Pentecostes. Isso nos remete para a promessa feita por Jesus de que aquele que n’Ele crer, do seu interior fluirão rios de água viva. Em Zacarias 14:3-4 lemos:

“Então O SENHOR SAIRÁ, e pelejará contra estas nações, como quando peleja no dia da batalha. Naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente". Com que arma o Senhor peleja contra as nações? Apocalipse responde:“Da sua boca saía uma espada afiada, para ferir com ela as nações"(19:15a).

Não podemos interpretar isso literalmente. Seria, no mínimo, cômico, ver uma espada literal saindo da boca de Cristo. Ora, essa espada nada mais é do que a Palavra de Deus, a que Paulo chama em Efésios 6 de “Espada do Espírito”. É com ela que o Senhor vence as nações, e as submete aos Seus pés. E isso se dá através do avanço da Igreja que por meio do anúncio do Evangelho, discipula as nações. Quando diz que o Senhor sai a pelejar contra aqueles que se reúnem contra Jerusalém, o foco é o compromisso que o Senhor tem de defender o Seu povo, a Sua Igreja. É o Senhor que nos defende das investidas do inimigo. Não se trata de uma luta com armas bélicas, mas de um bom combate da fé: de um lado, as forças do mal, as inverdades, as trevas. Do outro lado, os soldados de Cristo, revestidos da Armadura de Deus, descrita em Efésios 6.

Em Joel 3:2 lemos:

"Congregarei todas as nações, e as farei descer ao vale de Jeosafá; e ali com elas ENTRAREI EM JUÍZO, por causa do meu povo, e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam por entre as nações; repartiram a minha terra".

O vale de Josafá não pode ser localizado geograficamente. Ele também é chamado de "vale da decisão". É para lá que as nações estão sendo conduzidas pelo Senhor. Elas terão que DECIDIR entre submeter-se ao Cristo de Deus, ou recusá-lo. As que se recusarem a adorá-Lo serão quebradas como vasos de barro.

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