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segunda-feira, março 05, 2018

"Esta foi por pouco!" - A maldição do QUASE LÁ



 Por Hermes C. Fernandes

Quantos cânticos que entoamos em nossos cultos referem-se a Cristo como o “Leão da Tribo de Judá”? Porém, poucos conhecem a razão pela qual Ele recebe esta designação.[1] A explicação mais corriqueira é a que diz que isso se deve ao fato de que Jesus seria proveniente desta tribo de Israel.  Entretanto, gostaria de propor um aprofundamento desta questão.

Judá foi o quarto filho de Jacó com sua primeira mulher, Lia, a desprezada. Ora, Jacó teve doze filhos, que mais tarde originariam as doze tribos de Israel. Apenas dois deles nasceram de Raquel, a sua amada, e o parto do último deles, Benjamim, provocou a sua morte. Jesus bem que poderia ter descendido de um dos filhos de Raquel, fosse José ou Benjamim. Porém, Deus tinha outros planos. Seu Filho viria da descendência de um dos filhos da desprezada.

Mas por que Judá e não Rúben, o primogênito? Ou ainda: por que não Levi, de quem descenderiam os sacerdotes? Não era de se esperar que o Sumo-sacerdote da Nova Aliança viesse de uma linhagem sacerdotal?

Quando Lia concebeu seu primeiro filho, deu-lhe o nome de Rúben alegando que o Senhor havia atendido à sua aflição e que finalmente ela seria amada pelo seu marido.[2] Mas seu marido continuou a amar a sua irmã, e não a ela. Quando concebeu a segunda vez, chamou seu filho de Simeão, e declarou: “Porque o Senhor ouviu que eu era desprezada, deu-me também este.”[3] Neste ponto, parece que Lia já estava desistindo do amor de Jacó. Bastava-lhe o prazer de gerar filhos, o que sua irmã até então jamais tivera. Quando teve seu terceiro filho, chamou-o de Levi, e demonstrou que sua esperança havia renascido: “Agora esta vez se unirá meu marido comigo, porque três filhos lhe tenho dado.”[4] Fosse com a intenção de conquistar o amor de seu marido, ou simplesmente para recompensar a falta do seu amor, o fato é que Lia encarava tudo aquilo como uma questão particular. Porém, ao dar a luz seu quarto filho, chamou-o de Judá, e declarou: “Esta vez louvarei ao Senhor.”[5] Finalmente, Lia tirou os olhos de si mesma, e elevou-os a Deus. O que ela não podia supor era que aquele menino seria o canal de onde Deus suscitaria o Descendente prometido a Abraão, o Salvador do mundo.

Se a Bíblia compara nossos filhos a flechas[6], podemos dizer que a aljava de Jacó tinha doze flechas. O alvo era Cristo, que viria ao mundo muitos séculos depois. Se dependesse da escolha o patriarca, a flecha escolhida seria José. Mas Jacó sabia que geralmente Deus contraria a predileção humana. Ele sempre opta pelo desprezado. Por isso, a flecha escolhida por Deus para ser remetida em direção ao alvo era Judá.

Já em seu leito de morte, Jacó reuniu seus filhos para abençoá-los, e quando chegou a vez de Judá, ele profetizou:

Judá é um leãozinho. Subiste da presa, filho meu. Encurva-se, e deita-se como leão, e como leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de autoridade de entre seus pés, até que venha Siló, e a ele obedecerão os povos. Ele amarrará o seu jumentinho à vide, e o filho da sua jumenta à videira mais excelente; lavará as suas vestes no vinho e a sua capa em sangue de uvas. Os seus olhos serão mais escuros do que o vinho, e seus dentes mais brancos do que o leite.” Gênesis 49:9-12

Não precisamos de um exercício de exegese para perceber que tais palavras apontavam para Jesus. De maneira poética e profética, Jacó se refere à morte, ressurreição e reino de Cristo.

Depois de ter impedido que seus irmãos matassem a José, o caçula, sugerindo que o mesmo fosse vendido como escravo para uma caravana ismaelita, Judá os deixou de lado, e foi visitar um homem de Adulão que se chamava Hira. O texto diz que “ali Judá viu a filha de um homem cananeu, chamado Sua. Ele a tomou por mulher, e se deitou com ela. Ela concebeu e teve um filho, e o pai lhe chamou Er. Tornou ela a conceber e teve um filho, a quem chamou Onã. Continou ainda e deu à luz outro filho, cujo nome foi Selá.”[7]  Qual deles seria a flecha escolhida por Deus para dar continuidade à saga que culminaria com a vinda de Jesus ao mundo?

A Escritura diz que “Judá tomou uma mulher para Er, o seu primogênito, e o nome dela era Tamar. Er, porén, o primogênito de Judá, era mau aos olhos do Senhor, pelo que o Senhor o matou.”[8]

Dizem que a fruta não cai longe da árvore. Então, como explicar que alguém como Judá pudesse ter um filho tão mal que Deus não apenas o rejeitou para dar continuidade à sua estirpe, mas também o matou? Logo Er, seu primogênito? Não era de se esperar que seria pelo seu primogênito que Deus traria ao mundo Aquele que é chamado de o Primogênito da Criação? Se esta lógica fosse correta, então, Judá, sendo o quarto filho, jamais deveria esperar que dele viriam os que se assentariam no trono em Israel, e sobretudo, o que estaria destinado a governar o mundo.  A lógica de Deus subverte a lógica humana.

E o pior é que Er morreu sem deixar descendente. A tradição da época[9] dizia que nesses casos, um irmão mais novo deveria tomar a viúva por esposa para suscitar descendência para seu falecido irmão. Respeitando rigorosamente à tradição, “disse Judá a Onã: Deita com a mulher do teu irmão, e, cumprindo-lhe o dever de cunhado, suscita descendência a teu irmão. Onã, porém, sabia que a descendência não seria dele; de modo que sempre que deitava com a mulher de seu irmão, derramava o sêmen na terra para não dar descendência a seu irmão. O que ele fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o matou.”[10]

O que levou Onã a agir daquela maneira? O fato de que o filho que nascesse daquela relação seria creditado a seu falecido irmão e não a ele. Onã não achava justo que o direito de primogenitura fosse transferido à criança e não a ele. O filho seria dele de fato, mas de seu irmão por direito. Logo, a maior parte da herança que seu pai deixasse se destinaria ao menino e não a ele que tomara o lugar de seu irmão morto. Tudo era uma questão de interesse. Por isso, toda vez que tinha relação com Tamar, Onã interrompia o ato para a semente fosse lançada ao chão. Desta maneira, ele se aproveitava dela como mulher, obtendo prazer carnal, mas não lhe proporcionava a concretização do propósito de tal ato, que era o de suscitar descendência a seu irmão.

Como Onã, há muitos que fazem do prazer e do interesse pessoal os alvos de suas vidas. Prazer a curto prazo, lucro a médio prazo. Não há propósito. Não há um ideal altruísta. Não pensam no futuro, num alvo que vá além do alcance de suas próprias existências. Tais pessoas usam umas as outras, mas desviam a flecha do alvo ou obstruem seu caminho. São sabotadores do futuro. Às vezes por uma questão de glória, acham que não devem “colocar azeitona na empada dos outros”. São incapazes de enxergar alguma razão para se esforçarem tanto, já que outros que ficarão com o crédito.

Se Tamar não concebesse, o direito de primogenitura seria transferido a Onã, proporcionando-lhe herdar a metade dos bens de seu pai. Então, por que aceitou deitar-se com ela? No pensar de Onã, ele abateria dois coelhos com uma só cajadada. De uma só vez, ele supriria sua luxúria e sua avareza. É plausível imaginar que Onã driblasse sua consciência alegando que seu irmão era mal, razão pela qual Deus o teria matado. Portanto, não fazia sentido perpetuar sua memória e suscitar-lhe descendência. Porém, a maldade de uns não deve justificar a sabotagem de outros. O mesmo Deus que julgou a Er pela sua maldade, julgou igualmente a Onã por sua iniquidade.

Assim como Onã interrompia o coito e derramava sua semente no chão, há quem interrompa o fluxo natural das coisas e desperdice sua semente derramando-a no lugar errado. Não há nada errado com o chão. Qualquer semente que for lançada nele poderá germinar, menos a humana. Para cada propósito, há um lugar específico. Para cada semente, há um solo ideal.

Além disso, não adianta começarmos bem, mas não terminarmos, ou terminarmos mal. Faríamos bem se tomássemos como exemplo Aquele que em nós começou a boa obra e que a completará no prazo determinado pelo Pai.[11] Ele jamais interrompe o que começou.

Judá teria que tomar alguma providência. O que estava em jogo não era apenas a manutenção da família e a distribuição da herança, mas a vinda do Messias muito tempo depois. Por isso, sua visão teria que ter longo alcance. Não bastava resolver um problema imediato; tinha-se que garantir a execução dos propósitos divinos para o futuro.

Restava a Judá um único filho ainda na adolescência. Seria dele a missão de perpetuar a sua estirpe?Vejamos:

Então  disse Judá a Tamar, sua nora: Permanece viúva em casa de teu pai, até que Selá, meu filho, venha a ser homem. Pois pensava: Para que não morra também este, como seus irmãos. Assim se foi Tamar e morou em casa de seu pai.” [12]

Talvez Judá até pudesse liberar seu caçula para a nobre missão, porém, seu receio era que ele tivesse o mesmo fim que seus irmãos mais velhos. Afinal, Selá era a última flecha que restara em sua aljava. Talvez o problema estivesse em Tamar. E se ela fosse uma espécie de “viúva negra”? Não duvido que tudo isso tenha passado pela cabeça de Judá, que por sua vez, resolveu empurrar com a barriga e tirar seu último filho daquela aparente enrascada. “Vamos esperar que o menino alcance a vida adulta. Volte para casa de seus pais e espere que eu lhe chame de volta assim que ele estiver pronto”, desculpou-se com sua nora. Sem alternativa, Tamar retornou à casa de seus pais.

Depois de muito tempo, morreu a filha de Sua, mulher de Judá. Depois de consoloado, Judá subiu aos tosquiadores de suas ovelhas, em Timna, ele e Hira seu amigo, o adulamita. E avisaram a Tamar, dizendo: O teu sogro sobe a Timna para tosquiar as suas ovelhas.”[13]  Agora Judá e Tamar tinham algo em comum: a viuvez. Ambos haviam perdido as pessoas a quem amavam. Avisada da presença do sogro, Tamar resolve tomar uma atitude inusitada.

Então ela se despiu dos vestidos da sua viuvez e se cobriu com o véu para se disfarçar, e assentou-se à entrada de Enaim, no caminho de Timna. Pois via que Selá já era homem, e ela não lhe fora dada por mulher. Vendo-a Judá, teve-a por prostituta, pois ela havia coberto o rosto. Não percebendo que era a sua nora, ele se dirigiu a ela no caminho, e lhe disse: Vem, deixa-me dormir contigo. E ela lhe perguntou: Que darás para dormires comigo? Disse ele: Eu te enviarei um cabrito do rebanho. Perguntou ela: Dar-me-ás penhor até que o envie?” [14]

Tamar estava desesperada. Naquela sociedade, uma jovem viúva, sem filhos, não teria opção, senão entregar-se à prostituição. Era a única maneira de sobreviver. Era vergonhoso voltar para casa dos pais, como Tamar fizera. A cobrança social era enorme. Sua única esperança era que Judá cumprisse sua promessa, permitindo que seu filho caçula a tomasse por mulher. Porém, esta promessa jamais foi cumprida e, pelo jeito, não havia por parte de Judá a menor intenção de cumpri-la. Ela, então, resolve correr todos os riscos. Disfarçada de prostituta, fica à espreita, esperando por seu sogro. Aquela era sua única chance.

Judá caiu feito um pato. Triste e carente por haver perdido sua esposa, deixou-se encantar por aquela jovem cujo rosto estava escondido por trás do véu. Menina esperta, perguntou a Judá o que lhe daria como recompensa por aquela noite. Este prometeu-lhe enviar um cabrito. Insatisfeita, Tamar pediu que lhe desse alguma garantia. Como penhor, Judá lhe deixou o selo (anel), o cordão (provavelmente o cinto) e o cajado. Por não tê-la reconhecido, aceitou o trato, deitou-se com ela e a engravidou. O que Tamar não obteve de Er, nem tampouco de Onã, ela obteve de Judá, seu sogro: a tão sonhada gravidez.

Imagine um jogo de futebol.  Uma jogada ensaiada é armada. Os jogadores envolvidos dão passes precisos, começando lá trás pelo zagueiro capitão do time, até chegarem próximo à rede do time adversário. O técnico os orientou a fazer de tudo para colocar a bola nos pés do principal artilheiro do time. Driblaram um, dois, três, e, finalmente, quando dariam o último passe, aquele que colocaria a bola no pé do goleador, ele sofre uma falta e sai machucado do campo. Er está fora do jogo! Hora da cobrança de falta. O técnico orienta ao jogador que vai bater a falta a lançar a bola na direção de outro estrategicamente posicionado. Mas este tem outra ideia. Recusando-se a dar a outro a oportunidade de ter seu nome escrito no placar, resolve chutar direto para o gol. Onã quer os créditos! Quer ver seu nome cantado pela torcida. Mas para a decepção de todos, ele chuta para fora! Por orgulho, desperdiça uma baita oportunidade de vitória. Quando a bola é arremessada ao campo pelo goleiro adversário, cai no pé do zagueiro capitão do time. Vendo que o campo estava aberto, resolve arriscar e chutar na direção da rede, e, surpreendentemente faz o gol da vitória. O mesmo que começou a jogada anterior que não culminou em nada, toma para si a responsabilidade e mete a bola na rede. É o nome de Judá, o zagueiro capitão do time, que é estampado no placar e gritado pela torcida. Às vezes, quando os da nova geração não assumem seu papel, os veteranos da geração anterior são convocados a assumi-lo.

Dias depois, Judá enviou por mãos de seu amigo adulamita o prometido presente para que se resgatasse o penhor. Mas o seu amigo não a encontrou. Ninguém na localidade havia ouvido falar de que ali houvesse uma prostituta. Sem ter mais o que fazer, Judá acabou desistindo de resgatar seus objetos, confiando na discrição daquela que supunha ser uma prostituta.

Três meses se passaram, até que alguém viesse ao seu encontro para avisar que sua nora aparecera grávida. Sem titubear, Judá ordenou que se lhe aplicasse a pena capital, uma vez que isso comprovava que ela adulterara. Para todos os efeitos, ela estava prometida ao seu filho caçula. Portanto, aquela gravidez desonrava sua família. A ordem era executá-la numa fogueira. Mas enquanto era tirada para fora de sua casa, Tamar mandou dizer a seu sogro: “Do homem de quem são estas coisas eu concebi. E disse mais: Reconhece de quem é este selo com o cordão e este cajado? Reconheceu-os Judá, e disse: Mais justa é ela do que eu, porque não a dei a meu filho Selá. E nunca mais a conheceu.”[15]

Assim, sua vida foi poupada, e não apenas isso, a estirpe que traria Jesus ao Mundo foi preservada. Nenhum dos três filhos que Judá havia tido com a mulher cananeia entrou na árvore genealógica de Jesus. Deus tinha outros planos. Por mais que nos pareça incompreensível do ponto de vista moral e ético, o fato é que o propósito de Deus prevaleceu.

É de Jó a declaração: “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.”[16] Não há plano B! Deus não interrompe nada que começou a fazer, até que Seu propósito seja alcançado. Por isso, Ele nos dá três garantias simbolizadas nos objetos que Judá deixou como penhor para Tamar. O selo que era uma espécie de anel/carimbo com que autenticava qualquer documento de propriedade representa o “selo do Espírito Santo”[17]. Nas palavras de Paulo, ele é “o penhor da nossa herança, para redenção da propriedade de Deus.”[18]Estamos selados! Como cartas de Cristo, somos invioláveis. Nosso remetente garantiu que nada nos impediria de chegar ao destino que Ele mesmo traçou. O cajado representa os cuidados pastorais de Cristo, o Bom Pastor. Temos nele a garantia de que se nos extraviarmos, se nos desviarmos da rota, Ele mesmo virá em nosso socorro e nos resgatará. O Bom Pastor jamais desiste das Suas ovelhas. Ele as reconhece pelo nome! [19] E, finalmente, o cordão representa a igreja, isto é, a comunidade daqueles que andam em concordância. Ninguém dá conta de seguir sozinho. Por isso, o sábio Salomão nos admoesta dizendo que “melhor é serem dois do que um (...) porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante (...) o cordão de três dobras não se quebra facilmente.”[20]Jesus garantiu que onde estivessem dois ou três reunidos em Seu nome, ali Ele estaria.[21] E que se dois concordassem acerca de qualquer coisa aqui na terra, teria sido igualmente concordado lá no céu.[22] De que outras garantias precisaríamos além dessas? Temos Cristo acima de nós, pastoreando-nos, afugentando com Seu cajado qualquer lobo que se aproxime; temos o Espírito em nosso interior testificando conosco; e temos a companhia de nossos irmãos nos estimulando “ao amor e às boas obras.”[23]Deus nos cercou de garantias por todos os lados.

O texto prossegue com um desfecho surpreendente: “Estando ela para dar à luz, havia gêmeos em seu ventre. Dando ela à luz, um pôs fora a mão, e a parteira tomou um fio escarlate e o atou em sua mão, dizendo: Este saiu primeiro (era assim que se garantia o direito de primogenitura no caso de gêmeos). Mas, recolhendo ele a mão, e saindo o outro, ela disse: Como tens tu rompido! E lhe chamara Perez. Depois saiu o seu irmão, em cuja mão estava o fio escarlate, e foi chamado Zerá.”[24]  Perez significa “o que rompe”, enquanto Zerá significa “o que se eleva”. Pois foi justamente Perez, o último que se tornou o primeiro, que deu prosseguimento à estirpe que traria ao mundo o Filho de Deus. Por isso lemos na genealogia de Jesus de acordo com Mateus: “Abraão gerou a Isaque, Isaque gerou a Jacó, Jacó gerou a Judá e seus irmãos, Judá gerou DE TAMAR a PEREZ (…)”.[25]

A sociedade humana gosta de etiquetar seus componentes. As pessoas são avaliadas por sua posição social, pelo berço em que nasceram, pela educação que receberam, por terem chegado em primeiro lugar em algum concurso, por se destacarem em suas atividades. Porém, Deus contraria todas as expectativas humanas, subvertendo a ordem estabelecida.

Como Zerá, muitos são os primeiros a se apresentarem. Não pensam duas vezes antes de estender o braço e se voluntariar. Todavia, na hora H, encolher o braço e voltam para a sua zona de conforto. Outros, porém, como Perez, não são os primeiros na lista dos que se disponibilizam, mas são aqueles com se lançam de corpo e alma sem se preocuparem com as etiquetas que o mundo impõe. Não importa quem ficou com a fita escarlate. Não importa quem recebeu os créditos pela obra. Não importa quem saiu na frente. Não importa nem mesmo que lugar no pódio da vida irá ocupar. O importante mesmo é cumprir o alvo de sua existência. Que atentemos para a exortação apostólica: “Agora, porém, completai a obra, para que, assim como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento, segundo o que tendes.”[26]

É como na parábola dos dois filhos contada por Jesus. O primeiro diz “sim, senhor!” ao pai que pediu que fosse ajudar na vinha. Mas no caminho, pensou direitinho e resolveu tomar outra direção. O segundo filho, porém, disse não ao pai, mas se arrependeu no caminho e dirigiu-se à vinha para ajudar na colheita.[27]

Interessante notar que somente quatro mulheres aparecem na genealogia de Jesus, e dentre elas, Tamar. As outras três são Raabe, a prostituta que acolheu os espias enviados por Josué a Jericó, Rute a moabita viúva que se casou com Boaz, e Bate-Seba, cujo nome não aparece, porém é mencionada como a que fora mulher de Urias, e que gerou de Davi a Salomão.

Por que não se faz referência a Sara, mulher de Abraão? Por que não se menciona Rebeca, mulher de Isaque? Ambas cheias de virtudes. Deus não precisa Se explicar para ninguém. São os Seus propósitos que prevalecem, a despeito da opinião que tenhamos. E nisso se destaca a graça, e não os méritos humanos. 



[1] É em Apocalipse 5:5 que lemos que Ele é “o Leão da Tribo de Judá, a raiz de Davi”.
[2] Gênesis 29:32
[3] v. 33
[4] v. 34
[5] v. 35
[6] Salmos 127:3-5
[7] Gênesis 38:2-5a
[8] Gênesis 38:6-7
[9] Levirato (ou levirado) é o costume, observado entre alguns povos, que obriga um homem a casar-se com a viúva de seu irmão quando este não deixa descendência masculina, sendo que o filho deste casamento é considerado descendente do morto.
[10] vv.9-10
[11] Filipenses 1:6
[12] Gênesis 38:11
[13] Gênesis 38:12-13
[14] vv.14-17
[15] Gênesis 38:25-26
[16] Jó 42:2
[17] Efésios 1:13-14; 4:30
[18] Efésios 1:14
[19] João 10:11-15
[20] Eclesiastes 4:9-12
[21] Mateus 18:20
[22] Mateus 18:19
[23] Hebreus 10:24
[24] Gênesis 38:27-30
[25] Mateus 1:2-3a
[26] 2 Coríntios 8:11
[27] Mateus 21:28-31

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